Apenas 7,7% dos trabalhadores do Ceará realizam trabalho remoto, diz IBGE

Empresas de recrutamento apontam necessidade de interação entre profissionais como um dos principais motivos para volta do presencial

No Ceará, apenas 7,7% das pessoas ocupadas trabalham de forma remota. Ou seja, dos 3,6 milhões de trabalhadores com 14 anos ou mais de idade, 282 mil realizaram trabalho remoto no período de referência de 30 dias, seja de forma habitual, seja ocasional.

Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua) do IBGE, que considerou o período do 4º trimestre de 2022, mas que foi divulgado recentemente pelo órgão de pesquisa. 

No estudo, foram considerados trabalhadores dos setores público e privado. Porém, não são levadas em conta as pessoas ocupadas que utilizam plataformas digitais para poder trabalhar - como motoristas de aplicativo, por exemplo. 

Além disso, no grupo dos que realizaram trabalho remoto, há o subgrupo de teletrabalhadores, composto por 182 mil pessoas que em trabalho remoto fizeram uso de equipamentos de Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), como e-mails, WhatsApp, WebEx, entre outros, para trabalhar.

As outras 100 mil pessoas apontadas trabalharam em local alternativo, por isso trabalho remoto, mas não fizeram uso desses equipamentos. Em 2022, 5% dos ocupados realizaram teletrabalho no período de referência no Ceará.

Outro recorte do estudo mostra que 94,5% das pessoas que executaram teletrabalho o fizeram no próprio domicílio. Já do total de trabalhadores nestas condições no Estado, mais da metade (56%) estão situados em Fortaleza (159 mil).

Segundo o chefe de Disseminação das Pesquisas do IBGE Ceará, Helder Rocha, por ser a primeira vez que os dados são contabilizados, não há ainda como se fazer comparativos ou traçar séries históricas.

Ele comenta ainda que "a pesquisa não tem como objetivo fazer previsões futuras, assim, não se pode afirmar se esse seria o que chamamos de novo normal, após a pandemia da Covid-19".

Rendimentos maiores para quem trabalhou "de qualquer lugar"

O rendimento médio mensal real das pessoas ocupadas, em 2022, foi R$ 1.711. Porém, para aquelas que realizaram teletrabalho, o rendimento chegou a R$ 4.784. Já para aqueles que não o fizeram, o rendimento foi de R$ 1.548, ou seja, 3,1 vezes menor. 

"Esses rendimentos maiores também são reflexos dos cargos e empresas nos quais eles estão inseridos. São ocupações, muitas vezes, com maior nível de escolaridade, existência de estrutura para o teletrabalho no próprio domicílio, a qual costuma ser cara e, muitas vezes, não é custeada pela empresa, ter uma boa internet, entre outros", reforça o chefe do IBGE.

Busca por repetir uma boa experiência 

Depois de já ter trabalho em regime totalmente remoto, antes da pandemia, e ter voltado ao mercado presencial, a jornalista Heloísa Vasconcelos, 26 anos, decidiu que era no ambiente domiciliar que se sentia mais confortável para realizar suas atividades laborais.

A obrigatoriedade de estar no escritório começou a me incomodar um pouco, principalmente porque eu já tinha esse referencial de comparação, de como era ter a liberdade de estar em casa e de fazer os meus horários. Então, comecei a buscar oportunidades de emprego que tivessem essa possibilidade do Home Office, até que consegui essa empresa portuguesa que estou agora, em que o trabalho é 100% remoto."

Ela comenta que nesta condição de trabalho, sabe que "sair de casa às vezes faz falta", mas que isso ainda não ocorreu nesta nova experiência profissional.

"A empresa que estou agora tem um benefício de ajuda de custo para uso de coworking, por exemplo. Então, se eu sentir necessidade de sair um pouco desse ambiente domiciliar, de trabalhar com outras pessoas, essa possibilidade existe."

Heloísa ainda lembra que no modelo presencial, em alguns momentos o foco no trabalho acabava prejudicado, mas que em compensação, a troca com os colegas era muito rica.

"Mas em casa tem a minha cama (risos) que está sempre ali. Então, acho que o fator principal para a produtividade não é estar em casa ou estar no escritório, já que ambos têm pontos de distração, é muito mais sobre você conseguir organizar sua rotina."

Se voltaria ao modelo presencial, ela diz que neste momento, não, mas avalia um modelo híbrido como uma boa possibilidade.

Como esse modelo está na realidade atual

Gisele Studart, diretora da Studart RH, relata que a modalidade de teletrabalho, ou trabalho Home Office sempre existiu, porém antes da pandemia, era uma realidade muito pequena. 

"Algumas poucas empresas já adotavam esse modelo, principalmente de tecnologia, por precisarem contratar desenvolvedores, e o mercado ser muito restrito, por exemplo. Mas na pandemia, porém, todos se viram obrigados a se reestruturar, reestruturar suas equipes e o modo de trabalho para funcionar foi o Home Office."

Porém, com a liberação sanitária, Gisele reforça que muitas empresas já voltaram ao modelo presencial.

"Isso também porque boa parte das pesquisas apontam que as pessoas gostam de sair de casa para irem trabalhar. Que gostam, em seu local de trabalho, do convívio com os colegas, da interação."

Ela reforça que o ócio criativo dentro das empresas, quando existe, permite que as pessoas conversem e discutam melhorias e inovações.

"Então, hoje, vejo que é uma tendência as pessoas quererem trabalhar presencial e as empresas entenderem que por mais que haja mais custos no trabalho presencial, ainda assim é melhor para o dia a dia e o desempenho das equipes."

Todos os modelos são válidos

Valéria Mota, gerente executiva de seleção e consultoria, afirma que o pós-pandemia traz para o ambiente organizacional a possibilidade de trabalho 100% presencial, 100% remoto ou ainda o híbrido. 

"Depois daquele primeiro impacto onde as pessoas tiveram que, em caráter emergencial, aprender a trabalhar de forma remota, agora temos essas possibilidades de subdivisões de formatos."

Questionada sobre os motivos que levam as empresas a voltarem para o modo presencial ou híbrido, Valéria reforça a importância da integração entre os times e do trabalho de cultura da empresa.

"A cultura é feita de pessoas. Então quando esse time está todo separado é mais difícil você sedimentar uma cultura, o clima organizacional e até a parte de capacitação de equipes e de desenvolvimento de lideranças. Então muitas empresas optaram que, pelo menos uma vez por semana, uma vez por mês, se tivesse o presencial para tentar manter esse vínculo, essa cultura e esse clima organizacional."

Sobre áreas em que os trabalhadores mais se mantêm ainda em trabalho remoto, a especialista destaca a de TI, a de comercial, com as plataformas de e-commerce e as de recrutamento e seleção. Já na área da saúde, ele comenta que a telemedicina é uma realidade que se manteve, assim como os atendimentos psicológicos.

"Hoje pessoas trabalham aqui no Brasil para empresas da Europa, dos Estados Unidos, remotamente, assim como psicólogos que começaram na pandemia as terapias online e que permanecem até hoje com essa possibilidade de terapia."

Com relação às remunerações, Valéria reforça que empresas de todos os portes passaram por esse processo de abertura de modelo de trabalho e que o nível salarial perpassa pela capacidade de pagamento da empresa e da função que o trabalhador ocupa.

Já sobre a carga horária, ela lembra que mais do que o controle de horas, muitas empresas adotam o controle de entrega, de produtividade. "Então, as pessoas são remuneradas de acordo com os seus volumes de entregas."