Ceará deverá ter mais idosos do que jovens em 25 anos

O envelhecimento da população, que deve se concretizar em 2043, impõe mais desafios às políticas de assistência

O Ceará passa por uma transição demográfica e, a exemplo do cenário nacional, deverá, nos próximos 20 anos, ter a dinâmica etária alterada devido ao envelhecimento da população. Diferentemente do que ocorre hoje, em 25 anos - 2043 -, pessoas com mais de 65 anos serão mais numerosas que aquelas com idade entre 0 e 14 anos no Estado, segundo estimativas divulgadas ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O levantamento, baseado em probabilidades estatísticas, também aponta que em 2042 o Ceará atingirá seu ápice populacional, estimado pelo órgão em 9.795.059 habitantes. Após isto, a tendência é de redução desse contingente. Atualmente, o Estado tem 9.076.426 moradores e se mantém como o 8º mais populoso do Brasil.

A projeção feita pelo IBGE revela a tendência de crescimento dos habitantes em todos os estados da federação e no Distrito Federal. No Ceará, segundo a pesquisa, entre 2017 e 2018 o incremento demográfico foi de apenas 0, 63%. Em números absolutos, isso representa uma ampliação de 57.662 habitantes no Estado de um ano para o outro. No período anterior, entre 2016 e 2017, essa variação foi de 0,62%. Os dados do IBGE servem de referência para vários indicadores sociais, econômicos e demográficos.

Hoje, no Ceará, a distribuição dos grupos etários está estruturada da seguinte forma: a cada 100 pessoas, 22 têm entre 0 e 14 anos; 69 têm de 15 a 64 anos e 8 têm 65 anos ou mais. Em 2042, a proporção de pessoas entre 0 e 14 anos será a mesma que a de idosos. Já em 2043, a população que tem mais de 65 anos representará 17% dessa proporção, enquanto a de crianças e adolescentes será de 16,4%. Portanto, se hoje garantir cidades condizentes com essa mudança já uma necessidade, o envelhecimento da população acentuará ainda mais essa demanda, exigindo mudança em aspectos sociais, culturais ou econômicos, como aponta a pesquisadora do Núcleo de Estudos em Gênero, Idade e Família (Negif) da Universidade Federal do Ceará (UFC), Celecina Veras Sales.

Políticas

"O Ceará e o Brasil não estão se preparando para essa realidade futura. Estamos na contramão, deixando morrer os jovens e descuidando dos idosos", avalia Sales, destacando a atenção à saúde como fundamental para lidar com o envelhecimento.

"A expectativa de vida tem aumentado, mas não basta viver mais, e sim com qualidade. É importante que tenhamos velhos com saúde", salienta a pesquisadora. Outra questão atual que deve incidir sobre os tempos projetados pelo IBGE, segundo Sales, é a violência. "São necessárias políticas para os mais velhos, sim, mas temos um problema anterior a isso: a morte de jovens. A gente tem que pensar em saúde, mas também em segurança, políticas de emprego e renda para a juventude".

Dependência

Conforme explica o escritório do IBGE em Fortaleza, esse cenário interfere também na "razão de dependência" da população. Esse índice mensura quanto da população com idade inferior a 15 anos e superior a 65 anos depende da chamada população economicamente ativa, ou seja, a que está no intervalo etário entre 16 e 64 anos. Hoje, no Estado, em cada grupo de 100 pessoas em idade de trabalhar, há 44 idosos ou adolescentes como dependentes. Em 2060, a razão deve atingir uma taxa 66,5%.

Os números apresentados pelo IBGE, além de relacionados ao índice de envelhecimento estão atrelados diretamente à redução da taxa de fecundidade da população. Outro fator que resulta em mudança e ascensão do envelhecimento é a ampliação da esperança de vida ao nascer. Hoje, no Estado, esse índice é de 74,3 anos para ambos os sexos. Se separado por gênero, a mulheres permanecem com expectativa maior, chegando aos 78,3 anos e os homens 70,3 anos. Quando a população cearense atingir seu limite, em 2043, a esperança de vida para homens e mulheres será de 77,7 anos.

Segundo o IBGE, o levantamento segue métodos demográficos recomendados pela Divisão de População das Nações Unidas. A estimativa populacional serve para subsidiar a formulação de políticas públicas é também um dos parâmetros usados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) no cálculo do Fundo de Participação de Estados e Municípios. A divulgação anual dessa projeção cumpre o artigo 102 da Lei 8.443/1992 e à Lei complementar 143/2013.

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