Saiba quais vias com redução de velocidade em Fortaleza registram mais multas por excesso do limite

Quantidade de infrações em cada rua e avenida é influenciada por dinâmicas específicas dos condutores. Durante a pandemia, motociclistas contribuíram para aumento de ocorrências.

A redução da velocidade máxima no em ruas e avenidas tem sido apontada mundialmente como a saída para diminuir índices de morte no trânsito. Em Fortaleza, até o início deste mês, 50 vias passaram a ter o novo limite de velocidade em 50 km/h, mas há outras com 40 km/h e até 30 km/h. Mas quais delas geraram mais multas por dirigir acima do permitido nos últimos três anos?

O Diário do Nordeste recebeu, via Lei de Acesso à Informação (LAI), um levantamento de infrações registradas por fotossensores em 25 vias com redução da velocidade que, até setembro deste ano, já poderiam gerar multas - isso porque há outras ainda em período educativo. 

Os dados são do Núcleo de Tecnologia da Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (Nutec/AMC) e se referem ao período de janeiro de 2019 a julho de 2021.

 
 

A Avenida Leste-Oeste, primeira a passar para 50 km/h na Capital, em 2018, ocupa a primeira colocação, com mais de 76 mil infrações no período.  Em seguida, vem a Avenida Osório de Paiva, com 41,7 mil multas, que em sete meses de 2021 já superou o total de 2020. 

Completando o trio principal, ficou a Avenida Fausto Cabral, no bairro Vicente Pinzón, com acumulado de 39, 6 mil (embora tenha passado por uma redução acentuada em 2021).

 

Confira abaixo a lista das 10 vias com mais infrações:

 
A doutoranda em Engenharia de Transportes e professora do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Fortaleza, Camila Bandeira, pondera que, apesar de serem dados isolados, sem detalhamento do tipo de transporte ou horário das infrações, as multas em si representam desrespeitos às leis de trânsito.
 
Uma das hipóteses levantadas por ela para o aumento em algumas avenidas se refere ao maior fluxo de entregadores de delivery na cidade durante a pandemia, com prazos apertados para cumprir as metas, ao mesmo tempo em que havia menos veículos nas ruas.
 
“Com um fluxo mais livre, talvez você se sinta mais tentado a exceder velocidade, apesar de todas as regras e de todas as mudanças no trânsito que Fortaleza passou. O trânsito com fluxo livre se torna mais convidativo ao excesso de velocidade e ao descumprimento de semáforo, por exemplo”, destaca.
 
A superintendente da AMC, Juliana Coelho, confirma a hipótese. Em 2020, com a redução de 80% no fluxo de veículos, motociclistas foram na contramão das expectativas e contribuíram para o aumento não só de infrações, mas também de acidentes.
 
 
Já em 2021, ela explica que a variação na aplicação de multas depende do comportamento de cada via. Na Leste-Oeste, ocorreu uma redução de 10% (de 14.924 de janeiro a julho de 2020 para 13.518 no mesmo período deste ano), “o que é um dado bastante positivo porque, depois de quase dois anos, as pessoas têm criado uma consciência”.
 
Por outro lado, na Osório de Paiva, que corta uma região onde o poder aquisitivo é menor, houve acréscimo também relacionado ao maior tráfego de motos. 

Radares trocam de lugar

Juliana esclarece que, na Capital, a fiscalização é feita de três formas: a eletrônica, por agentes de trânsito ou por videomonitoramento. No primeiro caso, são priorizadas as vias onde onde há maior quantidade e gravidade de acidentes. 
 
Com o acompanhamento dos dados, quando determinadas vias passam por uma redução de acidentes, o órgão remove os equipamentos e os realoca em vias mais críticas. 
 
“Sempre fazemos isso para que o condutor não fique acostumado com aquele equipamento no local e aquilo não passe a ser só um ato de obediência, porque muito mais importante do que não ser autuado é perceber que, tomando ações corretas no trânsito, você preserva a vida de outras pessoas”, destaca.
 
Em algumas vias onde não é possível instalar os radares eletrônicos, existe a presença de câmeras de videomonitoramento e uma rotina de fiscalização dos agentes. Nelas, os condutores também estão sujeitos à verificação de outras infrações, como avanço de sinal vermelho e estacionamento irregular.
 

Quanto é a multa?

Infrações por excesso de velocidade variam de média a gravíssima, segundo o Código de Trânsito Brasileiro (CTB), a depender do percentual excedido: 
 
  • até 20% a mais do que o limite estabelecido: infração média, quatro pontos na Carteira Nacional de Habilitação e multa no valor de R$ 130,16;
  • de 20% a 50% acima do limite: infração é grave, cinco pontos na CNH e multa de R$ 195,23; 
  • acima de 50% do limite: infração gravíssima, sete pontos na CNH, multa de R$ 880,41, apreensão da carteira de habilitação e suspensão do direito de dirigir.

Reduzir a velocidade diminui acidentes mesmo?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a readequação da velocidade de 60 km/h para 50 km/h em uma via aumenta em até dez vezes a chance de uma pessoa atropelada sobreviver.
 
 
Para avaliar se a medida é realmente eficaz, a AMC realiza estudos esporádicos sobre o desempenho das vias. Entre 2016 e 2020, as avenidas analisadas passaram por uma redução média de mais de 60% em acidentes com mortes.
 
 
Além da redução de velocidade, intervenções viárias nos últimos anos abrangem a expansão de áreas para pedestres e ciclistas, a fim de reduzir conflitos, acidentes e mortes. Com 193 óbitos, 2020 foi o sexto ano consecutivo de redução de mortes no trânsito da Capital. Neste ano, até outubro, foram 155 registros.