De cada dez testes feitos em farmácia para detecção da Covid-19, pelo menos três resultam positivo para a infecção. A informação foi dada pelo presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Ceará (Sincofarma-CE), Fábio Timbó, que diz ter havido crescimento acentuado na procura pelos testes em farmácias no último mês de março.
Segundo o representante farmacêutico, “todas as unidades que estão fazendo testes [rápidos] estão com agendamentos lotados, principalmente em Fortaleza”. Por causa disso, ele explica, quase não tem sido mais possível agendar exames para o mesmo dia da procura.
Em recomendação publicada no último dia 5 de abril, o Ministério Público do Ceará (MPCE) orientou que as redes de farmácia aperfeiçoem e padronizem seus protocolos internos de prevenção à Covid-19. Uma das diretrizes, segundo o documento, é justamente priorizar o agendamento para que possíveis infectados fiquem nas lojas tempo suficiente apenas para se submeter ao exame, evitando filas de espera e proximidade com outros clientes não suspeitos.
Timbó alega que, desde que começaram a ofertar os testes rápidos, as farmácias já adotam as devidas precauções, como possibilitar agendamento do exame, não permitir a entrada de pessoas sem máscara, disponibilizar álcool em gel, sinalizar distanciamento, dentre outras.
Além disso, para reduzir o tempo que possíveis infectados pelo novo coronavírus passem nas farmácias, o Sincofarma tem solicitado às unidades enviar por e-mail ou WhatsApp os resultados dos testes, que, geralmente, demoram entre 15 e 20 minutos para sair. Contudo, o representante sindicalista argumenta que é preciso compreender algumas especificidades desse processo. “Não posso botar um cliente, depois de fazer um teste rápido, para sair correndo da farmácia, não. Ele, às vezes, mora sozinho, é um idoso”, comenta Fábio.
Precaução
Um dos promotores que assinam a recomendação do MPCE, Eneas Romero afirma que o órgão fiscalizador tem recebido diversas denúncias anônimas de pessoas que reclamam da não separação entre os clientes “comuns” das farmácias e aqueles com suspeita de Covid-19 que procuram as unidades para fazer o teste rápido.
Nesse sentido, o ideal, de acordo com o promotor, é que as farmácias estabeleçam locais específicos para atendimento a suspeitos da infecção, evitando a exposição desnecessária dos demais clientes. Isso porque, geralmente, enquanto esperam o resultado do teste, alguns possíveis infectados circulam nas lojas para conferir produtos.
Ainda segundo Romero, as filas para a coleta de amostras para os exames são formadas próximo à bancada de dispensação de medicamentos. “E, por mais que tenha distanciamento [nas filas], gera risco. Farmácias são ambientes fechados, com arcondicionado”, lembra o promotor.
‘Cumprimento sistemático’
Timbó defende que farmácias são parte importante da rede de assistência à saúde na pandemia e que são essenciais para reduzir a subnotificação de casos. Com 2,5 mil unidades no Estado — 800 só na Capital —, “a gente quer que cada vez mais aumente o número de lojas pra fazer testes, porque está tendo essa necessidade”, afirma o presidente do Sincofarma.
Atualmente, segundo ele, cada loja consegue fazer, em média, de 35 a 40 testes por dia. Sobre a recomendação do MPCE, o sindicalista somente lamenta que a categoria não tenha sido chamada para montar o protocolo.
“A gente entende que, nesse momento, a palavra de ordem é ‘união’, porque a gente está vivendo um estado de guerra. Está difícil, também, pra gente. Nossos funcionários também estão adoecendo. É preciso sair da caixinha e analisar de forma macro”, diz Timbó.
Embora reconheça que algumas redes de farmácias já cumprem os protocolos preventivos, Romero reforça que a medida do MPCE é para estimular um “cumprimento sistemático” em todo o Estado. Para justificar a necessidade de tratamento diferenciado, o promotor cita a triagem feita nos hospitais. “Quem é suspeito vai pra um setor e quem não é vai pra outro”, exemplifica.
Negociações
No documento que orienta a postura das redes de farmácias, o MPCE estabelece um prazo de cinco dias para que as unidades apresentem uma resposta sobre alterações nos protocolos internos. Contudo, em atendimento à solicitação do Sincofarma, o órgão concordou em se reunir com o sindicato no próximo dia 14 de abril para novas deliberações.