Ceará é 4º do país em profissionais de enfermagem com Covid-19

Dados foram compilados pelo Conselho Federal da classe e mostra que o Estado só fica atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia. Doença atinge, em sua maioria, o lado feminino da categoria: mulheres entre 31 e 40 anos

Pelo menos 135 profissionais da enfermagem (incluindo enfermeiros, técnicos e coordenadores), do Ceará, já foram diagnosticados com a Covid-19, de acordo com um levantamento realizado pelo Conselho Federal de Enfermagem (Cofen). A entidade está reunindo dados de todos os conselhos regionais nos estados do Brasil durante o período da pandemia na plataforma "Observatório da Enfermagem".

O Ceará aparece como o quarto Estado que mais registrou confirmações da nova infecção, ficando atrás de Rio de Janeiro (930), São Paulo (660) e Bahia (207). Os números dizem respeito a profissionais que foram afastados das funções, mas se mantiveram em quarentena; foram ou estão internados; ou faleceram por causa da doença.

Conforme o Cofen, a maioria dos trabalhadores atingidos tem entre 31 e 40 anos e é do sexo feminino. Dos 135 profissionais com testagem positiva para o novo coronavírus,cinco morreram; outros cinco estão ou estiveram internados em unidades de saúde cearenses; e 125 estão ou passaram por quarentena.

O diagnóstico

O técnico de enfermagem Ivanildo Brito está nesta contagem. Os primeiros sintomas, ainda leves, começaram a surgir no dia 15 de abril, mas a falta de ar o fez ir ao Hospital São José de Doenças Infecciosas para fazer o exame que atesta a presença do Sars-CoV-2 no organismo. O resultado positivo só saiu dez dias depois, quase no fim da sua quarentena porque, até o momento, era considerado como um caso suspeito.

"Passei os 12 dias de isolamento no quarto sozinho, sem sair de dentro. Minha mãe e meu pai colocavam comida para mim pela janela ou pela porta do quarto. Se eu saía do quarto para ir ao banheiro, era de máscara, e eles também usavam durante todo o dia", narra sobre o período em que surgiram os mais diversos sintomas, como febre e perda de olfato e paladar.

"Só perdi 6kg, fiquei quase transparente, mas estou recuperando. A perda de apetite é intensa, além da ausência de gosto e cheiro", explica Ivanildo, ao passo que admite não saber como se infectou. Pode ter sido no trabalho, no deslocamento ou até dentro da própria casa.

"Você que acompanha diretamente e sabe os sintomas e todo o processo acaba ficando ainda mais aflito. Se sente dor de cabeça, dá a impressão de que ela é três vezes mais forte. Só que, quando os sintomas passam, parece a realização de um sonho. Eu agradeço a Deus por não ter precisado ficar internado", externa.

Análise

Na visão da presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren-CE), Ana Paula Brandão, a preocupação, além da saúde desses profissionais é porque "os que estão sendo afastados hoje são os que detêm a maior expertise no cuidado da terapia intensiva. A maioria tem especializações e estudos no atendimento ao paciente que precisa de cuidados intensivos".

Segundo Ana Paula, "os profissionais estão muito debilitados emocionalmente, por causa da insegurança, do medo, e da necessidade do trabalho". A presidente do Coren-CE ainda afirma que os números podem estar altos no Estado por duas razões.

"Nós acreditamos que seja pelos Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ausentes, além da (boa) quantidade de testes", infere a gestora. Além dos números de confirmados, o Ceará ainda detém a maior quantidade de profissionais da enfermagem do Nordeste com suspeita de Covid-19 e afastados das suas funções. Ao todo, foram registrados 571 profissionais nessas circunstâncias.

Poder público

A Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) explicou, por nota, que foi notificada de 73 afastamentos de profissionais da enfermagem na rede pública, dos quais 12 testaram positivo para a Covid-19. A Pasta ainda ressaltou que os afastamentos "não atrapalham o atendimento, e a medida é para resguardar os próprios profissionais de saúde e os pacientes". A Sesa informou que há o registro de um óbito de uma técnica de enfermagem na rede estadual de saúde.

Com relação aos EPIs, a Secretaria afirmou que o fornecimento está regular e pontuou a compra, pelo Governo do Estado, de 360 toneladas de EPIs para atender as unidades hospitalares públicas estaduais. A Sesa ainda ressaltou que "materiais descartáveis não são reutilizados nas unidades hospitalares da rede" e segue as recomendações da Anvisa e do Ministério da Saúde.

A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) de Fortaleza informou, por nota, que adota todas as recomendações do Ministério da Saúde para preservar profissionais da saúde, como o fornecimento de EPIs, testes rápidos para diagnóstico da Covid-19, apoio psicológico e vacinação contra a gripe H1N1. A SMS ainda pontuou que "reafirma respeito por todos os profissionais que atuam na linha de frente, comprometidos com a missão de salvar vidas".