Método Canguru: afeto para promover saúde de bebês

Apesar dos benefícios, o Brasil tem 1.465 leitos a menos que o ideal. No Ceará, na Maternidade Escola, são apenas cinco

As dúvidas da adolescência ainda nem tinham ido embora quando Camila Gomes, 28, recebeu Alícia, há 11 anos, na Maternidade Escola Assis Chateaubriand (Meac). Se ser mãe já é transformação complexa, vivenciá-la aos 16 foi desafio dobrado para a autônoma - superado com o auxílio do Método Canguru, que completa 20 anos de prática no Ceará, focando no reforço do vínculo afetivo com a família para desenvolvimento do bebê.

"Passei 15 dias na Unidade Canguru, e foram os melhores da minha vida, porque lá aprendi a ser mãe. Eu não estava pronta para cuidar de uma criança prematura. Com o método, aprendi e saí pronta para cuidar da minha filha", relembra.

A posição canguru consiste em manter o recém-nascido prematuro ou de baixo peso (menos de 2,5kg) em contato pele a pele junto ao peito dos pais ou de outros familiares, conforme descreve a Portaria Nº 1.683/07, do Ministério da Saúde, que orienta a prática no Brasil. Segundo a chefe da Unidade Canguru da Meac, Rosalina Araújo, o método é, além de política pública de saúde da mulher e da criança, "uma filosofia de trabalho".

"Ele melhora a qualidade de atendimento dos bebês desde a gravidez, passando pelo parto humanizado. Existe um cuidado especial com o prematuro porque tem possibilidades de complicações, mas é aplicável a todos os bebês", explica. Atualmente, a Unidade Canguru da Meac conta com cinco leitos para atendimento de mães e filhos, que devem ser expandidos para 12, sem prazo informado.

Em Fortaleza, o centro de referência na adoção do método é a Meac, que iniciou a prática dois anos antes de se tornar política pública, no ano 2000. Para Rosalina, o fortalecimento do vínculo afetivo entre mãe e filho "já seria justificativa suficiente" para adoção do Canguru, mas a isso se agregam, ainda, os benefícios à saúde física do bebê. "O pele a pele ajuda no desenvolvimento da criança porque ela sente a mãe, desenvolve o equilíbrio. A mãe tem uma flora normal de bactérias, então o bebê já desenvolve anticorpos e combate a flora patogênica. Além disso, gera diferença imensa no aleitamento, contribuindo para a produção de leite", lista a neonatologista da Meac.

Experiências

Esse "pele a pele", aliás, torna Talita Alves, 20, e as gêmeas Isabele e Alice, de 22 dias, uma só, aninhadas o dia inteiro sobre o peito. Nascidas com apenas 31 semanas e meia, as "surpresas dobradas" da mãe de primeira viagem vieram por parto cesárea. "Meu primeiro contato com a Alice foi pelo método, porque ela ficou duas semanas na UTI, entubada. Eu pensei que não ficaria com elas, entrei em desespero. Mas o Canguru salvou, e contribui demais para ela crescer, se desenvolver, e para me passar confiança", relata Talita, que precisa revezar as pequenas junto ao peito a cada uma hora e meia, já que o pai "ainda não tem coragem, porque são muito molinhas".

A miudeza de Kaíque também assustou a dona de casa Mardna Barros, 26, apesar de já ser o seu quarto filho, o primeiro a precisar do Canguru, cuja contribuição no desenvolvimento, segundo a mãe, é visível. "No começo, fiquei muito angustiada em ver ele tão pequeno, mas a cada dia vejo melhora. Ele já tá pegando o peito!", anima-se.

No Brasil, segundo a consultora da Coordenação Geral de Saúde da Criança e Aleitamento Materno do Ministério da Saúde, Luiza Machado, 132 maternidades aplicam o Método Canguru, e 714 leitos são habilitados como Unidades de Cuidado Intermediário Neonatal Canguru (Ucincas). A necessidade, porém, é de 2.179.