Rubiales, dirigente espanhol que beijou jogadora, não se demite do cargo: 'selinho consentido'

Dirigente beijou uma jogadora sem o consentimento dela durante comemoração da Copa do Mundo

Em assembleia geral extraordinária da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), Luis Rubiales disse que não vai se demitir do cargo de presidente da entidade. A reunião ocorreu nesta sexta-feira (25), para que o dirigente desse explicações sobre o beijo dado por ele na atleta Jenni Hermoso, durante a comemoração do título da Copa do Mundo feminina. A expectativa era de que ele renunciasse o cargo após praticar o ato sem consentimento da jogadora.

O que se viu quando Rubiales subiu no palco e falou ao microfone, com transmissão ao vivo pelo YouTube, passou longe de um pedido de demissão. Ele fez um discurso irritado, culpou o "falso feminismo" por toda a situação e repetiu aos berros que não renunciaria, enquanto era aplaudido de pé por parte dos presentes, inclusive Jorge Vilda e Luis de La Fuente, treinadores da seleções feminina e masculina da Espanha, respectivamente.

"O falso feminismo é um grande flagelo nesse país. Foi um beijo espontâneo, mútuo, eufórico e consentido. Estão dizendo neste país que foi sem consentimento. Não, foi consentido. Esta jogadora perdeu um pênalti, e tenho uma ótima relação com todas as jogadores, somos uma família há mais de um mês e tivemos momentos afetuosos nesta concentração", bradou durante o seu discurso, antes de gritar quatro vezes a frase "Não vou renunciar!", causando os aplausos.

Em outro momento, Rubiales tentou explicar a razão de ter beijado Hermoso, atribuindo o desfecho ao comportamento da jogadora. "Ela me levantou do chão, me agarrou pelo quadril, quase caímos e nos abraçamos. Foi ela quem me pegou os braços e me puxou para perto de seu corpo. Eu disse a ela para esquecer o pênalti, 'você foi fantástica e sem vocês não teríamos vencido a Copa do Mundo. Ela respondeu, 'você é um craque' e eu disse 'um beijinho?' e ela 'ok', batendo na minha lateral e saindo rindo", disse.

O dirigente ainda disse que considera o ato mais um 'pico', que pode ser traduzido para o português como 'selinho', do que um beijo. Ele vê isso como uma demonstração de carinho. "A vontade é praticamente a mesma de dar um beijo em uma das minhas filhas, nem mais nem menos. Não há, portanto, desejo, e não há posição de domínio", afirmou.

Rubiales acredita também estar sendo vítima de um "assassinato social" e voltou usar o termo "falso feminismo", que, segundo ele, "não busca a justiça e não busca a verdade.

Estão preparando uma execução para colocar uma medalha e dizer que estamos progredindo".

PROCESSO DISCIPLINAR

O pronunciamento vem um dia após a Fifa abrir um processo disciplinar contra Luis Rubiales em razão do beijo e, Jenni Hermoso. Na quarta, a jogadora quebrou o silêncio e se manifestou sobre o episódio, por meio do sindicato FUTPRO, e pediu "medidas exemplares" contra o dirigente.

De acordo com a Fifa, está sendo apurado se o beijo de Rubiales constitui violações do artigo 13, parágrafos 1 e 2, do Código Disciplinar da entidade. Os itens versam sobre comportamento ofensivo e violação dos princípios do fair play.

No parágrafo 2, são listadas as condutas que podem render punição: violar as regras básicas de conduta decente; insultar alguém com gestos, sinais ou palavras; usar eventos esportivos para demonstrar uma natureza antidesportiva; agir de forma que coloque o futebol ou a Fifa em descrédito; alterar a idade de jogadores. Não há nenhuma descrição específica sobre assédio.

DENÚNCIA

Rubiales já foi denunciado ao Conselho Superior de Esportes da Espanha. A denúncia foi movida por Miguel Galán, presidente da Escola Nacional de Treinadores de Futebol. Galán classificou a atitude de Rubiales como um "ato sexista intolerável no esporte" e se baseou na Lei 39/2022 do Esporte, legislação recente na qual é determinado que "qualquer ação que possa ser considerada discriminação, abuso ou assédio sexual e/ou assédio por razão de sexo ou autoridade deve ser levada ao conhecimento do órgão sancionador do Conselho Superior de Esportes, para ser sancionada como infração grave".

A denúncia também cita o protocolo interno da Federação Espanhola de Futebol contra a violência sexual. No artigo 14, há um item específico que versa sobre "beijo à força" e considera tal comportamento como "conduta inaceitável que acarretará em consequências imediatas". Galán pede que a denúncia seja transferida ao Tribunal Administrativo do Esporte.