Um dia para lutar por direitos

Às vésperas de mais um Dia do Trabalhador Doméstico, as queixas ainda são muitas. Entre elas, salário justo

Marlene foi “herdada” da filha. Com muito gosto. É hoje uma companhia para todas as horas da escritora Heloísa Helena. Somados os 18 primeiros anos na casa da filha e os quatro últimos na da mãe, Marlene contabiliza 22 anos de dedicação à família Caracas. “Sou feliz com eles. Tenho minha carteira assinada e meus fins-de-semana livres. Reclamar? Não tem de quê”. Realidade essa que ainda não se faz plena para a maioria dos empregados domésticos.

Apesar de representar em torno de 7% da população ocupada do Ceará e de ter crescido significativamente seu nível de instrução — em 2000, 11,94% tinham o Ensino Médio. Em 2006, esse número pulou para 26,86%, o que representa um crescimento de 125% —, o trabalhador doméstico ainda tem muitas queixas que podem impedí-lo de comemorar neste seu dia 27 de abril.

Pouco mais de 17% tem acesso a direitos trabalhistas e sociais, enquanto cerca de 68% não recebe sequer um único benefício. Oitenta e três por cento não têm carteira assinada e apenas 10% ganham mais de um salário mínimo. É o que o coordenador de Estudos e Análises do Mercado de Trabalho do Sine/IDT, Erle Mesquita, afirma com base no estudo “Emprego doméstico em Fortaleza”, de 2006.

Além disso, aponta a presidente do Sindicato dos Trabalhadores Domésticos do Estado do Ceará (Sintdec), Rosângela Silva de Castro, um outro grande entrave é a falta de qualificação. Segundo ela, o universo de trabalhadores qualificados não ultrapassa os 20%. “No ano passado, o sindicato ofereceu 17 cursos profissionalizantes, mas apenas 3.600 domésticos se inscreveram. Desses, 1.520 chegaram até o fim do curso. Falta interesse”, não nega, Rosângela, a auto-crítica.

Apesar de não ser focado no empregado doméstico, mas no de diarista, uma opção é o programa Centro do Trabalhador Autônomo (CTA). Lá, além de treinamentos gratuitos nas áreas de lavagem e passagem de roupa, faxina domiciliar e serviços gerais, o interessado assiste à palestra informativa sobre como se relacionar com o cliente e desenvolver de forma responsável seu trabalho. Vale-transporte é fornecido para locomoção e não há exigência quanto à idade e à escolaridade. Mais informações pelo número 0800.851524.

Ludmila Wanbergna
Repórter