Ceará tem potencial para quadruplicar área irrigada, diz secretário

Estado tem capacidade para chegar a 300 mil hectares irrigados, segundo Sílvio Carlos Ribeiro, secretário executivo do agronegócio do Ceará. Fruticultura deve ser uma das atividades mais beneficiadas com Transposição

As águas do Rio São Francisco chegam ao Ceará trazendo mais do que a garantia do abastecimento para o consumo humano em período de estiagem. O agronegócio local também comemora e será efetivamente beneficiado, abrindo possibilidade de expansão da produção. Segundo o secretário executivo do agronegócio da Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Trabalho do Estado (Sedet), Sílvio Carlos Ribeiro, o Ceará possui potencial para quadruplicar a área irrigada, totalizando 300 mil hectares.

 

Atualmente, segundo Ribeiro, são apenas 70 mil hectares utilizados. Com mais recursos hídricos disponíveis, o crescimento da produção é natural. "É um momento histórico e importante para a economia. Até hoje, tínhamos a necessidade de ter segurança hídrica para diversos setores da economia. Desde 2012, quando começamos a enfrentar essa seca sem precedentes, o agronegócio vem com essa preocupação. Essa nova disponibilidade de água permite fazer um investimento, desenvolver a área irrigada, sabendo que será possível produzir por dois, cinco, dez anos. É um conforto maior", afirma.

Exportação

Além da área irrigada propriamente dita, o Ceará tem diferenciais que também devem atrair mais investidores daqui para frente, entre os quais condições logísticas favoráveis à exportação e certificações de áreas livres de pragas, além do atual comportamento do câmbio e a abertura de mercados internacionais para a produção brasileira.

Tendo isso em vista, a fruticultura deve ser uma das atividades mais beneficiadas com a Transposição. Por ter valor agregado mais alto que os grãos, por exemplo, e boa aceitação no mercado externo, as frutas passam a ser o foco dos negócios. Com produtos de maior valor, a participação do agronegócio no Produto Interno Bruto (PIB) cearense pode crescer em ritmo ainda maior que a área irrigada.

"Se nós só dobrarmos a área irrigada atual, para 140 mil hectares, apenas com fruticultura, o PIB agropecuário será bem maior do que se mantivéssemos as safras já existentes", ressalta Ribeiro.

Com a disponibilidade de recursos hídricos, novas colheitas poderão passar a ser cultivadas em solo cearense, hoje muito concentradas apenas no melão e melancia, além de garantir a produção de culturas permanentes, como a banana e a laranja.

"Tendo essa segurança hídrica, podemos diversificar as frutas no Estado. E mesmo quando se tiver pouca chuva, não teremos de deixar de plantar, como antes. Outros mercados estão se abrindo, como a China para o melão. Se começarmos a exportar para lá, teremos de ter mais área", aponta Luiz Roberto Barcelos, diretor institucional da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas).

Ele ainda ressalta que as culturas com maior valor agregado e possibilidade de dar retornos mais consistentes serão as principais beneficiadas devido ao alto custo para a utilização das águas do Rio São Francisco. "Vários setores serão beneficiados, inclusive a pecuária com alimento para o gado. A fruticultura, sem dúvidas, será muito beneficiada", aponta Barcelos.

Pecuária

O secretário executivo do Agronegócio do Estado ainda cita a produção de camarão e de tilápia como atividades a serem impulsionadas pela nova condição hídrica do Ceará; a primeira já em plena expansão, e a segunda, prejudicada pela baixa na capacidade dos reservatórios do Estado.

"Somado a isso, ainda temos o programa Malha D'Água, que ofertará água em adutoras a nove municípios na região de Banabuiú, deixando reservatórios importantes livres para a agropecuária. No caso daqueles que utilizaram as águas da Transposição, por ser uma água cara, ainda estamos desenvolvendo um trabalho, em parceria com o banco Mundial, para trazer mais eficiência no uso dos recursos hídricos dentro das propriedades", revela Ribeiro.

O presidente da Câmara Setorial do Agronegócio da Agência de Desenvolvimentos do Estado do Ceará (Adece), José Amilcar Silveira, também lembra dos benefícios da Transposição para a produção de leite, que, apesar das condições, vem se desenvolvendo com velocidade.

"No caso da agricultura, a produção no Baixo Jaguaribe, que poderá ser beneficiada com o projeto, irá triplicar. Podemos chegar a 30 mil hectares de frutas naquela região, o que representaria 30 mil novos empregos diretos", diz.

Utilização humana

Silveira ainda afirma estar satisfeito caso as águas do São Francisco sejam direcionadas totalmente para a utilização humana em Fortaleza, uma vez que os demais reservatórios passariam a ficar disponíveis integralmente para irrigação. "Já é um ganho fantástico. E seria melhor para a gente. O consumidor tem como pagar por essa água mais cara", avalia.

O diretor institucional da Abrafrutas, Luiz Roberto Barcelos, também aponta que a preocupação de a água ficar restrita ao consumo humano é limitada, tendo em vista que, de qualquer forma, serão mais recursos hídricos disponíveis.

"Temos conversado com o Governo e nossa intenção é aumentar a outorga concedida ao trecho norte, que atende ao Ceará. O reservatório de Sobradinho está quase totalmente cheio, elevando o nível do São Francisco. Acho que conseguimos mais água".

Setor agropecuário cearense comemora chegada das águas da Transposição do Rio São Francisco. Expectativa é que atividade tenha grandes avanços em produção, diversidade de culturas, exportação e empregos