Após um boom nos últimos anos, os atacarejos começam a encontrar problemas de competitividade, com quedas de vendas em algumas lojas em mercados mais consolidados, como no Sudeste. No Nordeste, contudo, o segmento segue em uma tendência ascendente.
De acordo com dados da NielsenIQ, o atacarejo acumula alta de 23,4% em volume de vendas no Nordeste, considerando janeiro até o dia 7 de maio, em comparação com igual período do ano passado. Em todo o País a alta é de 19,9%.
Considerando a variação do volume de vendas em uma mesma loja no ano passado e neste ano, o levantamento aponta quedas de até 5% no trimestre em regiões como a São Paulo, Rio de Janeiro e Centro-Oeste, mercados em que o modelo de negócio está consolidado há mais tempo.
Para o líder de sucesso do cliente de varejo na NielsenIQ, Jonathas Rosa, essa desaceleração faz parte de um momento de reestruturação do canal, em meio a um momento de competitividade entre lojas e, em alguns casos, implementação de serviços como forma de mostrar um diferencial.
Esse movimento pode ocorrer em todo o País, considerando os diferentes níveis de desenvolvimento de cada região. No Nordeste, o canal segue avançando, mesmo na comparação entre mesmas lojas.
Competitividade entre lojas
O modelo de Cash&Carry (em português, “pague e leve”, outro nome utilizado para os atacarejos) tem se popularizado ao longo dos últimos dez anos, sobretudo devido aos preços mais baixos oferecidos.
A expansão no número de lojas do segmento foi e vem sendo bastante rápida. Em alguns mercados, como o de São Paulo, 85% das residências já fazem uma única compra no mês em comércios do tipo, conforme dados da NielsenIQ.
Com uma ampla oferta de lojas, é difícil que elas não passem a competir entre si, o que leva à queda no número de vendas para uma mesma loja. Segundo Jonathas, esse movimento é normal e não representa uma preocupação com o futuro do canal, que hoje é o que mais cresce no País.
A gente tem um processo de migração dos hipermercados para os atacarejos. Lojas [de atacarejo] que estavam abertas há anos e competiam com os hiper, acabavam absorvendo parte dessas vendas dos hiper e cresceram. Tempos depois, quando [o hipermercado] vira atacarejo, a loja mais antiga passa a se equilibrar, tende a perder vendas”
Ele afirma que esse movimento deve ocorrer em todo o País guardados os devidos níveis de desenvolvimento. No Nordeste, ainda há espaço que o mercado de atacarejo cresça antes que a competitividade seja um empecilho. Conforme a Nielsen, a penetração do canal nas residências é de 72% na região.
“Nos parece que é um processo de evolução natural, que acaba se regulando. Às vezes passa o máximo que deveria, para depois se reajustar e continuar crescendo”, destaca.
Oferta de serviços
Tradicionalmente, o professor de Marketing e Comportamento do Consumidor da Unichristus e Faculdade CDL, Christian Avesque, aponta que o atacarejo é buscado pelos consumidores para compras de itens básicos, em preços mais baixos (inclusive com marcas de segunda linha) e em volume.
Os atacarejos “originais” eram grandes galpões localizados mais distantes dos centros urbanos com a disposição de produtos em pallets e poucos funcionários, configuração que permitia uma grande redução de custos que era repassada para o consumidor.
Com o avanço do modelo de negócio, contudo, essas características vêm mudando aos poucos.
Nos últimos três ou quatro anos os atacarejos implementaram pagamento no crédito, o que aumentou os custos. Isso levou um pouco a queda nas vendas, principalmente no Sudeste e no Sul. No Sudeste e no Sul, os atacarejos estão incorporando especialidades que eram tipicamente dos supermercados, como carnes nobres, vinhos. Eles estão quase um modelo híbrido entre o atacarejo tradicional e os hipermercados, que são um modelo que está acabando”
De acordo com o presidente da Associação Cearense de Supermercados, Nidovando Pinheiro, essa tendência já vem sendo percebida inclusive no Ceará.
“A gente observa que o atacarejo começou a oferecer muito serviço, como o varejo oferece, acabou que não está tendo mais um diferencial. Não está tendo mais a mesma força que tinha antes o atacarejo. O consumidor frequentava muito o atacarejo porque ele percebia uma diferença no preço, hoje ela já não percebe mais isso, porque o atacarejo começou a oferecer mais serviços, não tem mais tanta diferença para o varejo”, diz.
A implementação de serviços tem mudado os preços praticados nos Cash&Carry, como aponta Jonathas Rosa.
“Esse é o equilíbrio que o canal vai ter que buscar, trazer mais serviços e manter um nível de serviço e competitividade forte. Hoje, o atacarejo oferece diferença de preço de 9% em média em relação a outros canais. Há dois anos o canal era 12% mais barato, há seis anos era 15%. Ao longo do tempo ele vem perdendo essa competitividade, tem que ver até que ponto essa competitividade pode chegar”, coloca.
Fim dos hipermercados
Enquanto os atacarejos oferecem preços mais baixos e os supermercados uma maior comodidade, os hipermercados perderam espaço nessa briga, ao competir também com os marketplaces.
Em Fortaleza, os hipermercados se tornam mais raros pouco a pouco. Um exemplo é o Carrefour da avenida Barão de Studart, que irá encerrar as atividades no fim deste mês.
Conforme dados da NielsenIQ, a queda no volume de vendas no Nordeste no acumulado do segundo trimestre deste ano se destaca em relação ao restante do Brasil. As vendas caíram 22% na região, enquanto a redução foi de 1,9% no cenário nacional.
“A queda vem muito puxada pelo fechamento de lojas, com as lojas do BomPreço sendo convertidas. Se a loja fechou, ela deixa de ser medida aí e passa a ser medida no atacarejo. A gente teve lojas do Extra, do BomPreço, que tiveram transformação de um formato para outro”, explica Rosa.