Músicas de grandes nomes da MPB recheiam espetáculo 'Nossa voz tem vez', no Theatro José de Alencar

Show leva ao palco talento de 11 integrantes que recentemente montaram o Coletivo Nossa Voz

O palco do Theatro José de Alencar (TJA), um dos mais tradicionais de Fortaleza, será preenchido de amor, esperança, vida e resistência. Os 11 integrantes do Coletivo Nossa Voz entoam, nesta quarta-feira (10), um espetáculo marcado pelo som de clássicos da MPB. A apresentação de estreia do grupo surgiu de forma fluida, entre um e outro encontro dos cantores. O fruto que vem em forma de show se viabiliza a partir do projeto "Conexões Sonoras", parceria entre o Centro Cultural Canto da Apá e o TJA.

A sequência musical levada ao palco no espetáculo "Nossa voz tem vez" perpassa obras consagradas, a exemplo de "Sujeito de sorte", "Como nossos pais", "Velha roupa colorida" (de Belchior), "Eu apenas queria que você soubesse" e "Recado" (ambas de Gonzaguinha). Outras das faixas cantadas envolverão a plateia em atmosfera contemporânea, caso do samba-enredo "História pra ninar gente grande", que rendeu à Estação Primeira de Mangueira o título de campeã na Sapucaí em 2019.

De mãos dadas

A história do grupo estreante começou recentemente, em dezembro do ano passado, na sala de aula. À época, a cantora Aparecida Silvino ministrou uma oficina de canto popular no Porto Iracema das Artes. Cinquenta pessoas passaram pela experiência e dez delas, de acordo com Aparecida, "se reuniram muito espontaneamente". A sincronicidade entre os artistas foi tanta que a cantora, hoje diretora do Coletivo Nossa Voz, não quis deixar passar a oportunidade de reuni-los novamente, para um trabalho contínuo: "a gente foi se vendo às quartas-feiras. O que era um encontro de uma hora se transformou num de três e, assim, foi surgindo o roteiro do show".

Toda a potência das 11 vozes agrupadas começou a tomar, aos poucos, forma editorial. Juntos, os artistas iniciaram uma caminhada em direção ao que seria o grande tema da apresentação desta quarta.

"A gente emergiu na década de 1970, no Tropicalismo, nas músicas de resistência", conta Aparecida, explicando também a origem da música composta pelo Coletivo, num momento em que tinham dificuldade de encontrar uma faixa que compusesse o roteiro.

"Eu disse pra eles que essa música nós teríamos que fazer porque só nós conseguiríamos expressar o amor que a gente está sentindo por estar juntos". O resultado foi a canção "Nossa voz", que deu nome ao Coletivo e também o tom para o título do show.

Autoral

Além da produção coletiva, uma outra canção inédita será apresentada. "Banquete" tem autoria de João Paulo de Souza, um dos integrantes do grupo. Fala da política em torno da seca e da realidade do sertanejo. "Mostrei essa canção para a Aparecida e ela fez questão que eu a apresentasse, já que o espetáculo também tem esse caráter de resistência, de política", lembra o artista.

Esta será a primeira oportunidade de o compositor estar num grande palco. João revela que a música surgiu como um hobby, mas aos poucos se tornou paixão. A necessidade de criar letras e melodias foi consequência natural. A canção, que no show será interpretada por ele, é a primeira composição solo.

A expectativa para o encontro com a plateia envolve muita emoção: "dá um pouco de nervosismo, mas eu acho que a canção vai despertar a atenção de quem estiver ouvindo, porque ela parte muito do exercício da palavra cantada, pela questão de a melodia ser simples e de a harmonia também ser", pontua, registrando ainda que a experiência com o coletivo está sendo "maravilhosa, já que envolve artistas de peculiaridades específicas. De certa forma, abre caminhos para cada um de nós. Está sendo muito gratificante participar disso".

Novo rumo

O frescor da experimentação compõe muitas partes desse processo. Além da estreia dos cantores enquanto Coletivo, a direção, uma posição crucial para o desenrolar do espetáculo, é ocupada com "gostinho" de primeira vez.

André Ximenes é ator e cantor, mas estreia, agora, à frente de uma apresentação musical. "A Apá (Aparecida Silvino) acreditou em mim, olhou pra mim e falou: 'você é o nosso diretor' e, com a minha vivência de ator, de bailarino, tendo passado pelas mãos de vários diretores, bebido de várias fontes muito potentes de direção, eu me desafiei e tentei criar minha forma de dirigir também, junto com todo mundo", explica o artista.

Lugar de afeto

O espaço em que os cantores do Coletivo Nossa Voz se reúnem é também escola de muitos. O Centro Cultural Canto da Apá, lugar fundado por Aparecida Silvino com intuito de preencher uma lacuna no cenário cultural de Fortaleza: "há três anos, tive vontade de abrir um espaço porque muita gente reclamava da falta de lugares para cantar, da falta de incentivos governamentais".

Nesse contexto, surge o centro cultural, um lugar onde, segundo a cantora, "nada falta". É lá que Aparecida compartilha a experiência de vida dentro da arte. A gama de aprendizados que podem ser adquiridos pelos estudantes é vasta, dentre eles interpretação, escolha de repertório e técnica vocal.

Os estudantes de canto que frequentaram a escola, desde 2017, em determinados momentos têm a chance de subir ao palco do Theatro José de Alencar para uma apresentação. "Geralmente, é o primeiro show da vida dessas pessoas. Alguns querem ser profissionais, há os adolescentes, outros costumam cantar para um público doméstico, para a família". Em comum, têm o mesmo sentimento que une o Coletivo Nossa Voz: o amor pela boa música, aquela que narra histórias.

Serviço
Show "Nossa voz tem vez"
Data: 10 de abril (quarta-feira)
Horário: 19h30
Local: Theatro José de Alencar (Rua Liberato Barroso, 525, Centro)
Ingressos: R$20 (inteira), R$10 (meia)
Informações: Coletivo Nossa Voz