O corpo não responde como antes, os caminhos tecnológicos são desconhecidos e a rotina exige o apoio de outras pessoas. Idosos são, especialmente, vulneráveis à pandemia - seja pela contaminação ou pela mudança do cotidiano causada pelo coronavírus. No Ceará, o movimento nacional Vidas Idosas Importam - com cerca de 12 mil integrantes - reúne ativistas para acompanhamento dos longevos com a prática de exercícios físicos e socialização.
Durante a formação do projeto, criado em dezembro de 2020, a aposentada Lindalva Cavalcante, de 76 anos, decidiu retomar os exercícios após a pausa no começo da pandemia há seis meses. “O médico me passou remédios e fisioterapia, mas por minha conta eu resolvi fazer ginástica, porque estava sentindo minhas pernas duras”, conta.
A artrose e o período extenso no isolamento foram motivadores para a idosa procurar o espaço de atividades que começou a frequentar 19 anos atrás, quando manifestou doença cardíaca.
“Foi uma surpresa, porque quando telefonei e a Silvia atendeu, a mesma da minha época. Ela me disse que ia voltar a ginástica para os idosos”, lembra. Os exercícios também são guiados pela mesma profissional.
Geruza Baima, fisioterapeuta gerontológica, foi quem acompanhou Lindalva desde a entrada da idosa na fisioterapia. "Foi não só um momento de uma profissional encontrando paciente, mas de duas pessoas que passaram a se admirar, porque na fisioterapia temos momentos de acompanhamento".
Três vezes por semana, Lindalva aciona o aplicativo de transporte para realizar o compromisso com a saúde sem outro apoio. “Estou fazendo não pretendendo deixar mais, porque é ótimo. Fiquei o tempo todo na pandemia parada, e por isso fiquei com dificuldade para andar”, frisa. Além da pandemia, o intervalo na ginástica também aconteceu com a morte do marido da idosa, que morou por três anos com a filha em Brasília.
A continuidade na fisioterapia fortalece o corpo, mas também o bem-estar pelo contato com as pessoas. "Ela tem condições físicas e mentais para ter uma vida com independência e isso é o mais significativo para a gente que trabalha com idoso", observa Gerusa.
Efeitos no corpo
Esse convívio benéfico começou para Hosana Alencar, de 68 anos, quando observou os demais idosos do grupo enquanto esperava a filha na rotina de exercícios. “A gente procura sempre conhecer os colegas, às vezes a gente não decora o nome no momento. Mas a família vai começando a se unir e isso é muito gratificante”, confessa entre risadas.
Ficar muito tempo em casa não faz bem à saúde, porque se acostuma com o ócio, como observa o antigo servidor público, aposentado há dois anos. “Enquanto tiver forças para agir com vontade e com saúde, a mente sempre funcionando, é muito bom. Não pode é relaxar”, conclui.
Fugir do sedentarismo mantém o equilíbrio, disposição e até os reflexos na hora de dirigir, como observa Elizabete Brito, de 70 anos. “É importantíssimo, porque vamos perdendo a noção do corpo e os exercícios ajudam a automatizar os movimentos.
“Faço com muita alegria porque eu gosto mesmo, não me sinto obrigada, já acordo com esse compromisso”
O tempo destinado às práticas é considerado como investimento para a idosa. “Meia horinha só, passa num instante, meia hora que a gente fica em casa sem fazer nada? A diferença é extraordinária”, destaca.
Como surgiu o movimento
O Vidas Idosas Importam foi criado com engajamento nas redes sociais e grupos de troca de mensagens. “O movimento nasceu em plena pandemia e a nossa maior preocupação era dar suporte à saúde da pessoa idosa com a garantia dos direitos humanos”, detalha Crismédio Costɑ, idealizador do projeto.
Os ativistas da saúde de idosos também articulam políticas públicas no Congresso Nacional e realizam campanha - a atual contrapondo à associação de velhice à doença. “Essas campanhas têm mostrado várias realidades, porque a velhice é diversa e múltipla, então o movimento não ficou apenas com um foco”.
Os idosos LGBTQIA+, negros, indigenas ou com deficiências lidam com as dificuldades da 3ª idade somadas ao preconceito. “Quando a gente viu que, na pandemia, quem mais estava sofrendo por falta de oxigênio e por falta de dignidade eram as pessoas idosas, nos unimos e criamos o grupo”
Por trabalhar com idosos desde a formação acadêmica, Geruza Baima resolveu integrar o grupo no Ceará. “Basta se interessar e entender que hoje é importante a gente pensar no idoso para que a gente possa viver uma velhice mais saudável. A gente pensa na qualidade de vida das pessoas idosas, buscando a saúde física, espiritual e mental”.
A gente busca engajar cada vez mais ativistas, pessoas que realmente se interessam pela causa da pessoa idosa. Então, profissionais da saúde, da área da gerontologia, e mesmo os idosos que se interessam nos direitos, buscam engajamento através das redes sociais
Por meio da fisioterapia, a profissional encontra a forma de contribuir com a existência mais prazerosa dos idosos. “Incentivamos a autonomia e a independência da pessoa idosa, buscando a socialização com elementos lúdicos, porque não precisa ser chato para ser terapêutico, precisa ser algo significativo”, reflete.