Indicado para a presidência da Petrobras, Adriano Pires desistiu de assumir o comando da empresa depois de o governo Bolsonaro receber informações de que o nome dele não passaria no "teste" de governança da empresa.
A desistência, comunicada ao Palácio do Planalto, vem depois de o Estadão revelar que o Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) pediu que Pires fosse impedido de assumir o cargo enquanto não houvesse uma investigação do governo (Controladoria-Geral da União e Comissão de Ética) e da Petrobras sobre a atuação dele no setor privado.
Ele foi indicado pelo governo como o terceiro presidente da Petrobras. Antes do general Silva e Luna, que ainda está no cargo, o comando era de Roberto Castello Branco.
Como sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (Cbie), Pires tem contratos de longo prazo com petroleiras e empresas de gás, como a Cosan. Ele teria que abrir mão dos negócios. Segundo fontes, Pires achou que daria simplesmente para passar para o filho, o que não é permitido pelas regras de governança da estatal.
Com o impedimento, ele decidiu abrir mão do comando da Petrobras.
A checagem do nome de dirigentes por empresas de fora da Petrobras é uma obrigação das regras da estatal, que tem ações na Bolsa. Com o alerta da Petrobras apontado conflito de checagem, os patrocinadores da indicação de Pires no governo foram retirando o apoio.
Equipe econômica apontava restrições
Alinhado com o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque, a indicação de Pires também é vista com restrições por integrantes da equipe econômica que participaram das negociações da lei do gás.
Na votação da Medida Provisória que permitiu a privatização da Eletrobras, Pires se aproximou de lideranças do Centrão, entre eles, o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), que teria pavimentado o acesso dele e de Pires ao gabinete de Bolsonaro.
Em reuniões com representantes do Ministério da Economia, Pires defendeu os interesses das empresas ao patrocinar os "jabutis" (medidas estranhas ao projeto, como a exigência na contratação de térmicas) que foram colocados na nova legislação, o que irritou os negociadores do Ministério da Economia.
Na época da escolha de Pires para o comando da Petrobras, o sentimento foi de perplexidade no time do ministro da Economia, Paulo Guedes. O maior conflito de interesse de Pires é a ligação com o empresário Carlos Suarez, dono de distribuidoras de gás, e Rubens Ometto, da Cosan.
Após decisão de Pires, funcionários da Petrobras comemoram a desistência com a avaliação de que a governança estava sendo suficiente para impedir nomeações que possam complicar os rumos da empresa.
Landim também recusa
Além de Pires, o empresário Rodolfo Landim já tinha comunicado o governo, na madrugada de sábado (2) para domingo (3), que decidiu recusar a indicação para presidir o Conselho de Administração da Petrobras porque também recebeu avisos de que não passaria no teste de governança.
Landim havia sido indicado para o cargo em 28 de março, junto com o nome de Pires para a presidência da estatal. Em carta endereçada ao ministério, Landim, que também é presidente do Flamengo, afirma que, "apesar do tamanho e da importância da Petrobras para o nosso País, e da enorme honra para mim em exercer este cargo", decidiu abrir mão da indicação e concentrar-se na administração do time.