Ceará tem 7 das 50 cidades do Brasil em que há maior risco de gestantes serem infectadas com a Covid
Identificação das localidades contribui para a definição de políticas públicas e prevenir mortes maternas
Dentre as 50 cidades do Brasil com maior risco de infecção para a Covid-19 em grávidas e puérperas, sete estão localizadas no Ceará. São elas: Cariré, Coreaú, Forquilha, Moraújo, Reriutaba, Sobral e Uruoca. A evidência consta em um artigo científico cuja produção foi liderada por pesquisadores da Universidade Federal de Sergipe (UFS) e publicado este mês na revista The Lancet. O levantamento mapeou os casos e óbitos provocados pela doença na população obstétrica no Brasil durante 16 meses.
Com o uso de técnicas de estatística foi possível identificar os 50 municípios do Brasil nos quais as taxas de incidência da Covid, entre os dias 26 de março de 2020 e 26 de junho de 2021, são consideradas muito altas entre gestantes e puérperas. “Nós precisamos padronizar as taxas de incidência para poder fazer comparações, por isso, usamos o coeficiente para 100 mil nascidos vivos”, explica Victor Santana Santos, pesquisador e docente do Programa de Pós Graduação em Ciências da Saúde da Universidade Federal de Alagoas (UFAL).
Além do Ceará, as cidades com alto risco de infecção nesta população estão localizados nos seguintes estados:
Paraíba (13 municípios);
Amazonas (7);
São Paulo (7) ;
Rio Grande do Sul (6);
Minas Gerais (4);
Paraná (3);
Mato Grosso (2);
Santa Catarina (1)
A identificação dessas áreas geográficas pode ser utilizada para direcionar ações efetivas de testagem de massa, isolamento de casos para mitigar a propagação da doença, bem como a destinação de recursos em saúde necessários para prevenir mortes maternas. Nossos achados também reforçam que a população obstétrica integram um grupo prioritário para receber vacinas contra covid-19
Na análise, os pesquisadores investigaram a distribuição espacial dos casos e das mortes maternas relacionadas à Covid e a associação destas ocorrências com os determinantes sociais de saúde, como o índice de vulnerabilidade social. “A identificação dos 50 municípios com maiores taxas foi feita usando testes estatísticos de análise espacial. É a análise espacial que identifica os aglomerados e leva em consideração as taxas encontradas nos municípios circunvizinhos”, detalha Victor.
Os dados utilizados na investigação são oriundos do Sistema de Informação da Vigilância Epidemiológica da Gripe do Ministério da Saúde (SIVEP). Nesse intervalo, o Brasil teve 13.858 casos de Covid em mulheres grávidas e em pós-parto e 1.396 mortes desta população.
Índice de Vulnerabilidade Social, Índice de Desenvolvimento Humano, porcentagem de pessoas vivendo em casas com serviços inadequados de fornecimento de água, rede de esgoto, coleta de lixo, porcentagem de pessoas sem instrução, porcentagem de pessoas vivendo com baixa renda, taxa de desemprego, entre outros. Nós levamos também em consideração a cobertura de equipes de saúde da família, consultórios ambulatoriais, taxa de leitos de UTIs existentes antes da pandemia e durante a pandemia, entre outros.
O estudo também considerou fatores sociais como porcentagem de pessoas vivendo em casas com serviços inadequados de fornecimento de água, rede de esgoto, coleta de lixo, taxa de desemprego. “Determinantes sociais da saúde são os fatores sociais, econômicos, culturais, e comportamentais que influenciam a ocorrência de problemas de saúde e seus fatores de risco na população”.
Dos 5.570 municípios brasileiros, em 3.435 as taxas de incidência da Covid ficaram abaixo de 211 casos por 100 mil nascidos vivos; já 105 tiveram entre 2.210 e 3.884 casos; e 45 entre 3.884 e 7.418 casos. Outras 1.985 cidades não registraram casos entre gestantes e puérperas no período analisado.
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Outra evidência do estudo são as 15 cidades brasileiras em que há risco mais elevado de morte materna por covid-19. Minas Gerais lidera a lista com 4 cidades, seguido por São Paulo (3), Goiás (2), Mato Grosso do Sul (1), Amazonas (1), Roraima (1), Pernambuco (1), Bahia (1) e Rio Grande do Sul (1).
Além de Victor Santana Santos, o artigo foi produzido pelos pesquisadores Thayane Santos Siqueira, José Rodrigo Santos Silva, Mariana do Rosário Souza, Débora Cristina Fontes Leite, Thomas Edwards, Paulo Ricardo Saquete Martins Filho e Ricardo Queiroz Gurgel.