Quem procurou comprar carro nos anos 1990 e 2000 certamente lembra dos modelos básicos que chegavam a custar menos que R$ 30 mil. Hoje, os conhecidos veículos “populares” podem ser encontrados por quase R$ 80 mil nas versões mais completas em todo o Brasil. Mas por quais motivos eles estão tão caros?
Uma série de fatores desencadeados pela pandemia do coronavírus contribui para essa situação, explica o economista Alex Araújo. Com fábricas paralisadas, o mercado automobilístico foi intensamente afetado em todo o mundo, reduzindo a oferta de veículos.
“O aumento da demanda com uma baixa oferta foi um dos fatores. E, mesmo com o retorno das produções pelas indústrias, ainda faltam componentes e o custo da matéria-prima importada aumentou”, afirma.
Alta do dólar
A taxa cambial também afeta diretamente o valor da venda dos veículos, conforme explica Lewton Monteiro, vice-presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave-CE). “A indústria lida com o efeito do câmbio de forma muito forte, houve aumento do valor dos insumos e uma produção menor. Com menor produção, maior o custo”.
Ontem, o dólar chegou a bater em R$ 5,73 durante o pregão, obrigando o Banco Central a injetar US$ 2 bilhões no mercado. A moeda encerrou o dia com alta de 1,17%, a R$ 5,66, maior nível desde 3 de novembro.
Ofertas e promoções
De acordo com Lewton, também influenciam os preços praticados atualmente as promoções que foram realizadas no ano passado pelas concessionárias.
“Quando a pandemia começou, tínhamos um estoque muito alto e um mercado que estava paralisando. A venda naquele momento caiu e, com estoques altos, começaram promoções para desovar o volume. Então, a primeira referência desse aumento é por conta dos preços das promoções”, diz.
Queda menor que o esperado
Se por um lado a pandemia paralisou produções, por outro mudou o comportamento de consumo, aponta Araújo. “Houve um crescimento pela procura de veículos novos em 2020. Esses bens de maior valor terminaram tendo um aquecimento que não era esperado, trouxe uma perspectiva bem positiva”, comenta.
De acordo com dados da Fenabrave, o Ceará encerrou o ano de 2020 com 44,7 mil emplacamentos de veículos do segmento auto e comercial leve, queda de 20% na comparação com as cerca de 56 mil unidades vendidas em 2019.
A queda das vendas, segundo a Fenabrave, foi menor que o esperado. Segundo Lewton, a previsão era de um recuo de 40% em comparação à 2019, o que na realidade foi de 25%.
“A recuperação foi mais rápida e continua acontecendo, embora o problema agora seja a capacidade da produção pelas montadoras”, afirma.
Perspectivas para 2021
Para Araújo, esse comportamento do consumidor deve seguir em 2021 com as novas medidas de restrição, mais rígidas.
“Isso altera a forma como o consumidor gasta a renda e acaba valorizando mais esse consumo de bens de capital. Eu acredito que a demanda tanto por veículos quanto por imóveis permanece alta, diferente no setor de vestuário, que teve uma queda vigorosa".
Já Monteiro prefere não arriscar uma estimativa para este ano, considerando as incertezas que a pandemia tem gerado especialmente para o mercado. “É difícil definir o cenário que vai se manter nesse momento. Como ainda estamos vivendo novos ciclos, a dinâmica do mercado vai acompanhar os acontecimentos que vão ser deflagrados a partir disso".
E o que são os carros populares?
Como um incentivo para as indústrias automobilísticas, o Governo isentou de impostos os veículos com motor 1.0, em 1993. A partir disso foi criado o conceito dos carros populares, que tinham a finalidade de chegar ao consumidor final por um valor mais acessível.
“Mas esses incentivos, de alíquota de IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) mais baixo, não existem mais. Hoje, o correto seria dizer modelo de entrada, que é mais básico e com menos acessórios”, explica Araújo.