Um grupo de pesquisadores cearenses produziu moléculas sintéticas derivadas de proteínas de plantas que evitariam a infecção pelo novo coronavírus, o que pode ser um passo para o desenvolvimento de um medicamento contra a doença. O trabalho está exposto na Science Direct, uma página que abriga aproximadamente 2.500 revistas científicas e mais de 26 mil e-books.
O estudo, que começou há cerca de cinco meses, foi idealizado por Francisco Eilton Lopes, biólogo e bolsista lotado no Centro de Educação Permanente em Atenção à Saúde da Escola de Saúde Pública do Ceará (CEATS-ESP/CE); o pós-doutor em Ciências Biológicas pela Universidade de Nebraska, nos Estados Unidos, Pedro Filho Noronha de Souza; os professores doutores José Tadeu Oliveira e Cleverson Diniz Teixeira de Freitas; e o doutorando em bioquímica na UFC, Jackson Amaral.
A pesquisa conta com o apoio do Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade Federal do Ceará (DBBM/UFC), ESP/CE e Núcleo de Biologia Experimental da Universidade de Fortaleza (Nubex-Unifor).
A ideia, de acordo com Francisco Eilton, surgiu por causa da situação catastrófica que a disseminação do vírus causou no mundo. “A atual emergência global em saúde pública nos fez iniciar a busca por novas drogas contra as principais proteínas virais de SARS-CoV-2, o novo coronavírus”, informa.
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Como funciona
As moléculas sintéticas foram desenhadas por probabilidade e sintetizadas em São Paulo, utilizando sequência de proteínas das plantas acácia-branca, mamona e erva-estrelada, que já possuíam histórico experimental contra outros vírus.
A produção teve como alvo a Spike glycoprotein, principal proteína do novo coronavírus. Com forma de espinho e exposta para o lado de fora do envelope lipídico do vírus, ela também é importante no reconhecimento de outra proteína presente nas células humanas, chamada de ACE2.
Ao interagir com a Spike glycoprotein do SARS-CoV-2, a ACE2 funciona como uma porta de entrada para as demais células humanas, iniciando a replicação viral e a infecção, conhecida como Covid-19. Os resultados obtidos sugerem que as moléculas sintéticas produzidas pelos pesquisadores locais podem interagir com a Spike glycoprotein e impedir a ligação dela com a ACE2. Sem essa interação, o vírus não pode entrar na célula, não se replica e, portanto, a infecção não ocorre. Das oito moléculas produzidas, duas impossibilitaram a interação.
Inédito
Segundo Francisco Eilton, trata-se do primeiro relato na literatura mundial em que moléculas desse tipo específico, ou seja, criadas em laboratório, podem impedir a infecção por Sars-Cov-2. Pedro Filho relata que o estudo é todo feito em simulação, processo denominado de “in silico”. “O diferencial é que não tinha sido realizado nenhum tipo de estudo com essas moléculas, peptídeos. A nossa análise sugeriu que esses peptídeos podem impedir a entrada do novo coronavírus nas células”, explica.
O trabalho dos cearenses ainda não foi testado em vittro, mas deve acontecer em breve. De acordo com os pesquisadores, eles estão em contato com uma empresa alemã. “Estamos conversando, já está bem avançado”, relata Pedro Filho.
A UFC fará o pedido de patente do experimento ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI).
Repercussão
A descoberta despertou o interesse da comunidade científica internacional. O trabalho foi publicado na revista International Journal of Biological Macromolecules, editada pela Elsevier, umas das maiores editoras científicas do mundo.
Francisco Eilton reconhece o valor do estudo e a publicação. “Nós submetemos o trabalho a revista e eles tem um rigor muito alto. É uma pesquisa inovadora na área”, finaliza.