Cenário político e ambiente de negócios são maiores desafios para hidrogênio verde no Ceará

Representantes de empresas falaram sobre desafios de se criar regulamentação federal sobre esse novo mercado de combustíveis e energias renováveis

O cenário de hidrogênio verde no Ceará e no Brasil ainda está em desenvolvimento, mas, para representantes de empresas investidoras no Estado, o cenário político e o atraso na regulamentação podem ser os principais gargalos deste setor nos próximos anos.

A perspectiva foi apresentada durante o Seminário Internacional do Hidrogênio Verde no Ceará, evento promovido pelo Governo do Estado e a Editora Globo. 

Em um dos painéis de discussão sobre o assunto, o presidente da Qair Brasil, Armando Abreu comentou que se não houver convergência política, o mercado brasileiro pode acabar ficando atrasado em relação a outras regiões do mundo, perdendo espaço e oportunidades de investimento. 

"Nós temos uma convergência de setores aqui no Ceará trabalhando para o mesmo sentido. Mas o que pode atrapalhar esses planos? Nós sabemos que no Brasil vivemos à base de ciclos políticos. Todos somos animais políticos, mas espero que, do mesmo modo como foi para as energias alternativas, os governos, independentemente de partido ou conotações políticas, continuem esse trabalho do hidrogênio", disse.

"Temos as condições para fazer as coisas andarem mais rápido e só espero que continuemos com esse mesmo objetivo, independente de partido ou ideologia. O que está em jogo não é empresa A ou B, partido A ou B, é a humanidade e o sucesso econômico do Ceará"
Armando Abreu
Presidente da Qair Brasil

A Qair Brasil integra a lista de nove empresas que já assinaram memorando de entendimento com o Governo do Estado para investimentos em plantas de produção de hidrogênio verde no Ceará. Entre as companhias já confirmadas estão: Enegix Energy, White Martins, Qair, Fortescue, Eneva, Diferencial, Hytron, H2helium, e Neoenergia.

Ambiente de negócios

A perspectiva foi corroborada pelo diretor de negócios da White Martins, do Grupo Linde, Guilherme Ricci. Ele comentou que os investidores, para confirmar aportes anunciados no setor de hidrogênio verde, precisam reconhecer um ambiente de negócios seguro no país. 

Ricci ainda apontou que o Brasil precisa definir melhor as condições e certificações relacionadas à produção e importação de tecnologia para esse novo tipo de combustível. 

"Para fazer investimentos é preciso que haja um ambiente de negócios favorável. Isso dito, é importante que a legislação e normas técnicas, e certificações estejam muito bem equacionadas, tanto na parte de energias renováveis quando na parte de produção de hidrogênio. É muito importante porque outros combustíveis ainda são baratos do que o hidrogênio verde, então é fundamental que haja legislação e incentivos, como vimos outros países fizeram, para que possamos trazer essa tecnologia mais rapidamente", disse.

"Temos visto o Chile, os Estados Unidos e outros países já tomando atitudes concretas e vamos disputar esse mercado com outros países que têm boas condições também, como aqueles do Oriente Médio ou norte da África. É importante haver legislação para que possamos ter conforto para as empresas investirem", completou. 

O diretor de negócios, no entanto, afirmou que o Brasil tem trabalhado para agilizar os processos de regulamentação, e que ele está otimista que essas novas medidas serão aprovadas em um futuro próximo.

"Eu estou otimista, mas temos uma previsão do próprio Governo Federal de soltar uma legislação e isso deve começar a andar no começo do próximo ano e chegar com mais recomendações. Estamos no caminho certo", disse. 

Competição internacional

O head de projetos de hidrogênio verde no Brasil da Fortscue, Luis Viga, também comentou que o processo de regulamentação é importante para apresentar o Brasil como opção viável para o mercado mundial do setor. 

Como, inicialmente, os principais compradores estão surgindo na Europa e outros países já estão se preparando para produzir o combustível, o trabalho de criação de um bom ambiente de negócios deverá ser fundamental para tornar o hidrogênio verde produzido no Brasil mais competitivo no cenário internacional.

"A primeira coisa que precisamos é de segurança jurídica. Os investidores gostam que se tenham regras bem definidas, e o que temos visto aqui no Ceará, porque temos um grupo que leva um diálogo e vemos uma continuidade de trabalho", disse. 

"A nível nacional é muito importante um trabalho grande, que já teve um pontapé inicial, é um esforço de médio e longo prazo. Os outros países já estão mais avançados, então temos de posicionar o Brasil para ser o mais viável para a produção de hidrogênio verde, e isso traz várias riquezas e outros benefícios para a população", completou Viga. 

O que é hidrogênio verde? 

Hidrogênio verde é o hidrogênio obtido a partir de fontes renováveis, sem a emissão de carbono. Diferentemente dos combustíveis fósseis, o aproveitamento energético do hidrogênio raramente se dá por sua combustão, e sim por meio de uma transformação eletroquímica, realizada em células conhecidas como "células a combustível". 

O oxigênio presente na atmosfera se combina com o hidrogênio, produzindo energia elétrica e água. Assim, a geração de energia por meio de células a combustível em si não causa danos ao meio ambiente.