Foco na carreira, dedicação à família e craque na sinuca: as várias versões de João Ricardo

Em uma das melhores fases da carreira, jogador sonha em se aposentar no Fortaleza

Segurança. É o que João Ricardo transmite, em campo e fora dele, desde que chegou ao Fortaleza. Uma história ainda recente, iniciada em 2023, mas que está cada vez mais consolidada e longe de acabar.

Firme, assim como embaixo das traves, foi fácil para o goleiro afirmar, em conversa exclusiva para o Diário do Nordeste, que vive um dos melhores momentos na carreira. Não à toa, a vontade pessoal é de se aposentar vestindo as cores do Leão.

“Estou muito feliz no Fortaleza. Renovei mais três temporadas aqui, né? Estou com 36 anos já, pretendo, então, encerrar minha carreira por aqui”

“Claro que no futebol a gente nunca sabe. Pensando hoje, eu ainda pretendo jogar mais dois anos, depois desses três. Então seriam mais cinco temporadas, tenho três garantidas no Fortaleza. Por isso, não tenho como cravar, mas a vontade é essa (de se aposentar no Fortaleza). Mas nesses três anos (de contrato) eu vou ficar aqui, tenho certeza disso, independente de estar jogando ou não, eu vou cumprir meu contrato”, complementa. 

A renovação até dezembro de 2027 foi fruto de uma série de atuações decisivas que João coleciona na atual temporada. Líder absoluto em defesas entre todos os goleiros do Campeonato Brasileiro, ele foi responsável por garantir muitos triunfos na campanha histórica que o Fortaleza faz até aqui na competição. 

Peça fundamental na engrenagem ambiciosa de Juan Pablo Vojvoda, ele não deu espaço para mais ninguém debaixo das traves e ostenta, com orgulho, ter disputado todos os 30 jogos do time na Série A até aqui, sem ser substituído. Dentre todos os jogadores do campeonato, apenas Marcos Felipe, goleiro do Bahia, iguala o feito. 

“O goleiro quer jogar todo o jogo. Não quer ficar de fora. Eu já joguei 62 no ano, todos no Brasileiro e quero jogar os oito restantes também.”
 

“A gente trabalha muito no dia a dia pra isso, né? Estar bem nos momentos que o time precisar. Eu fico feliz com o desempenho. Não só o meu, mas o desempenho do time. Estar numa terceira colocação hoje no Campeonato Brasileiro, tão disputado, não é fácil. Eu acho que é uma coisa que tem que ser valorizada”, afirma. 

A UM PASSO DA GLÓRIA  

Além da campanha histórica na Série A deste ano, o Fortaleza também proporcionou ao seu camisa 1 uma coleção de momentos inesquecíveis. As memórias da primeira Libertadores, em 2023, são guardadas com carinho. Assim como a campanha da Copa Sul-Americana, quando o time chegou até a final contra a LDU. Nos pênaltis decisivos, quando mais foi exigido, o goleiro brilhou. Duas defesas naquele 28 de outubro de 2023 poderiam ter sido o motivo da maior conquista do Leão, se o destino fosse diferente. 

“Gerou uma frustração sim, se disser que não, vou estar mentindo. Mas futebol é assim, né? É difícil pegar dois pênaltis em uma decisão, em uma final, e você sair derrotado gera frustração. Mas não adianta lamentar, não adianta se frustrar, a gente tem que virar a página, erguer a cabeça, seguir trabalhando, porque se a gente se lamentar muito pelo passado, podemos perder o presente. Então, me preparo para o presente e sigo.” 
João Ricardo
Goleiro do Fortaleza

A PEQUENA MARIANO MORO, UM LAR DE SONHOS GIGANTES   

Poeira de terra voando no ar ao cair do dia, traves improvisadas, pés na areia e amigos reunidos para a brincadeira mais comum entre todos os brasileiros: jogar futebol. Foi nesse cenário que João Ricardo encontrou seu destino. A pequena cidade de Mariano Moro (RS), com pouco mais de dois mil habitantes, é o berço dessa história. 

“Lá a gente brincava muito, né? (eu ficava) no gol, às vezes até na linha, mas como me destacava muito no gol, gerou uma expectativa muito boa em cima de mim desde então. Meus pais são agricultores, trabalham na roça. Eu trabalhava com meu pai de manhã e de tarde, no final do dia por volta das quatro ou cinco da tarde, tinha uns campos de futebol lá, umas quadras de areia e a gente sempre ia jogar”, relembra.  

O caçula do seu Nilvo e da dona Teresinha, entre cinco filhos, sempre recebeu todo o apoio da família para continuar na jornada. Quando a oportunidade surgiu, em Concórdia (SC), ninguém pensou duas vezes. Foi o primeiro destino de João depois de deixar Mariano Moro e onde ele disputou seus primeiros campeonatos juniores, enquanto dividia as atenções com a faculdade de educação física, que posteriormente teve que abandonar, quando o futebol começou a se tornar uma realidade ainda maior. 

A partir daí, foi o Brusque que abriu as portas para o restante do país conhecer o menino de Mariano Moro. O jovem João já era seguro o suficiente para perseguir seus objetivos e abraçar o destino grandioso que o esperava. Sem nunca esquecer do menino que brincava nos campos de areia, a tranquilidade na vida, até hoje se reflete nas quatro linhas. 

“Eu sou um cara humilde, eu sei de onde eu vim e o sucesso nunca me subiu pela cabeça também.”

“Hoje é muito fácil ver tudo que já passou e ver o João hoje, mas muita gente não sabe o que passou lá desde o início. Todas as dificuldades, longe da família, sair de uma cidade de 2 mil habitantes para seguir um rumo, no início é muito difícil. Gera insegurança, gera medo, gera tudo que você imaginar. Mas, sempre segui firme, com pensamento positivo acreditando que no futuro ia dar tudo certo, graças a Deus hoje sou bem sucedido, consegui construir uma carreira sólida e sou muito feliz por isso”, celebra. 

Hoje com 76 anos, os pais de João ainda moram onde tudo começou. Até então, nunca vieram à Fortaleza, mas abrigam o caçula sempre que a temporada acaba. Mariano Moro segue sendo lar não só para ele, mas agora também para a filha Joana, de cinco anos, e a esposa Mariana

VIDA FORA DOS CAMPOS 

Noites tranquilas com a família, praia nas horas vagas e muito sono. É assim que o reservado João Ricardo leva a vida fora dos holofotes das quatro linhas, onde está acostumado a ser protagonista. Fora de combate, o goleiro prefere evitar a exposição e prioriza também cuidados pessoais para se manter bem fisicamente. 

“Se tem uma coisa que eu faço é dormir! Depois de um dia de treino, chego em casa para tomar chimarrão com minha esposa, dou banho na minha filha e às dez da noite já estou dormindo. Eu acho que o sono para o atleta é uma das coisas principais para  evitar lesões. Você faz banheira de gelo, faz todo o processo de recuperação no clube, mas acho que uma das coisas principais é o sono. Então eu prezo muito isso.” 

O tom sério com o qual trata a carreira fica para os assuntos profissionais e responsabilidades. No dia a dia, dentro do clube, os companheiros convivem com um cara sempre bem humorado, com sorriso no rosto e pronto para jogar sinuca! Um hobby pessoal revelado por João, que comprou a mesa que está hoje no Pici na área de lazer dos atletas e garante a resenha durante as concentrações do time. 

“Aqui no Fortaleza, todo mundo torce contra mim na sinuca. É porque eu sou o melhor. Eu sou o melhor, entende? Daí eles fazem uma rodinha aqui e ficam torcendo contra. Às vezes perco também, mas ganho mais do que perco”, conta descontraído. 

Seja na sinuca ou debaixo das traves, a tranquilidade e a autoconfiança prevalecem em qualquer disputa. O porto seguro tricolor tem plena noção da grandeza que representa, das cores que veste. Sem titubear, ele permanece seguro e pronto para defender o Fortaleza hoje e até quando o clube precisar.