Com mercado aquecido, setor da construção sofre com falta de mão de obra

Mais de 70% das empresas têm dificuldade para contratar trabalhadores qualificados

Depois de superar um período de demanda insuficiente de obras, o setor da construção enfrenta um novo problema limitante: a falta de mão de obra. No Ceará, há demanda por profissionais do nível básico ao alto nível de capacitação. 

A escassez de mão de obra qualificada é a maior queixa das empresas do setor, segundo Sondagem da Construção do FGV IBRE. A reivindicação vem crescendo e ultrapassou a falta de demanda por obras em julho deste ano. 

O número empresas da construção que tiveram dificuldades em contratar trabalhadores qualificados nos últimos 12 meses passou de 10,7% para 71,2% em três anos.

Para contornar o obstáculo, as empresas de construção pesada precisam 'importar' mão de obra de outras cidades ou estados, segundo o Sindicato da Indústria da Construção Pesada do Ceará (Sinconpe-CE) precisa. 

“Isso encarece a operação, pois inclui se custos de acomodação de quem mora longe, transporte intermunicipal ou interestadual, já que colaboradores ficam 30 dias longe de suas residências”, comenta Eduardo Aguiar Benevides, vice-presidente financeiro do Sinconpe-CE.

Ele comenta que o sindicato tem realizado programas de treinamento de operadores de máquinas para capacitar mais profissionais nas funções mais procuradas. 

O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Ceará (Sinduscon-CE), Patriolino Dias, aponta que a possível falta de renovação da força de trabalho tem preocupado das construtoras. 

“A gente vem sofrendo com falta de mão de obra no geral, não só especializada. Antigamente, a média dos trabalhadores nas obras girava entre 25, 28 anos. Hoje essa média já passou dos 40 anos”, afirma.

Patriolino aponta que a capacitação necessária é realizada pelas próprias empresas e que está sendo feito um trabalho de sensibilização para atrair profissionais jovens para o setor.

Mercado aquecido e emprego em alta

O desafio cresce com o aquecimento da indústria da construção, impulsionada principalmente pelo Minha Casa, Minha Vida, e a taxa de emprego recorde do Brasil, explica Ana Maria Castelo, coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre.

A especialista aponta que, para evitar o risco de paralisação de obras, as construtoras devem aumentar a produtividade da força de trabalho, a partir de técnicas atualizadas, e se tornar mais atrativo para públicos diversos, inclusive as mulheres. 

“O setor da construção civil ainda é muito artesanal. A utilização de processos industrialização ainda é relativamente baixa. Essa é uma demanda importante nessa conjuntura, para evitar que, a cada ciclo de crescimento, o setor sofra com a questão da mão-de-obra”, comenta. 

As principais medidas adotadas pelas empresas são aumento de remuneração, investimento em treinamento e deslocamento de equipes entre obras e regiões. Mesmo com a dificuldade de encontrar profissionais qualificados, as empresas sinalizam que devem continuar contratando mais que demitindo. 

O mercado de trabalho vai continuar aquecido e essa questão deve permanecer por um tempo. A consequência disso tem sido os aumentos de custos, o Índice Nacional do Custo de Construção (INCC) de mão de obra tem alta acumulada de mais de 7%, acima da inflação"
Ana Maria Castelo.
Coordenadora de Projetos de Construção do FGV Ibre

INDÚSTRIA DO CEARÁ TERÁ DEMANDA DE 360 MIL PROFISSIONAIS 

O setor industrial do Ceará tem demanda formativa de 380 mil profissionais para o período de 2025 a 2027, conforme o Mapa do Trabalho Industrial, produzido pelo Observatório Nacional da Indústria. 

A maior parte da demanda é por profissionais em treinamento e desenvolvimento: 316 mil profissionais que precisarão investir em aprimoramento para se manterem competitivos. 

A necessidade de profissionais com formação inicial, por outro lado, será bem menor. Cerca de 64 mil profissionais devem substituir quem sai do mercado ou ocupar novas vagas criadas.

O setor da construção tem a segunda maior demanda de formação: 40.622 profissionais, em sua maioria com treinamento e desenvolvimento. Os setores de logística e transporte e couro e calçados também terão forte demanda nos próximos anos. 

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Com o desenvolvimento de novas formas de edificação, a área da construção envolve competências cada vez mais especializadas, ressalta Sônia Parente, gerente de Educação Profissional do Senai-CE. 

“O profissional pode fazer uma formação inicial e se tornar pedreiro. Já para ter treinamento e desenvolvimento, precisa ampliar suas competências e agregar, por exemplo, o revestimento cerâmico”, aponta. 

A especialista aponta que os dados de demanda profissional da construção cearense estão dentro do esperado, considerando a evolução do setor.

“Os profissionais não podem ficar atreladas a preconceitos de que trabalhar na área da construção civil é um trabalho extremamente manual. É preciso realmente procurar profissionalização e formação, porque emprego tem no setor”, ressalta.