A automutilação, embora prática silenciosa e escondida, expõe dilemas emocionais e psicológicos complexos, sobretudo em adolescentes do gênero feminino. Para lidar com o problema, especialistas defendem que famílias e escolas precisam formar mecanismos de acolhimento em vez de partir para julgamentos morais ou punições.
Alguns sinais podem acender alertas. De acordo com a mestra em Psicologia e psicóloga escolar Lorena Lopes, eles incluem o uso de moletons ou roupas compridas, mesmo em dias quentes, ou de grande número de pulseiras. Esse tipo de vestuário tem a intenção de esconder as marcas da autoagressão, que geralmente são visíveis nos pulsos e nas pernas.
“Outros sinais são emocionais, como a introspecção. Os professores podem perceber mudanças comportamentais, como participar menos das aulas ou ficar mais calada, no canto. A família também deve ficar atenta ao rendimento escolar, caso as notas caiam subitamente”, explica Lorena.
O comportamento autodestrutivo também pode chegar às redes sociais. Geralmente, essas adolescentes postam ou compartilham conteúdos de cunho depressivo, músicas “sad”, de ritmo mais triste, ou chegam a expor as fotos dos próprios cortes “na tentativa de receber um olhar do outro”, observa a psicóloga.
O que fazer se descobrir
Segundo Lopes, algumas integram grupos de ajuda para receber apoio, ainda que de outras desconhecidas - já que o afastamento da família é uma característica dessa faixa etária. Por outro lado, alerta, essa exposição também traz riscos de elas receberem ofensas ou julgamentos morais do tipo “isso é falta de Deus”.
“Se o pai ou a mãe perceberem, não devem fazer alarme, mas acolher essa criança ou adolescente e mostrar que ele ou ela têm um espaço onde podem ser ajudados, para eles perceberem que não estão sozinhos. Depois, podem fazer o encaminhamento para um profissional, porque é importantíssimo que essa pessoa tenha uma escuta qualificada”, finaliza Lorena.