176 mil residências no Ceará recorreram ao crédito em julho, diz IBGE

Número é o segundo maior do Nordeste e foi motivado pela redução na renda das famílias decorrente da pandemia do novo coronavírus. Prática de pedir dinheiro a familiares e amigos ainda atinge 20,5% dos domicílios

Com a queda de renda durante a pandemia do novo coronavírus, as famílias cearenses buscaram mais crédito para conseguir sobreviver nesse período de dificuldade econômica. Levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgado ontem (20) e investigado pelo núcleo de dados do Sistema Verdes Mares, aponta que 176 mil domicílios no Estado tiveram algum morador que solicitou e conseguiu empréstimo.

O número é o segundo maior entre os estados da região Nordeste, atrás apenas da Bahia, que registrou concessões de empréstimos em 197 mil domicílios. Em terceiro lugar, aparece Pernambuco, com 111 mil residências.

O economista Ricardo Eleutério, conselheiro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon), lembra que, com a paralisação da atividade econômica, a tendência era que as famílias, empresas e mesmo o Estado se endividassem ao longo e ao fim da pandemia.

"Nós tivemos uma política monetária que possibilitou a redução dos juros e a expansão do crédito. Assim como as empresas tiveram uma queda no capital de giro e buscaram empréstimos para financiar os custos fixos, as famílias também tiveram perda integral ou parcial da renda e precisaram recorrer ao crédito para sobreviverem", explica.

Maior demanda

Eleutério ressalta que a baixa média de renda per capita no Ceará contribui para que mais pessoas no Estado demandem mais o crédito para que possam sobreviver em meio à pandemia. "Eu recebi uma informação nesses dias de que dos 26 estados e o Distrito Federal, dez deles têm mais pessoas cadastradas no Bolsa Família do que empregadas domésticas com carteira assinada. Isso dá quase 40% do País. O Ceará não está nessa condição, mas a estatística forte demonstra a dificuldade das famílias nesse momento", pondera o economista.

Origens

Ainda conforme o IBGE, a maioria dos empréstimos, cerca de 79% (139 mil domicílios), foram provenientes de um banco ou instituição financeira no mês passado. Ainda assim, uma parte significante do total, aproximadamente 20,5% (36 mil residências), têm origem em dinheiro que foi emprestado por parentes ou amigos.

Eleutério afirma que, apesar do corte da Selic, atualmente em 2%, os juros na ponta, do cheque especial e do cartão de crédito, por exemplo, não são tão baixos. "Eles são múltiplos da Selic. E mesmo com a redução, empresas e pessoas tiveram dificuldade em acessar o crédito, recorrendo a recursos disponibilizados nesse mercado informal, paralelo", diz.

Ele ainda lembra que há uma parcela considerável da população brasileira desbancarizada e, portanto, sem acesso aos empréstimos do sistema financeiro.