No litoral do Estado chega lixo em tamanho tão reduzido que passa despercebido aos olhos, escondendo os prejuízos ao meio ambiente, mas com seus efeitos monitorados pelas lentes de pesquisadores cearenses. Estudos publicados em revista internacional apontam que todo o litoral do Ceará apresenta os chamados microplásticos, fragmentos também de tinta e de isopor, que alcançam os estômagos de peixes, - sendo fonte de substâncias tóxicas e bactérias prejudiciais à saúde de animais e seres humanos - e estão concentrados em localidades como Fortaleza, Icapuí e Acaraú. Tais materiais, produzidos pela sociedade, se depositam no fundo do mar e se mantém circulando no ambiente marinho.
As informações são de dois artigos produzidos na Universidade Federal do Ceará (UFC). O primeiro traz detalhamento sobre a poluição encontrada em todas as praias cearenses em que o descarte irregular de lixo e a gestão dos esgotos estão relacionados com o problema.
Esse material também tem origem nos produtos esfoliantes para pele e cremes dentais feitos com microesferas de plásticos, os do tipo primário, e na decomposição de objetos maiores como sacolas plásticas, os microplásticos secundários. Além disso, o desgaste de roupas sintéticas lavadas em máquinas domésticas, que vão pelo esgoto até o mar, e redes de pescas descartadas irregularmente estão entre os poluentes que se depositam em profundidades extensas.
“No geral, os microplásticos estão com densidade baixa, mas em alguns locais como Fortaleza, Icapuí e na Região do Acaraú, deu bastante. Isso mostra que é um problema que está aumentando”, explica Marcelo de Oliveira Soares, pesquisador e professor do Instituto de Ciências do Mar (Labomar), da UFC.
"A gente detectou em todo o litoral, não teve um ponto onde não existiu, é um problema que em 10 anos vai ser muito grave”
Cenário
Os materiais encontrados e as características ambientais das regiões com maior índice deste tipo de poluição ajudam a explicar a origem dos microplásticos. “Muitas vezes, as fibras são de restos de rede de pesca que ficam abandonadas no fundo do mar, mas têm características do oceano também. Por exemplo, lá no Icapuí tem um fenômeno que é tipo um vórtice e o material fica retido lá”, explica Marcelo Soares.
Na Capital, parte dos banhistas arriscam a boa qualidade do local onde aproveitam a água, o sol e o vento fresco ao deixar para trás o lixo gerado. “Aqui em Fortaleza são atividades turísticas e recreativas e tem um detalhe: a água é mais parada e tem muitos quebra mares que ajudam a prender os plásticos e os microplásticos porque a água não dispersa”, completa o pesquisador.
É possível observar os efeitos da poluição no mesmo ambiente em que se inicia parte do ciclo, onde comumente se faz a venda de peixes. “Alguns animais confundem o microplástico com alimento, outros a gente sabe que conseguem até colocar para fora. Um grande problema é que esses plásticos concentram contaminantes altamente tóxicos e algumas bactérias também”, frisa.
Soluções possíveis
Desenvolver novas tecnologias para o tratamento de esgotos, capazes de filtrar os microplásticos, e reduzir a quantidade de lixo que chega às praias estão entre as estratégias para minimizar o problema, como aponta Marcelo Soares, também cientista-chefe pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado (Sema) e pesquisador da Fundação Cearense de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Funcap).
“Mesmo nos locais onde há sistema de esgoto bom, eles não estão retendo. Uma outra estratégia é uma boa gestão dos resíduos sólidos, isso no nosso caso do Ceará é um problema, os municípios e o Estado têm trabalhado nesse tema, mas precisa muito da colaboração da população”
Em nota, a Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) informou que a limpeza da orla da cidade é realizada a partir de serviços executados pela Ecofor Ambiental e por equipes das Regionais em ações diárias. Entre os serviços, são feitas limpezas no calçadão, ruas, canteiros centrais, recolhimento de côcos na faixa de areia e de resíduos. A população pode denunciar o descarte irregular de lixo pelo Canal 156.
Já a Companha de Água e Esgoto do Ceará (Cagece) informou que o monitoramento do esgoto tratado nas regiões em que a companhia atua é realizado em conformidade com a legislação, cujas determinações estão previstas nas resoluções do Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) e do Conselho Estadual do Meio Ambiente (Coema).