Depois de os resultados do primeiro semestre frustrarem as expectativas do mercado, que previa uma recuperação do nível de investimentos maior do que de fato aconteceu, o segundo semestre parece trilhar o mesmo caminho: melhor que no ano passado, mas não tão bom quanto se esperava. O próprio governo já havia reduzido, no último dia 22, a previsão de crescimento da economia brasileira neste ano de 2,97% para 2,5%.
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Mas há fatores positivos a serem considerados, como a tendência de crescimento e o aquecimento econômico sazonal do segundo semestre, impulsionado pelo 13º salário e pelas festas de fim de ano. Aqui, o Ceará se destaca no cenário nacional por estar com um caixa equilibrado, realizando investimentos e ter, no segundo semestre, a concretização de investimentos privados, como as obras do Aeroporto e incremento no número de voos.
Voo de galinha
Segundo o economista Alex Araújo, a reação da economia no primeiro semestre está sendo considerada por muitos um “voo de galinha”, que dá um salto e depois cai. “Havia uma expectativa muito grande de que o crescimento fosse retomado, mas a realidade foi pior que o projetado. A expectativa de empresários e consumidores começou o ano positiva e por volta de março a abril, caiu, e a taxa de desemprego aumentou”, aponta.
O cenário mostra que a economia não está no ritmo que se esperava, o que, na avaliação de Araújo, se dá em parte por conta da indefinição do quadro nacional das eleições para a presidência e parte pela influência do cenário externo, como a forte correção do dólar e o aumento dos preços das commodities, em particular do petróleo. “Há uma eleição geral que vai ser de suma importância para se saber qual será a agenda do próximo governo”, reforça.
O economista avalia ainda que os desdobramentos da movimentação dos caminhoneiros, entre os quais o desabastecimento de insumos às indústrias, prejuízos do setor produtivo e a própria solução oferecida pelo governo, aprofundam o pessimismo quanto aos resultados da economia brasileira neste ano “(A situação) afeta muito tanto a disposição dos consumidores em comprar, quanto dos produtores em investir”.
Com um grande leque de candidatos e incertezas sobre quem tem mais chances de vencer – bem como da agenda econômica defendida por eles -, a tendência é que os empresários freiem o nível de investimento no País até que se tenham mais definições. “Há uma agenda de economia a ser tratada que envolve a organização das receitas e despesas públicas e precisamos saber como isso será tratado por quem for assumir a presidência”.
Banho-maria
Na avaliação de Araújo, esse quadro de incertezas – que em muito agita os indicadores de confiança – deve permanecer até que se tenha um quadro mais claro quanto ao resultado das eleições. “Por enquanto, é possível que a economia fique em banho-maria, o que nos faz ficar muito vulneráveis, como vimos há pouco tempo no caso do aumento do dólar”, relembra.
O entendimento é endossado pelo economista Ricardo Eleutério, que avalia que o ano “já acabou” em termos de política fiscal para reduzir o déficit. “As reformas foram engavetadas, como a da Previdência, e as microeconômicas que estavam sendo feitas não têm mais condições. Até o resto do ano, vai se ter um arranjo ou outro, como o que foi feito agora, para apagar incêndio, mas não tem ajuste. Estamos remando um pouco à deriva”, detalha.
Ele aponta que as medidas tomadas pelo governo para atender os caminhoneiros, assim como outras que ainda possam surgir pelo caminho em caráter de emergência terminam por agravar ainda mais o problema do desequilíbrio econômico no País. “A herança fiscal do próximo governo vai ser maior ainda, o problema vai se acumulando”, lamenta Eleutério.
Para que realmente se tenha um crescimento sustentável no País, e não mais “voos de galinha”, o economista reforça que é necessário mais investimento produtivo, que, por sua vez, está apoiado sobre as expectativas. “Para ter uma retomada dos investimentos é preciso aumentar a confiança e melhorar as expectativas. Possivelmente, vamos ficar em um banho-maria, nesse ambiente morno, até o fim do ano”, prevê.
Opinião do especialista
Apesar cenário nacional em turbulência, com a recente greve dos caminhoneiros e do período eleitoral cercado de incertezas, acredito que a economia apresentará crescimento moderado no 2º semestre.
Neste período, certamente, em razão do forte embate político, haverá oscilações relevantes em variáveis econômicas, a exemplo do dólar, contudo a atividade econômica deverá manter tendência de alta, porém, abaixo das expectativas econômicas traçadas no início do ano.
O mercado de trabalho será impactado positivamente, mas também muito aquém do necessário, especialmente pelo grande contingente de trabalhadores em situação de desemprego.
No contexto externo, tensões geopolíticas e a política monetária dos Estados Unidos, poderão ser outra "pedra no sapato" da economia no 2º semestre. A elevação da taxa de câmbio, em resposta a subida da taxa de juros americana, e o preço do barril de petróleo em alta volatilidade, serão elementos altamente prováveis no cenário futuro.
Neste sentido, decisões internas, sob a ótica cambial e monetária, deverão ser utilizadas para mitigar seus efeitos internos, sobretudo para evitar a alta da inflação.
Alisson Martins
Economista