BNB manterá foco nos mais vulneráveis, diz presidente interino

Antônio Jorge disse que vai priorizar micros e pequenos produtores do Nordeste e fortalecer crédito e renegociações de dívidas. Setor produtivo avalia que episódios não afetam políticas públicas do banco, apesar do desgaste

Pouco mais de 24 horas depois que Alexandre Cabral assumiu a presidência do Banco do Nordeste - e, em seguida, foi destituído - Antônio Jorge Pontes Guimarães, diretor financeiro de crédito do banco, assumiu ontem a presidência interinamente e disse que vai priorizar, neste momento de crise, os mais vulneráveis, como micros e pequenos produtores nordestinos, e atender às necessidades das classes produtivas da Região. O setor produtivo cearense acredita que o episódio não deve comprometer a credibilidade da instituição e nem os projetos futuros do banco.

"Eu quero acreditar que essas mudanças se encontram na busca pelo melhor profissional nas competências técnicas. Nós já fazemos parte da diretoria executiva do banco e vínhamos participando na condução da instituição. O BNB tem um plano estratégico e temos os nossos direcionamentos", disse Antonio Jorge.

"Compreendemos a nossa importância no apoio ao microcrédito e, neste momento, alcançarmos o público com crédito e renegociação de dívidas. Nossa missão é estarmos próximos desse público, suportando esses agentes produtivos com novos créditos e renegociação. A nossa orientação é neste momento estarmos ainda mais próximos daqueles que entendemos serem os mais vulneráveis", acrescentou.

Segundo ele, o BNB não vai "fugir da missão" e manterá a solidez de anos de existência. "O banco já passou por diversas situações e sempre mostrou sua capacidade de resiliência. O banco tem sua governança, seus propósitos e valores. Ficamos feliz que a sociedade tenha o entendimento da nossa solidez, da nossa resiliência, da capacidade de trabalharmos em prol da sociedade nordestina e que nós não vamos fugir disso", pontuou o presidente interino.

Jorge ainda reforçou o comprometimento do banco com o desenvolvimento econômico da região. "O BNB tem suas linhas de atuação e vamos seguir rigorosamente esse direcionamento de atender à classe produtiva nordestina nas suas necessidades".

Repercussão

Para o vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), André Montenegro, mesmo com os episódios recentes, o BNB não terá a credibilidade atingida. Montenegro afirmou ainda que o banco segue uma política pública a partir do Governo Federal, que tem metas desenhadas. "Eu acredito que não (terá a imagem afetada), porque o banco tem uma governança estabelecida. A decisão de trocar de presidente é uma prerrogativa do presidente da República e ele está fazendo uso. Claro que tem toda a estrutura de procedimentos, e hoje as instituições são bem auditadas", disse.

"A política pública vai partir do Governo Central, do ministro da Economia, Paulo Guedes, e vai ser uma política de retomada de crescimento. O BNB vai ter que seguir essas normas. Eu não acredito em uma política isolada para o BNB", explicou o empresário.

O diretor-presidente do Instituto de Pesquisa e Estratégia Econômica do Ceará (Ipece), João Mário Santos, admitiu que os episódios desgastam a instituição, mas que não vê problema com as indicações políticas.

"Isso não é incomum ocorrer, mas é importante que seja um nome técnico e que tenha liberdade para trabalhar. Se for indicação para ficar fazendo o que o político deseja, é ruim. O importante agora é ter um nome técnico e que conheça o setor bancário, tendo liberdade para implementar as melhores políticas para fortalecer o desenvolvimento da região Nordeste".

Pequenas empresas

De acordo com o diretor técnico do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas no Ceará (Sebrae), Alci Porto, as relações do Sebrae com o BNB são constantes e que o banco cumpre com o seu papel de desenvolvimento regional. "O Sebrae tem convênio com o BNB e já fazemos isso há várias gestões. Essa relação de apoio tem sido constante, e as questões que levam à indicação do presidente não impacta o Sebrae. Independentemente da indicação para a presidência do banco, o apoio existirá. Eu creio que quem quer que assuma a gestão do banco não interfere muito no papel dos pequenos negócios", explicou.

Porto disse ainda que o papel de fomento do BNB está acima de qualquer cunho político. "O BNB é um banco de desenvolvimento e da população nordestina. O banco tem repetidamente definido como um dos eixos estratégicos as pequenas empresas. Até porque o papel do banco é apoiar essas empresas e tem sido constante o apoio da instituição nesse aspecto", pontuou.

Comércio

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), Maurício Filizola, espera que os episódios não interrompam o papel de fomento do BNB.

"O BNB é fomentador de uma região e que tem uma importância muito grande. A gente espera que recursos continuem chegando com facilidade e no tempo certo. O que a gente espera é qualquer que seja o presidente, ele tenha em mente que o empresário precisa de rapidez na tomada de decisão e flexibilidade para atender às demandas do empresário", informou.

Para Freitas Cordeiro, presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Ceará (FCDL-CE), os episódios são negativos, mas ele reforçou que o BNB tem uma estrutura solidificada.

"Não vou negar que isso não seja positivo, mas eu acredito que o banco é bem maior que isso. Ele tem uma estrutura muito bem instalada e um corpo funcional de grande qualidade. Essas decisões não têm repercussões negativas para a gente não. O que nós temos de fazer é preservá-lo. As políticas públicas da instituição permanecem, como o crédito orientado, por exemplo, até porque o BNB está sedimentado em cima de políticas de longo prazo e que têm bons resultados. Os episódios são ruins, mas não nos abala", comentou.