Após a Americanas divulgar os resultados preliminares da investigação independente sobre a fraude que escancarou um rombo de mais de R$ 20 bilhões em seu caixa, as ações da empresa subiram quase 20% nesta terça-feira (13).
O relatório foi apresentado nessa segunda-feira (12) ao Conselho de Administração da companhia, segundo o Globo. O texto mostrou um esquema de contratos sem a efetiva contratação de fornecedores e com a participação de diretores, incluindo o ex-CEO Miguel Gutierrez.
Os documentos indicaram ainda que as demonstrações financeiras da empresa estavam sendo fraudadas pela diretoria anterior e revelaram os esforços da antiga gestão em "ocultar do Conselho de Administração e do mercado em geral a real situação de resultado e patrimonial da companhia".
A fraude, conforme a apuração, ocorreu por período "significativo" e atingiu, em números preliminares e não auditados, o montante de R$ 21,7 bilhões em 30 de setembro de 2022. Também foram identificados diversos contratos de verba de "propaganda cooperada" e instrumentos que teriam sido criados para melhorar os resultados operacionais da empresa. Os contratos fictícios eram lançados como redutores de custo, mas sem a efetiva contratação de fornecedores.
Financiamento de compras
A investigação apontou que, para gerar o caixa necessário para a continuidade das operações da Americanas, a diretoria anterior contratou uma série de financiamentos "sem as devidas aprovações societárias e todas inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial" da empresa no dia 30 de setembro do ano passado.
No relatório, são detalhadas as operações:
- Operações de financiamento de compras (risco sacado, forfait ou confirming) de R$ 18,4 bilhões;
- Operações de financiamento de capital de giro de R$ 2,2 bilhões.
A Americanas informou que "a indevida contabilização dessas operações de financiamento nos demonstrativos financeiros não permitiu a correta determinação do grau de endividamento da companhia ao longo do tempo".
Rombo bilionário
O rombo bilionário em torno de R$ 20 bilhões foi revelado no dia 11 de janeiro, por Sérgio Rial, após nove dias no cargo de CEO da Americanas. Ele assumiu o posto após a saída de Gutierrez, mas deixou o comando da empresa no mesmo dia em que denunciou as "inconsistências contábeis".
Com uma dívida acumulada de R$ 40 bilhões, a empresa entrou com pedido de recuperação judicial logo depois.
Miguel Gutierrez
Miguel Gutierrez comandou a Americanas por quase 20 anos e deixou a empresa no fim do ano passado, antes de o escândalo do rombo vir à tona. Antes dele, a investigação indicou a participação de outros diretores na fraude:
- Miguel Gutierrez, que deixou a companhia em 31 de dezembro de 2022;
- José Timótheo de Barros, afastado de suas funções executivas em 3 de fevereiro de 2023 e que comunicou sua renúncia em 1º de maio de 2023;
- Anna Christina Ramos Saicali, Márcio Cruz Meirelles, Fábio da Silva Abrate, Flávia Carneiro e Marcelo da Silva Nunes, também afastados em 3 de fevereiro de 2023.
Dos executivos envolvidos na fraude, segundo a investigação preliminar, um já foi ouvido. Gutierrez prestou depoimento no fim de março, em audiência fechada.