Com a redução nos índices de casos confirmados, óbitos e hospitalizações por Covid-19 em Fortaleza, os olhares da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) se voltam, especialmente, para o interior. O trabalho árduo, iniciado lá em setembro com a proposta da regionalização da saúde visa ampliar o sistema de resposta ao novo coronavírus, especialmente nas regiões Norte e do Cariri cearense. Desta forma, o titular Pasta da saúde, o médico cardiologista Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, explica quais ações estão sendo tomadas no sentido de garantir a preservação de vidas para pacientes contaminados pela nova infecção viral.
A que o senhor atribui a baixa taxa de ocupação de leitos em Fortaleza atualmente?
Essa ocupação agora se deve a uma série de fenômenos. Primeiro, uma redução no percentual de transmissão viral. Tendo uma circulação viral menor, a tendência é uma redução no número de atendimentos, como tem sido observado nas ultimas três semanas, e a tendência é a redução do número de mortos. Como nós tinhamos uma rede muito robusta, nós ampliamos e muito a capacidade de atendimento para Covid-19. Agora, estamos numa fase de decréscimo substancial da taxa de ocupação e, melhor ainda, no número total de pacientes internados em enfermarias. Então, se deve a um momento epidemiológico diferente e decisões acertadas tanto do momento do grau do isolamento e das estruturas criadas para combater essa pandemia.
Com a redução dessa demanda, a Capital já está recebendo pacientes de outros municípios?
Estamos recebendo principalmente da Região Norte e, neste fim de semana, recebemos da Região Sul. São, em média, 10 pacientes por dia. Da Região Norte, de 5 a 10 (pessoas) por dia. Principalmente dos municípios de Acaraú, Granja,Ccamocim e Itarema, com alguns de Santa Quitéria. Da Região Sul, a gente tem mais do Centro-Sul, mas também há pacientes do Litoral Leste porque nós não inauguramos ainda o Hospital Regional de Limoeiro, que deve ser inaugurado agora no segundo semestre. A partir daí, a transferência para Fortaleza vai reduzir.
O presidente da Aprece, Nilson Diniz, disse que a saúde colapsou no Cariri e que no Centro-Sul não há mais vagas. Há previsão de ampliação do sistema nessas regiões?
Estamos trabalhando não só na expansão das UTIs no Hospital Regional (de Iguatu), que tem capacidade de expansão, como em parceria com unidades filantrópicas no Cariri, que têm capacidade de ampliação no seu número de leitos; sabemos de pelo menos 50 leitos de terapia intensiva. Há, hoje, uma taxa de ocupação acima de 90% nos leitos publicos. E há como expandir essa rede, e é o que nós estamos fazendo desde a semana passada, por meio das redes filantrópicas. Até o fim da semana, vamos estar encaminhando novos respiradores para essa região para que a gente possa suprir essa necessidade. Entre sábado e domingo, deve estar chegando ao Cariri, em torno de 50 novos respiradores. A gente centralizou quando criamos as 20 UTIs em Iguatu e as 10, que vão para 15, em Icó, para melhorar a capacidade da região.
Os insumos adquiridos para combater a Covid-19 continuarão a ser utilizados para outras necessidades?
Estamos vendo voltar as demandas tradicionais do sistema, não deixa de haver infarto, AVC, pessoas com doença vascular, renais crônicas, então nós vamos aproveitar (esses recursos) e dimensionar isso para aumentar a capacidade de resolução, tanto da Capital, quanto do interior. Vamos fazer parte nos hopitais-polo, parte nos hospitais regionais e as de maior complexidade voltada agora pra essa estruturação. Talvez seja o lado positivo. O que a gente intensionava fazer em um ano, a gente teve que fazer em 30, 40 dias. Isso vai dar ao sistema de saúde do Ceará mais robustez para resolver as demandas que existem no sistema.
Qual o cenário do sistema de saúde antes da Covid-19 e atualmente? É necessário maior capacidade?
O Ceará vem sofrendo grandes transformações nos últimos 18 meses. Ele vinha se reestruturando na sua governança, dentro da própria Secretaria. Devem sair concursos públicos ainda neste ano em duas unidades de saúde para mudança na forma de contratação. Uma das mudanças estruturais fundamentais é reduzir o número de terceirizados ao máximo do que for possível para que a gente tenha profissionais de saúde bem qualificados com reconhecimento do trabalho da forma adequada. Outra coisa que ficou muito clara durante a Covid-19 foi a questão da transparência dos dados. Acho que o Ceará foi um exemplo nacional.
É possível que tenha havido aumento de mortes de outras doenças durante a pandemia, especialmente por causa do foco dado à Covid-19?
É possivel. A gente viu isso no mundo inteiro. A mortalidade por infarto nos Estados Unidos, por exemplo, subiu 700% durante a pandemia. Estamos levantando esses números, mas é possivel que tenha essas implicações. Quando você tem uma pandemia desse jeito, naturalmente, tem gente com medo de ir para o hospital, com medo de se contaminar nas unidades hospitalares - com toda a razão - e acaba retardando o atendimento. Então, pode ter havido prejuizo, retardo de diagnóstico, algumas situações criticas.