Com desempenho de candidatos, Bolsa sobe, e dólar cai

Ações e câmbio estão, principalmente nas duas últimas semanas, tremendamente sensíveis aos movimentos políticos das eleições presidenciais, e investidores sinalizam em quem devem apostar para Planalto

O comportamento do mercado financeiro nessa segunda-feira (8) deixou evidente a preferência dos investidores pelo candidato à presidência da República Jair Bolsonaro (PSL). Um dia após o candidato arrastar 46,03% dos votos válidos no primeiro turno da disputa, a Bolsa brasileira alcançou sua maior alta diária desde 2016 (+4,75%) ao bater 86.083,91 pontos, com volume financeiro de R$ 29 bilhões. O dólar encerrou no menor patamar em dois meses, cotado a R$ 3,76 na venda, em queda de 2,3% ante a moeda brasileira.

Bolsonaro passou a ser mais atraente aos olhos do mercado depois que os investidores perceberam que o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, não se destacaria no páreo. Com um olhar mais liberal sobre a economia, na avaliação do presidente do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Ceará (Ibef Ceará), Raul Santos, Bolsonaro é visto como uma possibilidade de governo com um estado menor, mas alerta: "Bolsonaro não é visto como um salvador da Pátria para o mercado financeiro. Ele é visto como uma possibilidade de mudança, de reforma, mas vai ter um período para que ele prove que é efetivamente capaz de trazer o País para um patamar superior de competitividade diante do mundo", detalha.

'Estado menor'

Santos avalia que, em um cenário de vitória do opositor Fernando Haddad, do PT, no segundo turno, que ocorrerá no próximo dia 28 de outubro, a Bolsa deve cair e o dólar deve subir em um curto prazo. "Isso porque o candidato (Haddad) vem dando a entender que ele não vai parar de usar o Estado como mola principal do desenvolvimento. Não que não deva ser usado, mas a capacidade de investimento do governo brasileiro está muito reduzida", explica.

Perfil liberal

O perfil mais liberal de Jair Bolsonaro, para Raul Santos, pode conferir às empresas em geral listadas na Bolsa uma perspectiva maior, o que deve torná-las mais demandadas.

O especialista em Mercado Financeiro e sócio da Conceito Investimentos, Elisio Medeiros, destaca que a demanda maior significa mais lucro para as empresas. "Elas contratam mais, investem mais. Isso pode trazer um resultado muito positivo", analisa Medeiros.

O sócio da Conceito Investimentos frisa que a euforia do mercado financeiro também está amparada na "renovação mais expressiva na Câmara dos Deputados e no Senado Federal". Ele destaca que o avanço da bancada do PSL na Câmara faz com que o mercado veja o candidato Jair Bolsonaro com mais força para a aprovação de medidas.

Partidos

Raul Santos ainda acrescenta que a governabilidade pode ser interessante tanto para Bolsonaro como para Haddad. "A gente percebe que houve redução na participação de alguns partidos como PSDB, MDB e o PT, enquanto outros menores como o próprio PSL, Rede e o Pros ganharam mais espaço. Eu vejo que ambos têm uma boa capacidade de articulação", explica o presidente do Ibef Ceará.

"O mercado espera do candidato Fernando Haddad a ampliação de programas sociais. Já de Bolsonaro, se espera mais incentivo à iniciativa privada", diz, acrescentando que a chegada do candidato do PSL ao cargo mais alto do executivo deve garantir a aprovação de reformas como a da Previdência, bem como uma continuação para a Reforma Trabalhista. "Foi feito um pedaço, mas é preciso aperfeiçoar", diz Santos.

Empresas

A alta da Bolsa brasileira veio do desempenho das empresas estatais. Entre os destaques observados ontem estão a Eletrobras, com valorização de 18,3% (PNB) e 17,3% (ON); a Petrobras, com alta de 11% e 9,5% PN e ON; Banco do Brasil (9,7%); Bradesco com alta de 6,8%, Itaú Unibanco (PN), com alta de 5,95% e as units, conjunto de ações do Santander Brasil, também com alta de 5,95%.

"O candidato do PSL Jair Bolsonaro trouxe para perto e apresentou ao mercado financeiro o Paulo Guedes, economista que já é conhecido no mercado e que tem interação com bancos, corretoras, investidores, grandes players. Isso demonstra a vontade de liberar mais o comércio, os negócios, as finanças e isso pode possibilitar uma dinâmica melhor ao sistema, respaldada pelas reformas", acrescenta ainda o presidente do Ibef Ceará.

Ainda na manhã da última segunda-feira, a XP Investimentos divulgou em seu relatório diário que "o desempenho do candidato Jair Bolsonaro no primeiro turno o mantém como favorito na disputa, seja pela votação recebida - muito próxima dos 50% - seja pelo quadro das disputas nos Estados ou ainda pela equiparação de armas na campanha de segundo turno", detalha a publicação.

"No cenário Bolsonaro, vemos a bolsa como um dos ativos mais atrativos no Brasil (seguido pela curva longa e por último o dólar), seja pelo desconto que a Bolsa negocia em relação ao seu histórico, pela potencial revisão positiva de lucro para os próximos anos ou pela alocação baixa a bolsa no Brasil", destaca ainda a avaliação da XP Investimentos.

4,57%

foi a alta do Ibovespa no pregão desta segunda-feira (8). É o maior avanço percentual diário desde o mês de março de 2016. Durante a sessão, o Ibovespa chegou a subir mais de 6%, superando os 87 mil pontos

86.083

Foi a pontuação final da Bolsa brasileira. O volume negociado chegou a R$ 29 milhões, recorde para uma sessão sem vencimento de opções. O recorde anterior tinha sido registrado em 2014

2,3%

foi a queda da moeda norte-americana. Dado representa o maior recuo percentual desde os 5,5% de junho do ano passado. O dólar futuro apresentava baixa de cerca de 2%, no fim da tarde de ontem

R$ 3,76

foi a cotação final do dólar. A moeda recuou ao patamar mais baixo desde os R$ 3,7658 de 8 de agosto deste ano. Na mínima do dia de ontem, a moeda dos Estados Unidos chegou a tocar R$ 3,7094