Quando chegaram os primeiros casos de Covid-19 no Ceará, o Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto (HSM), em Fortaleza, no bairro Messejana - única unidade com emergência psiquiátrica pública do Ceará -, precisou adaptar algumas atividades. Para seguir com o acompanhamento ambulatorial de pacientes psiquiátricos, adotou a estratégia dos atendimentos remotos. Com isso, para reuzir os riscos de contágio do coronavírus, os pacientes são consultados por vídeochamada, conforme autorizado pelo Conselho Federal de Medicina.
O receio dos profissionais era de que, devido às restrições de atendimentos presenciais, os pacientes abandonassem o tratamento na unidade. Em março, o Hospital de Saúde Mental fez 1.325 atendimentos ambulatoriais. Mas, com a confirmação dos primeiros casos de Covid-19 no Ceará, foi preciso interromper as consultas presenciais. O teleatendimento teve início em abril e, conforme o Hospital, foi intensificado em maio. Em abril e maio foram feitas, respectivamente, 226 e 463 consultas ambulatoriais, nas modalidades presenciais e remotas.
Para o paciente Isaac Silva Costa, que tem diagnóstico de esquizofrenia e há quatro anos é acompanhado na unidade hospitalar, a experiência tem sido diferente. Morador de Messejana, ele relata que foi consultado remotamente uma vez, por videochamada nesse período. O atendimento ocorreu pelo whatsapp e apesar de responder à necessidade do momento, para ele, não é tão completo, pois: “sinto falta da presença, pois quando o psicólogo olha no olho da gente ele tem a sensibilidade de perceber como o paciente está”.
Isaac participa de atividades do ambulatório do Núcleo de Estudos em Esquizofrenia (Nuesq) do Hospital e, além das ações com psicólogos, toma medicação e tem consultas periódicas com psiquiatra. "Eu participo do grupo Interação. As profissionais de lá tem uma sensibilidade muito grande em relação aos pacientes. Nessa questão da pandemia, elas pensaram neste caderno de atividade para a gente não ficar perdido. É para alegrar um pouco e tirar a gente dessa situação, porque quem tem depressão e esquizofrenia, são coisas que um dia a gente tá bem, outro dia a gente tá mal mesmo. Você não consegue nem dormir. A questão é que sem o grupo a gente seria só mais um número", destaca.
A psicóloga dos ambulatórios do Nuesq e de Transtornos de Atenção e Impulsividade (ATAI) do Hospital, Ana Carla Castro, explica que diante da necessidade dos atendimentos terem continuidade e também para evitar que os pacientes fossem ao local somente renovar as receitas, eles propuseram as consultas remotas. “Muitos não conseguem (realizar videochamadas) e a gente dá um jeito de eles serem atendidos presenciais, sem acúmulo de pessoas, com somente um cuidador. Mas estamos priorizando a telemedicina. Nós ensinamos eles a usarem essas plataformas de videoconferência para poder acontecer a consulta", relata.
O contato telefônico também tem sido uma opção para tentar acompanhar os pacientes e os familiares. "Eu ligo semanalmente para os pacientes dos ambulatórios que eu faço parte, pergunto como estão, ouço a família, tiro dúvidas. Muitos deles não têm crédito para ligar para o Hospital para perguntar alguma coisa, mas a gente liga, informa. Não é ideal, mas está acontecendo a assistência", garante.
Além disso, os profissionais do Núcleo de Estudos em Esquizofrenia (Nuesq) perceberam que alguns pacientes estavam mais ansiosos e agitados em casa e decidiram tentar alguma ação que pudesse auxiliá-los nesse período de consultas online. Para isso, eles criaram um livro de atividades com tarefas educativas para serem feitas pelos pacientes nesse momento. Isaac recebeu o livro e diz que tem tentado inseri-lo em sua rotina. O material traz pinturas e desenhos temáticos que podem ser feitos individualmente.
Ao todo, a unidade realizou, desde o início da pandemia, 4.383 atendimentos emergenciais. No entanto, devido à pandemia, os atendimentos ambulatoriais tiveram que ser adaptados na unidade de saúde. As atividades, nesse setor, seguem ininterruptas pois, segundo a direção do Hospital, são urgências psiquiátricas que necessitam de abordagem presencial.