Liceu celebra trajetória de 170 anos

A escola pública comemora o aniversário com o desafio de viver o presente, carregando um passado de glória

O Liceu do Ceará é hoje a terceira escola mais antiga do Brasil. Neste segunda-feira (19), completa 170 anos com o desafio de viver o presente, carregando um passado de glória. Em sua trajetória, misturam-se histórias de grandes nomes da terra, como Edson Queiroz, Senador Pompeu, Barão de Studart, Rodolfo Teófilo, Frei Tito; e de ilustres desconhecidos, do Estado e da Educação.

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Para o professor Auriberto Cavalcante, ex-aluno da escola e organizador do livro Liceu do Meu Tempo I e II, é impossível exigir que após tantos anos e tantas mudanças sociais e nas diretrizes da Educação ele continuasse o mesmo. "O povo fala que do Liceu saía a elite intelectual da cidade. Hoje, não é assim. É preciso entender que antigamente existia teste de seleção rigorosíssimo para entrar na escola. Os professores eram os melhores da cidade, todos catedráticos, que também eram sabatinados antes de entrarem e ganhavam um salário comparado ao de desembargador", justifica.

O pesquisador diz que o enfraquecimento do Liceu começou nos anos de 1960, com a criação de outras escolas com o mesmo nome, o enfraquecimento pedagógico e as reformas pedagógicas durante a Ditadura Militar. "A escola, em geral, foi perdendo muito a partir dos anos 60. Os valores de hoje em relação à educação mudaram muito. Tínhamos orgulho daquela farda. Era uma magia estudar lá e isso passar por uma riqueza imaterial".

Tanto que é a recuperação dessa magia que o atual núcleo gestor, capitaneado pela diretora Catarina Inês Almeida, tem como principal meta. "Queremos trazer de volta o orgulho. E só conseguiremos, se resgatarmos a qualidade do ensino. É importante a sociedade ver os bons resultados no Enem, ver aluno nosso se formando médico, ganhando bolsa para estudar fora do País, ganhando competições de xadrez", pontua ela, que hoje é responsável por 1.200 alunos (três turnos). Desses, de 30% a 40%, vão para a universidade. "É preciso compreender que o Liceu só apresentará bons resultados se a base dos alunos que chegam for boa", observa Auriberto.

A maior dificuldade ainda é a questão disciplinar, segundo a diretora. A situação piora, sobretudo, porque a família não se integra. "Não somos uma escola de bairro. Temos pessoas que moram na Caucaia, Aquiraz. Fica difícil, mas temos tentado envolver a família também", diz.

Reforma

É preciso atentar para a necessidade de investimentos. A última grande reforma foi no governo Lúcio Alcântara (2003-2007), que também é liceista. "Nós queríamos uma reforma. Queríamos até mudar a entrada, resgatando a originalidade do prédio", sonha a diretora.

Rita Fernandes Rodrigues, 76, está há quase 50 anos entre as paredes da escola. De estudante a funcionária, viveu a vida por lá. Se tornou mãe, levou os filhos e netos para estudar na mesma sala que a recebeu anos atrás e ressignificou suas relações. Inspetora, secretária, arquivista, assistente administrativa, o que Rita desempenha hoje é a função de guardiã da memória. "Já vi muita gente importante sair daqui. Mas o que me marcou mesmo foi ver um aluno, filho de lavadeira, ser aprovado no ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica). A mãe dele chegou chorando de emoção".

Se a mais antiga funcionária em atividade reclama dos alunos de hoje, compartilha, no entanto, do orgulho de ser liceista com a nova geração. Aparecida Naraila chega a se emocionar ao falar de sua escola. "Vim para cá porque eu trabalhava no Centro e essa era a escola mais próxima, o que me permitiria estudar e trabalhar. Mas agora não quero mais sair daqui. Quero me formar e ensinar", planeja.

Para Edilberto Gadelha, ou professor Gadelha, como é conhecido, é difícil separar as histórias de quem viveu e vive por lá da do Liceu. Ele, assim como Rita, foi aluno em 1978, começou a trabalhar em 1982 e, quando se formou em Geografia, virou professor em 1987.Desde então, todos os dias está lá, vendo os alunos aprender e ganhar asas.

 

SAIBA MAIS

 

1. As atividades escolares tiveram início em 1945, com 98 matrículas e direção de Senador Pompeu. Aulas ocorriam nas casas de professores;

2. Antes de ir para o Jacarecanga, em 1937, o Liceu passou por cinco sedes. A primeira sede própria foi na Praça dos Voluntários, no Centro;

3. O Liceu do Ceará é o terceiro colégio mais antigo. O primeiro é o Atheneu Norte-Rio-grandense e o segundo é o Colégio Dom Pedro II;

4. No início só podiam estudar homens. Depois, quando as mulheres foram liberadas, as salas eram separadas. Até que virou mista;

5. A primeira diretora do Liceu foi Ivany Veloso, em 1993. Até então, só homens dirigiam a escola.