Moradores da Rua Morro Branco, na Barra do Ceará, bairro da orla Fortaleza, vivem na incerteza. Na última década, as edificações da área sofrem rachaduras e fissuras constantes, trazendo o risco real de desabamentos na vizinhança. Como o bairro tem alta densidade populacional, eles temem que qualquer incidente afete outras casas próximas.
“Quem segura essa casa é Deus”, confessa a doméstica Maria Alicy, 73 anos, moradora de lá há mais de 40. Ela divide um duplex com o esposo, de 82 anos, e as famílias de mais quatro filhos. É perceptível que a base da casa está cedendo e, as paredes, se descolando umas das outras.
“O que eu tenho gasto nessa casa dava pra eu ter feito um apartamento lá na Aldeota. A gente já trabalhou muito nela. Nunca tivemos o prazer de dizer ‘nosso 13º vai ser pra fazer uma viagem’, porque o dinheiro vem pra cá. A vida da gente é essa”, revela Alicy.
A algumas casas dela, o comerciante José Ribamar dos Santos, 69, que também habita a Morro Branco há 40 anos, explica que a área era utilizada como um lixão. Oficialmente, esse uso ocorreu entre 1961 e 1965, segundo os registros históricos, que indicam ainda o surgimento dos primeiros catadores da cidade a partir do chamado “Lixão da Barra”.
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O próprio Ribamar lembra que, há dois anos, precisou realizar reparos na casa dele. Mesmo assim, pequenas fissuras voltaram a riscar as paredes brancas. “Racha aqui, eu faço. Racha ali, eu faço. Se rachar de novo, tenho que tomar alguma providência, é o jeito. Não sei daqui a uns anos, porque o terreno vai cedendo”, afirma o idoso.
Pouco adiante, um dos prédios ameaçados foi interditado pela Prefeitura de Fortaleza em outubro de 2014. O local era ocupado por uma família que chegou a ingressar com ação judicial contra a Companhia de Habitação do Ceará (Cohab), tecnicamente dona do terreno, para obter um alvará de demolição e evitar que o imóvel prejudique prédios vizinhos, caso venha a cair.
No processo judicial ao qual a reportagem do Sistema Verdes Mares teve acesso, a Cohab alegou que o Conjunto Planalto das Goiabeiras, onde o imóvel foi construído, “encontra-se em fase de Regularização Fundiária junto ao Cartório de Registro de Imóveis, de modo que ainda não foi regularizado”.
Vistorias
A Defesa Civil de Fortaleza informou, por nota, que já esteve na Rua Morro Branco nesta semana e atendeu a três ocorrências. Duas residências estavam fechadas e não foi possível entrar para verificar a situação. “O próximo passo é identificar e localizar os proprietários para que os agentes possam entrar nas casas”, declarou o órgão.
Na terceira habitação, os agentes identificaram risco de desabamento, e o proprietário já foi notificado. “Em caso de risco, a Defesa Civil de Fortaleza deve ser acionada via Ciops, através do fone 190. As equipes trabalham em regime de plantão, 24h, para atender as ocorrências demandadas pela população”, completa.