Ceará realizou três vezes mais testes de Covid-19 em 2021 do que em 2020, diz Abrafarma

Os dados indicam que, somente nos primeiros meses deste ano, houve um avanço de 219,87% nas testagens se comparado ao ano anterior

Com a alta de casos do coronavírus, a busca por testes de detecção da doença tem aumentado significativamente no Estado. Um levantamento da Associação Brasileira das Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma) indica que, de janeiro a 21 de março de 2021, foram realizados três vezes mais testes rápidos para identificação do Sars-Cov-2 no organismo do que no período de abril a dezembro de 2020 no Ceará. 

A Abrafarma detalha que dos 240.174 testes colhidos nesse ano, 62.041 obtiveram um resultado positivo (25,8%). No ano passado, o número total foi de 75.084, com 15.901 positivados (21,2%).

“Em pouco menos de três meses, o volume de testes e resultados positivos foi muito maior que de todo o ano passado, o que revela um cenário crítico da Covid-19 no Ceará”, pontua Sérgio Mena Barreto, CEO da Associação.

Sem sintomas

O estudante João Couto, 22, foi uma das pessoas que adquiriram o vírus durante a segunda onda da pandemia, no mês de janeiro. “Eu descobri por meio de um exame de rotina no trabalho. Até então eu não tava com sintomas, mas quando fiz o swab [tipo de teste rápido na cavidade nasal] deu positivo. A partir daí, já comecei a me isolar totalmente e a tomar os cuidados necessários para não contaminar outras pessoas”.

Já para o gestor empresarial Diego Filgueiras, 31, os sintomas e a suspeita de estar contaminado vieram antes dos testes. “Eu comecei a sentir muita dor no corpo, febre e falta de ar. Então eu fiz o exame do sangue e do nariz que constataram que eu tava com o vírus e, depois de sete dias, eu repeti a testagem que dessa vez deu negativa”. 

No entanto, Diego relatou ainda que, mesmo negativado, continuou sentindo bastante indisposição e cansaço no corpo. Ele descobriu uma pneumonia bacteriana causada pela Sars-Cov-2 e passou seis dias internado no Hospital Antônio Prudente, com 50% dos pulmões comprometidos.

“Eu tentava respirar e não vinha o ar. Qualquer esforço que eu fizesse me dava muita dor de cabeça. [...] Mesmo eu tomando muita medicação no hospital, as dores não passavam”.

Tipos de testes rápidos

O Diário do Nordeste conversou com o presidente executivo da Câmara Brasileira de Diagnóstico Laboratorial (CBDL), Carlos Gouvêa, que detalhou questões sobre os testes rápidos de diagnóstico do coronavírus, além de esclarecer dúvidas sobre os atuais exames que calculam a eficácia da vacina no organismo.

Teste antígeno/RT-PCR

De acordo com o presidente, é importante fazer o teste certo, na hora certa e na pessoa certa. Para a primeira fase, quando o vírus acaba de entrar no paciente, a partir do segundo dia de sintomas, o ideal é fazer o teste de biologia molecular (RT-PCR), característico de uso laboratorial. “Ele é considerado o ‘padrão ouro’ porque pega os primeiros dias”. 

Até o oitavo dia é notada a presença do vírus circulando pelo organismo e gerando proteínas, chamadas de antígenos. Para quem não pode ou quer ir ao laboratório realizar o PCR, há a possibilidade do teste rápido de antígeno.

Segundo Gouvêa, esta é considerada a melhor opção. Feito em farmácias, pode ser realizado através de swab nasal ou até saliva. Em resumo, a primeira opção (PCR) detecta o vírus e a segunda detecta a proteína gerada pelo vírus. 

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Teste sorológico/IgA, IgM e IgG

Há uma queda na circulação do vírus a partir do oitavo dia, mas ele ainda pode ser detectado pelo PCR e antígenos, pois são os restos do vírus. No entanto, nesse período, já pode ser notada a presença dos anticorpos, que é a resposta imunológica contra o vírus. “No caso do anticorpo, há alguns métodos laboratoriais, como o Elisa. O teste rápido pode detectar os anticorpos IgM e o IgG: quando você tem só o IgG, significa que houve a chamada soroconversão, quando o paciente já esteve exposto e não corre o risco de transmissão”, explica.

Testes neutralizantes

Conforme Gouvêa, recentemente, o teste de anticorpo neutralizante foi lançado. Ele identifica qual o tipo de resposta o paciente gerou em relação ao possível vírus que ainda existe. Nesse caso, é possível verificar se existe o anticorpo que consiga atacar aquele vírus, principalmente por causa de duas proteínas que ele vai “procurar”. “Eles estão sendo feitos apenas em laboratórios, mas é provável que ele chegue ao formato rápido em breve. A única questão pendente neste teste é identificar qual é, de fato, o grau de imunidade”.  

Em relação à eficácia, os testes hoje no mercado são muito mais evoluídos do que os disponíveis no ano passado, segundo o presidente da CBDL. No entanto, cada teste pode apresentar diferença de sensibilidade, que é a probabilidade de resultados positivos em pacientes doentes, e na especificidade, considerada a probabilidade de resultados negativos em não-doentes.

“Como a Anvisa liberou muitos testes, por vezes desconhecidos, a CBDL, juntamente com outros parceiros, em um consórcio, realizou uma avaliação nos kits de testes para Covid-19 em 13 laboratórios públicos e privados, um deles particular em Fortaleza. O objetivo é dar um panorama de qual a performance dos kits na prática. São dados importantes para quem está comprando e fabricando os testes”, pontua.

De acordo com os resultados presentes no painel de avaliações do consórcio, teste como Elisa (The Binding Site Group Ltd.) atingiu, no quesito sensibilidade, o IgG/IgA/IgM = 87,50% na avaliação como um todo, sem discriminar o número de dias após início dos sintomas. Já na especificidade, o resultado IgG/IgA/IgM foi de 96,67%, também considerada a avaliação como um todo.  

Teste de eficácia da vacina

Os testes neutralizantes citados tanto podem verificar se uma pessoa foi exposta, passou pela infecção, e adquiriu anticorpos suficientes para evitar uma reinfecção, quanto pode apontar a imunidade vacinal, que pode ser verificada depois de 14 a 28 dias, a depender da vacina.

“Os primeiros testes estão surgindo agora, ainda há discussões sobre qual o melhor teste, mas graças à inovação tecnológica, isso muito em breve vai ficar claro para a população. Além de discutir a imunidade vacinal, uma outra questão em análise é por quanto tempo vai durar essa imunidade. O terceiro ponto é verificar se essa imunidade vai evitar a infecção pelas variantes”, esclarece Govêa.

Covid-19 no Ceará

De acordo com o IntegraSUS, portal de transparência do Governo do Estado sobre a área da Saúde, o número total de testes realizados no Ceará chega a mais de 1,6 milhão, contabilizando 541.227 casos confirmados de coronavírus até esta quinta-feira (1). 

Os pardos foram os mais atingidos, com 59,4% das ocorrências. Os brancos ficam atrás com 17,7%. Entre a classificação por gênero e idade, as pessoas mais afetadas foram mulheres de 30 a 34 anos, com 34.367 dos casos; seguidas de mulheres de 35 a 39 anos, com 33.381; e de mulheres entre 25 a 29 anos, com 31.325.