Desde o surgimento do universo, seres humanos apontam os dedos uns aos outros, e nem sequer existe novidade nessa sentença. Entre “cultos” e “estúpidos”, não falta quem queira ditar como os demais devem se comportar. Se é assim com pautas importantes, imagine só com o que parece ser irrelevante ou supérfluo. Até o Big Brother Brasil entra nesse bolo.
Todo começo de ano é igual, até mesmo em tempos de pandemia. Basta que os primeiros anúncios sobre o reality circulem para que os questionamentos comecem. “Quem ainda assiste esse programa?” ou “meu dia mudou com essa notícia” são algumas das frases que surgem em formas incontáveis -e inconvenientes, por que não- em todas as redes sociais, por exemplo.
As hipóteses desse caso, que insistem erroneamente em discutir relevância, então caem por terra ao verem a repercussão de um simples paredão em uma terça qualquer. Ontem (23), no entanto, ela foi ainda mais absurda. A noite que resultou na eliminação de Karol Conká, rejeitada por 99,17% do público, escancarou como o BBB ainda tem caráter formador de opinião engrandecido, seja para o bem ou para o mal.
Entretanto, acredite, os debates sobre quem é superior por acompanhar ou não o reality show ainda existem. Parece até surreal. Lendo esse texto, talvez você se questione: em que ano ele foi escrito mesmo? Pois bem, 2021, meu caro. Em um mundo plural e globalizado ainda há quem reforce o estereótipo de que nada de relevante sai de produtos midiáticos, enquanto há quem defina os mesmos como ultrapassados.
Marco da televisão
Renovado, o BBB é exemplificação do contrário. Enquanto os produtos televisivos se transformam timidamente, muitas vezes sem sucesso, o programa foi na contramão. Novos arranjos, figuras da internet entre os participantes, discussão de questões sociais e, claro, a boa e velha controvérsia para reaproximar um público esquecido e uma parcela que sequer consome TV foram fatores essenciais para ganhar ares de novidade.
Prova disso é a comoção dessa 21ª edição. Enquanto se delimitou por aí que o formato com famosos não duraria muito, o novo ano trouxe, mais uma vez, a relevância de uma fórmula testada e aprovada em condições inimagináveis. Esqueça as discussões sobre quem é culto, inteligente, informado. Se você não acompanha o BBB atualmente, seu repertório está sim defasado. Não existe o que questionar.
Grupos de aplicativos de mensagem surgem, são derrubados. Conversas offline se multiplicam, e todos querem saber quem, afinal de contas, vai ser o eliminado da semana. Você pode até se retirar desse texto caso tenha chegado até este ponto sem sequer ter esperado pela eliminação de Conká nos últimos dias. Certamente deve ter sido a favor ou contra a saída da personagem tida como a maior vilã dessa nova edição.
E é exatamente esse o ponto. Ultrapassado é fechar em uma caixinha a ideia de que a ignorância está em consumir especialmente os produtos de entretenimento. Existe estupidez em tudo, seja nos livros, na TV, no cinema, na música, na Internet. Talvez, em algum nível, precisemos todos nós da diversão ou de formas de usá-la para discutir coisas maiores.
Enquanto essa categoria de confusão continua comum, são produtos como o BBB que se sobressaem. Se configuram como básico, mas movimentam além, mergulhando na relevância justamente por não saírem da "boca do povo". Continua sendo entretenimento na essência até mesmo para os saturados da televisão. Bom saber que, ao menos nessa edição, ainda temos boas semanas de programa pela frente. Ufa!