Nesta quinta-feira (1°), novas séries da rede privada retornam para a sala de aula em Fortaleza. Estudantes do 1°, 2° e 9° ano do ensino fundamental e 3ª série do ensino médio reencontraram colegas após quase seis meses de ensino remoto. Seguindo determinação do governo estadual, as turmas estão limitadas a 35% da capacidade, mas o desafio é atender tanto os alunos presenciais quanto aqueles que optaram por permanecer no ensino virtual, dizem gestores.
Por isso, as escolas usam da tecnologia para manter as turmas alinhadas. Quem fica em casa, garante Aldênio Cyrino, coordenador de ensino do Colégio Santa Cecília, no bairro Aldeota, não será prejudicado. “Aqui, a mesma aula física será transmitida remotamente para os alunos que optaram por ficar em casa”, explica.
A unidade também tomou outros cuidados relacionados à circulação. “Reduzimos a quantidade de alunos por sala, colocamos sinalizações em todos os espaços, sempre respeitando o distanciamento social”, aponta o coordenador.
No Colégio Provecto, localizado no bairro Maraponga, ferramentas digitais entram para oferecer a melhor experiência para os estudantes domésticos. Cada professor tem à disposição um tablet e um fone de ouvido para transmitir a aula ao vivo e acompanhar a parcela da turma em casa.
Adaptar a classe para esse modelo é prioridade, coloca Osvaldo Campos, diretor da escola. “Tudo é uma questão de rotina, de adaptação. Nosso objetivo é colocar isso para as famílias para que eles voltassem a seguir seus horários de estudo. É um desafio maior para o aluno”, pondera.
O Provecto adaptou a estrutura já presente na escola para o retorno seguro. Na recepção, é preciso passar por triagem com aferição de temperatura, além de uma rotina de higienização que inclui álcool em gel e tapete sanitizante. Espaços compartilhados, como cantinas e parquinhos, estão interditados.
Os horários para entrada estão ligados ao nível de ensino: primeiro, entram no espaço os alunos do Ensino Fundamental II e Ensino Médio, seguidos pelas turmas no Ensino Fundamental I. O Ensino Infantil, presencial desde setembro, é os último a entrar na escola.
Como a unidade dispõe de três entradas, é possível que turmas em horários similares entrem por portões diferentes. Osvaldo Campos atribui os cuidados a uma preparação antecipada.
“Estávamos preparando desde julho. Isso não começou agora. Trouxemos infectologistas, fizemos um trabalho de orientação para esse momento, mas sempre respeitando as determinações do governo. Tivemos que nos reinventar. Trocamos o pneu andando no começo, mas a escola sem aluno não tem vida, eles são os protagonistas”, avalia o gestor.
Reencontro
Mãe de Rafaela, do 2° ano do Ensino Fundamental I no Provecto, que retorna para escola pela primeira vez após aulas remotas, a professora Patrícia Bezerra relembra os primeiros dias de distanciamento social. “No começo, ela se adaptou bem, mas no final cansou. Já tava difícil conseguir se concentrar”, recorda.
O retorno para o presencial foi decisão da pequena e está em fase de testes, aponta a professora. “Deixei ela à vontade. No começo ela quis. Mas depois soube que não vinham todos os amiguinhos. Eu disse para ela vir hoje para ver como vai ser”, conta.
Sobre a segurança sanitária, Patrícia avalia que a escola está bem preparada e considera o retorno progressivo como a solução ideal. “A gente continua com a preocupação, mas já tá saindo de casa, também. Não vem todo mundo. Melhor trazer agora do que quando a sala estiver lotada”, admite.
Quem também comemorou o retorno presencial foi a estudante Bárbara Vitória, de 17 anos, do 3° ano do Ensino Médio. Ela, que pretende cursar Direito, optou por voltar à sala para melhorar sua rotina de estudo — mesmo contra a vontade da mãe.
“Pela minha mãe, eu não voltaria porque ela é muito preocupada com essas coisas. Mas eu quis voltar. É um diferencial muito grande para mim. Estava acostumada com uma rotina de ensino pesada e aí, foi desanimador ficar em casa direto. Percebia a diferença grande de ficar em sala e ficar em casa”, relembra.
No Colégio Santa Cecília, a volta à rotina presencial rendeu registros. Mãe de três alunos da unidade, a professora universitária Juliana Vieira comemora a retomada para a sala, principalmente para as turmas do pré-vestibular. “Meu filho faz o 3° ano do Ensino Médio. Acho importante que eles voltem para se preparar para a prova, principalmente pelo ritmo de estudo”, confessa.
O reencontro com os colegas após tantos meses em aulas remotas é motivo para as fotografias. Ela torce para que as aulas continuem com retorno progressivo. “Vale cada registro e oração para retomar ainda mais de volta. Meus outros filhos ainda não voltaram, mas estou confiante nesse retorno do Ensino Médio”, brinca.
No Santa Cecília, seguir as orientações sanitárias é o mais adequado para o novo dia a dia. “Isso tudo para garantir as medidas de segurança”, explica Cyrino. O educador relembra a adaptação para o ensino à distância e admite as potencialidades do ensino presencial.
“De um dia pro outro, a educação passou a ser remota. Mas essa relação presencial é importante. Há uma relação entre afeto e aprendizado que existe no ambiente de convivência”, avalia.
Rede pública
Embora o retorno letivo também compreenda as aulas na rede pública, as instituições municipais de Fortaleza não devem voltar em 2020. A informação foi confirmada pelo prefeito Roberto Cláudio, durante coletiva na tarde desta quarta-feira (30).
O Município vai dar continuidade ao ensino remoto para os 231 mil estudantes da rede pública até o fim do atual semestre letivo. A decisão, de acordo com Roberto Cláudio, é uma "ação de proteção à vida, e dará mais segurança à saúde pública de Fortaleza, em prol da redução de qualquer risco de uma circulação viral".
Segundo a Prefeitura, "a elaboração de um plano para retorno das aulas presenciais levará em consideração a estrutura das unidades, além dos aspectos pedagógicos, provimento escolar e gestão".