O grupo Qair Brasil vai inaugurar, ainda neste mês, a fase inicial do complexo eólico Serrote, no município do Trairi. Segundo a empresa, a usina terá capacidade instalada de 205 megawatts (MW) e, ao todo, demandará investimento de R$ 1,8 bilhão.
O presidente da Qair Brasil, Armando Abreu, detalha que uma nova etapa do complexo eólico, com mais 121 MW, entrará em operação até o fim do ano. Já a usina solar, também parte do projeto, com potência de 101 MW, terá a construção iniciada em junho e deve passar a produzir energia no primeiro trimestre de 2021.
Em até 10 anos, o presidente da Qair Brasil projeta investir de R$ 5 bilhões a R$ 10 bilhões no Ceará e no restante do Brasil.
"Tivemos um apoio muito grande do financiamento de longo prazo do BNB. O Banco do Nordeste tem sido um excelente parceiro nessa área financeira e, se não fosse o BNB, a execução desses projetos seria muito mais difícil. É óbvio que temos o BNDES, a Sudene, mas o BNB continua a ser a grande mola impulsionadora dos grandes projetos de energia no Ceará", ressalta Abreu.
Ele detalha que cerca de 60% do investimento necessário para o complexo em execução no Trairi foi financiado pelo banco, enquanto os 40% restantes são recursos próprios.
Geração de empregos
No pico das obras, o presidente da Qair Brasil revela que o número de empregos diretos gerados chegou a 1,1 mil, sendo cerca de 700 postos de trabalho preenchidos com mão de obra local.
"Nós consideramos uma obrigação da empresa tentar privilegiar os empregos locais. Em todos os contratos que nós fazemos com subcontratados, nós colocamos uma exigência de dar o direito de preferência a mão de obra local. Desde março de 2020, estamos em obras e isso foi muito importante para a economia local".
A empresa, subsidiária do grupo Qair Internacional, presente em 16 países, ainda possui sede brasileira em Fortaleza, onde trabalham cerca de 110 colaboradores.
Sobre a escolha da Capital cearense para sediar as operações da marca no Brasil, Abreu explica que, além do elevado potencial eólico e solar, o Estado ainda possui atrativos, como os hubs aéreo, marítimo e tecnológico.
Clientes e projetos futuros
O Cluster Híbrido Serrote, em todas as três fases, terá atuação no chamado mercado livre, em que a energia é vendida diretamente a empresas com consumo superior a 3MW. O presidente da Qair Brasil revela que contratos de 15 a 20 anos estão fechados com empresas de atuação nacional.
"Infelizmente, nenhuma delas é no Ceará. Quando falamos em geração centralizada e em venda de grandes quantidades de energia, normalmente são empresas de atuação nacional. No Ceará, não temos nenhum contrato hoje, apenas algumas negociações", afirma.
Sobre projetos futuros localizados no Estado e no Nordeste, Abreu indica que novos investimentos dependerão dos Power Purchase Agreement (PPAs, em inglês), que são os contratos de venda da energia gerada.
"Como é óbvio, a Qair está atenta a toda a evolução no mercado energético. Estamos a analisar, por exemplo, os projetos offshore, a desenvolver outros projetos solares e eólicos aqui no Ceará, alguns em fase de desenvolvimento, outros prontos para construir dependendo dos contratos de venda de energia, iniciaremos a construção", revela.
Outro complexo eólico de 159 MW já está em andamento no município de Afonso Bezerra, no Rio Grande do Norte. Alguns outros projetos prontos para a construção estão distribuídos na Bahia, Piauí e no próprio Ceará e Rio Grande do Norte.
"Em termos de potencial eólico e solar, nós falamos normalmente a nível de todo o Nordeste. É óbvio que se eu puder dar prioridade aos projetos aqui no Ceará, como cearense, mesmo que importado de Coimbra, eu dou essa prioridade. Nem sempre essa decisão tem a ver com a vontade pessoal, tem a ver muito com a localização dos parques, custo de desenvolvimento, com a capacidade de conexão da rede", indica Abreu.
Projetos sociais
Além do desenvolvimento dos parques, a Qair Brasil atua em projetos socioeconômicos e ambientais nas comunidades afetadas direta e indiretamente pela construção das usinas. No Trairi, cerca de 13 comunidades já são beneficiadas com as iniciativas.
Uma delas é o projeto Olê Rendeiras, que resgata o protagonismo do município nesse tipo de artesanato. Conforme Abreu, cerca de 200 rendeiras têm seus produtos vendidos no Ceará e em São Paulo através do projeto.
"O que fizemos foi desenvolver projeto para resgatar esse artesanato, essa arte, a dignidade dessas pessoas. Em breve, ainda iremos participar de uma feira em Milão para mostrar produtos", aponta.
Durante a pandemia, a empresa ainda realizou uma ação junto às costureiras das comunidades, doando o material para a fabricação de 50 mil máscaras, comprando-as e as doando à Prefeitura de Trairi.
"Outro projeto que desenvolvemos é de empreendedorismo, em que selecionamos 30 jovens, fornecemos formação teórica e prática, e o capital inicial para cada um deles começar o seu negócio. Nós queremos ser lembrados por esses projetos. Megawatts qualquer um coloca", ressalta Abreu.