No início deste mês de setembro, entre os dias 5 e 11, o Ceará registrou o menor número de testes que resultaram positivo para a Covid-19 desde a primeira onda da pandemia. O dado consta no IntegraSUS e, tecnicamente, se refere à 36ª semana epidemiológica, que analisou 5.806 testes. Desses, 93,28% (5.416) deram negativo e apenas 6,72% (390) deram positivo.
Embora a frequência da testagem tenha também diminuído nas últimas semanas — houve queda de 36,2% da semana 35 para a 36, por exemplo —, o dado aponta uma “situação confortável” da pandemia no Estado, segundo especialistas. Porém, com o afrouxamento sistemático das regras sanitárias e a presença de variantes do vírus como a Delta e a Mu, o receio é que esse cenário sofra um revés ainda esse ano, apesar dos avanços na vacinação.
Coordenador do Centro de Inteligência em Saúde do Ceará, o cientista-chefe José Xavier Neto acredita que os ciclos epidêmicos da Covid-19 estão atrelados a datas comemorativas que promovem aglomeração, especialmente, ele diz, o Carnaval.
“Não tem nenhuma indicação [ainda] que [o ciclo da doença] seja sazonal. É mais ligado ao comportamento. [...] E temos certa preocupação no Estado porque já existem municípios que estão com transmissão comunitária de Delta. Como ela tem sido sugerida mais infecciosa, a gente fica preocupado com essa combinação de transmissibilidade maior e afrouxamento das medidas sanitárias pela população. Porque, será que isso vai gerar um ciclo epidêmico antes do Carnaval? É a pergunta mais relevante do ponto de vista epidemiológico”, provoca.
Contudo, o especialista reconhece que a imunização de parte considerável da população somada ao fato de que algumas pessoas podem ainda ter certo grau de imunidade por terem sido infectadas pelo vírus contribui para barrar o alastramento das variantes. “Essas vacinações que estamos fazendo agora podem até não evitar uma [terceira] onda depois do Carnaval, mas vão limitar muito o tamanho e a duração dela”, aposta Xavier.
Preocupação com a Delta
Reforçando a urgência em acelerar a vacinação completa, pelo menos, da população adulta, a epidemiologista Lígia Kerr, professora-titular do programa de pós-graduação em Saúde Pública da Universidade Federal do Ceará (UFC), também se diz preocupada com a combinação entre a variante Delta e o afrouxamento das medidas sanitárias.
A Delta é uma variante muito perigosa porque o vírus se multiplica muito dentro do nosso organismo. A carga viral é extremamente elevada, mais do que as primeiras variantes”
Para evitar, portanto, que a variante provoque um estouro de casos no Estado, a epidemiologista recomenda manter e reforçar medidas como distanciamento social, uso de máscara e higiene das mãos. “Se fizermos essas coisas, avançando na vacinação, poderemos impedir que a Delta provoque curvas desesperadoras [de casos da Covid-19]”, assegura.