Ceará é o estado brasileiro que mais apostou na testagem em massa como estratégia no enfrentamento ao novo coronavírus. Até ontem (31), conforme a última atualização da plataforma IntegraSus, 116.257 exames já haviam sido coletados. 53.151 ainda estavam em análise. Agora, uma nova estratégia sanitária será implementada: o inquérito sorológico, que permite um panorama mais concreto sobre o atual cenário de propagação do SARS-CoV-2. A medida vai acontecer em Fortaleza, epicentro local da pandemia, a partir da próxima terça-feira (2) com 9,9 mil testes rápidos em 39 bairros das seis Secretarias Executivas Regionais (SERs).
A "Pesquisa de Soroprevalência da Covid-19 na cidade de Fortaleza", parceria das secretarias Estadual (Sesa) e Municipal de Saúde (SMS), vai realizar 3.300 exames em cada uma da três fases com intervalos de 10 a 15 dias. Conforme o cronograma do estudo, que tem coordenação operacional do Instituto Opnus de Pesquisa e Opinião, a primeira rodada de coletas acontece do dia 2 a 12 de junho. A segunda será entre 25 de junho a 5 de julho, finalizando em 16 a 26 de julho.
Cada SER vai receber 550 testes. No entanto, a distribuição entre os bairros não será igualitária, sendo de 50 ou 200 exames. Isso porque a pesquisa levou em consideração a taxa de contaminação individual e a densidade populacional. Os bairros que terão o número máximo de testes são: Barra do Ceará, Pirambu-Cristo Redentor (Regional I); Vicente Pinzon-Cais do Porto, Meireles-Aldeota (Regional II); Quintino Cunha e Autran Nunes-Dom Lustosa (Regional III); Parangaba e Itaperi-Serrinha (Regional IV); Granja Lisboa-Granja Portugal e Planalto Ayrton Senna-José Walter (Regional V); Jangurussu-Palmeiras e Messejana-Barroso, na Regional VI.
O levantamento, também conhecido como inquérito sorológico, tem o objetivo de estimar o percentual de fortalezenses com anticorpos para o novo coronavírus, o índice de pacientes assintomáticos, isto é, que possuem a infecção, mas não manifestam sintomas, além de obter cálculos precisos da letalidade da doença na Capital. É possível ainda analisar a velocidade de contaminação da Covid-19 ao longo do tempo.
De acordo com a secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Magda Almeida, os números vão auxiliar as Pastas a entenderem a dinâmica da doença. "Vamos avaliar o número de pessoas que já tiveram contato com o vírus e desenvolveram anticorpos. Assim, poderemos entender quantas pessoas estão suscetíveis a pegar".
O gerente da Célula de Vigilância Epidemiológica da SMS, Antônio Lima, explica que o inquérito sorológico poderá contribuir para aumentar o monitoramento e rastreamento de casos pela Atenção Básica em áreas de maior circulação do vírus. "É o primeiro inquérito desse nível a ser realizado no Brasil, durante a pandemia", enfatiza.
O diretor do Instituto Opnus, Pedro Barbosa, reforça que a partir da consolidação dos resultados dos testes rápidos, será possível aferir o quadro geral de infecção na Capital e a situação detalhada das regionais. Para os "bairros-chave", aqueles com mais moradores e números alarmantes de casos positivos, onde foram reservados 200 testes, serão feitos relatórios individuais.
"Por exemplo, na Regional I, dos 550 testes, 200 serão na Barra do Ceará. Nós conseguimos trazer o resultado específico para esse bairro. Já os bairros com 50 testes, não iremos considerar como resultado individual, porque não é uma quantidade suficiente para conclusões sobre a situação real deles, mas eles irão contribuir para que consigamos compreender a situação geral do município e da regional". As amostragens serão colhidas por enfermeiros da SMS, com apoio de campo de Agentes Comunitários de Saúde e supervisores do Instituto Opnus. Os profissionais envolvidos nas coletas estarão usando Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), cumprindo a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS).
Dentro dos bairros, os setores censitários do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que são "um conjunto de quarteirões", já foram sorteados. É lá onde os pesquisadores farão os testes. Porém, a escolha da casa deverá ser de forma sistemática. "Vai para um domicílio, pula alguns e aborda outros", sugere Pedro Barbosa.
Em cada casa, um morador será testado. A seleção ocorrerá por meio de sorteio entre os residentes. Não há um recorte específico para a população, ou seja, pessoas de todas as idades, gêneros, com ou sem comorbidades poderão ser submetidas ao exame. No caso dos menores de idade e incapazes, é obrigatório a autorização do responsável.
"As rodadas de testes acontecerão nos mesmos bairros, mas com pessoas diferentes. A partir de onde encerrou a última fase, inicia-se uma nova. Se eu terminei na Rua X, Casa B, a rodada seguinte deve ser na próxima residência, sempre percorrendo os quarteirões indicados", completa.