Hospitais têm buscado alternativas para amenizar a distância e confortar pacientes e familiares

Familiares relataram emoção ao realizar videochamadas com pacientes internados durante a pandemia

Unindo saudade à tecnologia, momentos de interação virtual - por meio de videochamadas - estão sendo cada vez mais comuns e cruciais durante a pandemia para amenizar as angústias de familiares e pacientes em internação. Com as restrições em torno da Covid-19, diversos hospitais do Estado têm buscado alternativas para amenizar a distância imposta pelas medidas de segurança do período.

De acordo com a diretora de gestão e atendimento do Hospital Regional Norte (HRN), Juliana Mendes Gomes, o processo de hospitalização, independentemente do diagnóstico e da criticidade dos pacientes, desperta muita ansiedade e interesse em torno da condição clínica dos enfermos. “Temos encontrado o meio eletrônico como uma estratégia para tornar esse contato possível”.

Para a gerente comercial Tatiana Rabelo, 38, a preocupação em torno do estado de saúde do seu pai, José Humberto, 65, foi angustiante. Ele ficou internado em estado grave durante 64 dias no Hospital São José (HSJ) em decorrência da Covid-19. “Ficávamos orando pela recuperação dele, a saudade era de todo dia a gente acordar e dormir chorando”.

Tatiana relembra também que foi revigorante poder ver o pai mesmo que à distância por meio do celular. “Foi maravilhoso só da gente conseguir ver ele. Ele interagiu pouco, mas só de ele balançar a cabeça de um lado pro outro e abrir o olho é uma esperança que dá pra família saber que ele pode viver, né?”.

Medidas

O Hospital São José (HSJ) disponibiliza os boletins clínicos diariamente aos familiares por uma equipe de médicos. O esquema, segundo a médica Tânia Mara Silva Coelho, diretora técnica do HSJ, é feito através de uma escala diária de três a quatro médicos ligando para as famílias. "Decidimos por isso porque tem muitos termos que as famílias querem saber e, normalmente, elas querem falar diretamente com os médicos mesmo". 

Mesmo assim, desde o ano passado, a médica cita que liberou o internamento dos pacientes com o celular como uma forma deles terem o contato com os familiares. "Quando a pandemia amenizou, no ano passado, a gente fez uma escala de visitas dia sim e dia não. Mas, quando tivemos novamente o pico nesse ano, restringimos de novo devido ao alto nível de contaminação", diz. 

A equipe de serviço social e da psicologia do HSJ também tem levado tablets aos leitos para um contato via videochamadas. "Há uma troca muito boa para as famílias", destaca Tânia.

Agora, além dos procedimentos citados, a médica destaca um, presencial, nos pacientes mais nervosos, prestes a entrarem em algum tipo de terapia. "Se a gente percebe que tem a possibilidade de haver intubação, por exemplo, chamamos a família para ter uma conversa e acalmar o paciente. É essencial".

"A gente sabe que essa questão da aproximação com a família, neste momento, é muito importante. Não só para o paciente, mas para levar confiança do hospital para esses parentes. É uma segurança pra família, que ora pela gente e agradece pelo nosso esforço. E isso melhora o quadro do paciente, pois faz com que o próprio se acalme e aceite o tratamento", declara a diretora técnica do HSJ, Tânia Mara.

A situação da internação torna-se ainda mais difícil entre os pacientes de idade tenra. Segundo a psicóloga do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), Clara Arruda, trata-se de “um momento em que a criança sai do meio familiar para um ambiente diferente, estranho, com uma rotina diferente da dela e isso já causa impacto, já é um mobilizador de danos emocionais para aquela criança”.

O Hias criou um projeto voltado à realização de videochamadas nas unidades em que há isolamento da família com o paciente. “O Projeto Acalentar não é de boletim médico e nem de parecer técnicos, é a oportunidade que a família vai ter de ver o bebê, de conversar com a criança e de realmente fazer aquela visita, mediada pela equipe da Psicologia e do Serviço Social”, explica a coordenadora do Serviço Social do Hospital, Luna Celedônio.

É de rasgar o coração e a alma de felicidade

Para Cristina Gama, 41, mãe da paciente Maria Beatriz, 10, que ficou internada em estado grave com histoplasmose - infecção causada por fungo - durante 56 dias no Hospital Infantil Albert Sabin, o momento em que soube que a filha estava se recuperando e poderia conversar por videochamada foi insubstituível.

Não tem explicação, foi o sentimento mais maravilhoso que uma mãe pode ter por um filho. Sentimento de vitória de ver a minha princesa de volta, falando. Foi o presente mais maravilhoso que eu poderia ter ganhado na vida, foi a vida dela de volta. É muito emocionante, é de rasgar o coração e a alma de felicidade. Pra mim foi tudo, tudo, tudo”
Cristina Gama
Mãe da paciente Maria Beatriz

Além disso, o Hospital Infantil Albert Sabin conta com o projeto Correio do Bebê, que reúne mensagens das famílias aos pacientes recém-nascidos internados no Centro de Terapia Intensiva Neonatal. “Os recados são lidos para as crianças e colados nas incubadoras no intuito de humanizar a internação dos pequenos e de manter a proximidade deles com as famílias”, comenta a coordenadora Luna Celedônio.