Estudo realizado na Universidade Federal do Ceará (UFC) identificou a relação entre infecção pela influenza durante a gestação e casos de parto prematuro - além da redução do peso dos bebês - em cearenses no período de 2013 a 2018. Os pesquisadores apontam ainda a relevância de adiantar a campanha da vacinação contra a gripe para antes da quadra chuvosa no Estado como forma de dar mais efetividade à imunização da população, sobretudo gestantes.
“A ideia do estudo é verificar o impacto da influenza em mulheres grávidas no Ceará e, para isso, fizemos análise pegando dados do Governo Federal e comparando com as campanhas de vacinação. Encontramos que existe relação também entre influenza e baixo peso nos recém-nascidos”, resume o pesquisador José Quirino Filho, doutorando em Ciências Médicas pela UFC.
O estudo analisou a relação entre gestantes com casos de influenza - classificados nos registros hospitalares como Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) - e a quantidade de partos prematuros durante os cinco anos. Ao todo, foram 3.297 casos da doença, sendo 145 em mulheres grávidas. Entre as mães que não tiveram a doença, a taxa de prematuridade foi de 10,7% enquanto as mulheres com histórico da infecção respiratória durante a gravidez foi de 15,5%.
Existe um formulário de SRAG apenas com pessoas que são internadas para que a notificação seja feita do Hospital para o Ministério da Saúde. Foram essas pessoas analisadas, mas o número pode ser muito maior porque há grávidas que tiveram a doença e não foram hospitalizadas
Os pesquisadores também identificaram a relação entre a doença nas gestantes e o peso dos bebês: 122 nascidos de mães que não tiveram infecção respiratória pesaram 3,2 quilos em média. Já os 61 bebês nascidos entre as mulheres que tiveram gripe durante a gestação pesaram, em média, 2,8 quilos ao nascimento.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Núcleo de Biomedicina (Nubimed), da Faculdade de Medicina da UFC, com a participação dos professores Álvaro Leite, Aldo Lima, José Filho, Francisco Junior, Alberto Soares, Thaisy Lima, Vânia Viana e Jaqueline Burgoa. O grupo também conta com estudiosos da Universidade de Virgínia, nos Estados Unidos, como Simone Herron, Hunter Newland, Kunaal Sarnaik, Gabriel Hanson, Jason Papin e Sean Moore.
ANTECIPAÇÃO
Quando os cearenses começam a receber a proteção contra a influenza, os casos da doença estão em alta devido à relação com a quadra chuvosa, entre fevereiro e maio, no Estado. A estratégia de saúde pública mais efetiva, então, seria antecipar as doses do imunizante contra a gripe.
"Uma possibilidade, poderia ser a distribuição começar um pouco mais cedo porque a fabricação da vacina da gripe começa no ano anterior. Para se ter uma ideia, por causa da pandemia da Covid-19, o Governo Federal já antecipou em um mês a campanha de vacinação”, ressalta José Quirino Filho.
Os dados considerados pela equipe de estudiosos mostra o aumento de casos de infecções respiratórias nos meses de abril em maio no Ceará. A campanha nacional de imunização contra a gripe costuma iniciar no mês de abril.
Logo no início da gravidez a advogada Bruna Fajardo, de 31 anos, garantiu a imunização contra a influenza sob orientação feita durante o pré-natal. "Eu tomei a vacina da gripe no posto de saúde porque meu médico obstetra indicou. Esse é meu terceiro filho, eu sempre tomo na campanha anual e nunca tive problema nas gestações", lembra.
Bruna está no nono mês de gestação e aguarda o nascimento do bebê com as medidas indicadas para evitar contaminações - algo reforçado durante o período de pandemia. "É uma parceria da mãe e do médico, porque o obstetra é quem indica, mas não sei se todo mundo tem acesso à consulta mensal. Muitos nem sabe que têm essa vacinas", reflete.