A Tok&Stok anunciou nesta semana o fechamento de duas lojas em Fortaleza. O movimento veio menos de dois anos após a concorrente Etna também ter encerrado as atividades na capital cearense e, em seguida, fechado as portas.
Depois de um período próspero durante a pandemia, o varejo vem enfrentando um momento delicado de retomada, e o segmento de móveis e decoração não escapa dessa tendência.
Com a inflação e taxa de juros altas e a renda das famílias reduzida, tem se notado um desaquecimento nas vendas, sobretudo de bens duráveis e semiduráveis. Por terem um valor de aquisição mais alto, as famílias não priorizam a compra de móveis nesse momento, trazendo, em alguns casos, prejuízo para as empresas.
De acordo com economistas, para manter as operações com altos custos, o segmento de móveis deve apostar em alavancar as vendas no meio digital e reduzir o tamanho de lojas físicas.
Fechamento de lojas
O líder do Centro de Excelência em Varejo da FGV, Maurício Morgado, explica que o varejo tem tido dificuldade de rolar dívidas no contexto atual de inflação e juros altos. Dessa forma, uma solução rápida é fechar as lojas que não estão sendo rentáveis, já que não há tempo de esperar que elas voltem a trazer lucro em meio aos altos custos.
Ele aponta que o segmento de móveis é um dos que mais sofre com esse cenário, já que o consumo das famílias é reduzido em momentos de alta inflacionária.
São compras mais longas, compromissos mais longos, geralmente parcelados. Normalmente são os setores que primeiro sofrem (móveis e automóveis). Eles demoram um pouco mais para se recuperar porque têm um investimento grande”.
Apesar disso, ele afirma que as situações da Etna e da Tok&Stok não são iguais.
“O caso da Etna era diferente, porque o conceito dependia muito de mercadoria importada, muita novidade. Tem que considerar também que os donos da Etna são os mesmos donos da Vivara, entre o negócio mais tranquilo que eles tinham e esse outro, é relativamente fácil de entender por que eles desistiram”, pondera.
O professor do curso de economia da Universidade Mackenzie, Julian Portillo, relaciona que o endividamento das Americanas também teve um papel importante no cenário complicado que o varejo atravessa.
“Tem o caso da Americanas que leva um pouco uma percepção do mercado, quem vai querer investir em ações de varejo pensando que pode acontecer algo análogo à questão da Americanas?”, questiona.
Segundo ele, o fechamento de lojas pode ter relação com um despreparo das empresas para lidar com a volta da atividade econômica e com os novos hábitos de consumo pós-pandemia. Ele também destaca que o custo do aluguel nos shoppings se tornou mais alto, tornando inviável manter lojas não lucrativas.
Reacomodação aos novos tempos
Para Portillo, o varejo como um todo passa por um momento de reacomodação, no qual pode ser normal a priorização de certas lojas para readequar o público de consumo. Parte dessa adaptação também pode incluir um foco ou migração para canais digitais.
Ele traz como exemplo a Mobly, startup de móveis que surgiu apenas online e que agora está começando a abrir lojas em São Paulo. Esse também pode ser um caminho para a Tok&Stok.
Como o caso da Mobly, que surgiu no digital e hoje tem loja física, pode ser que a Tok&Stok mude seu perfil e vá mais para o digital. Tem que ver como vai ser essa reestruturação no médio e longo prazo, não dá para afirmar agora”.
Para Maurício, a tendência é que ocorra uma redução no tamanho das lojas, utilizando o online como apoio e reduzindo a necessidade de estoque físico.
“O que tem mais chance de acontecer é uma diminuição do tamanho das lojas. A possibilidade da venda online faz com que as lojas grandes percam o sentido. Vale a pena estudar o online dessas lojas grandes, que pode funcionar como um ponto de troca e informação sem a necessidade de ter tanta mercadoria nas lojas”, coloca.
A Tok&Stok fechará duas das três unidades na Capital. No Ceará desde 2001, a rede varejista de móveis e decoração ainda continuará com uma operação no Shopping RioMar Fortaleza.
A notícia gerou alvoroço entre os consumidores cearenses, que lotaram as lojas da marca em busca das promoções de encerramento, na manhã dessa quarta-feira (12).
Histórico da Tok&Stok no Estado
Com investimento de R$ 7 milhões, a primeira loja da marca foi instalada na Avenida Washington Soares, em dezembro de 2001. Na época, a chegada empresa saiu nas páginas do jornal impresso do Diário do Nordeste. Veja:
Já em 2014, a varejista abriu a segunda unidade no RioMar, a qual será mantida na Capital. Após sete anos, em 2021, após o boom de vendas na pandemia, a Tok&Stok abriu a primeira loja no modelo conceito, no Iguatemi.
Quais outras empresas do setor saíram de Fortaleza?
Em agosto de 2021, a varejista Etna também fechou a única loja que mantinha em Fortaleza. No ano seguinte, a empresa anunciou a saída do País.
A Eugênio Móveis, lembrada até hoje pela propaganda que marcou os cearenses, também fechou as portas. O estabelecimento ficava na Avenida Jovita Feitosa, no bairro Parquelândia, na Capital.