Aprovado no mestrado da Universidade Federal do Ceará (UFC), mas sem condições financeiras de comprar um notebook para auxiliá-lo nas aulas remotas e pesquisas científicas, um engenheiro civil de Tabuleiro do Norte resolver sortear um carneiro para conseguir um novo equipamento, já que o dele havia queimado na primeira semana das aulas da pós-graduação.
Ricardo Alves Maurício, 26, de família humilde e fora do mercado de trabalho desde 2019, quando concluiu a graduação, teve a ideia de arrecadar o dinheiro através do sorteio porque a única renda da casa onde mora com a família vem do salário mínimo do pai.
O único notebook tido pelo estudante foi resultado de uma prova do Sistema Permanente de Avaliação da Educação Básica do Ceará (Spaece), ainda em 2012, depois de acertar mais de 80% da prova de português e matemática.
O computador móvel esteve com ele em todo o ensino superior na Universidade Federal Rural do Semi-Árido, no Rio Grande do Norte. Contudo, durante as aulas iniciais do mestrado em Gerenciamento de Empresas e Empreendimentos, da UFC, a placa-mãe do equipamento queimou.
"Me vi em uma situação que não tinha mais saída, porque o dinheiro do meu pai já é muito apertado. "Foi um desespero, estava sem a minha ferramenta de trabalho, de leitura, de aulas online, porque a UFC ainda está remota", conta Ricardo, que precisou pegar emprestado o notebook do cunhado para dar continuidade aos estudos.
Sorteio
Sem renda suficiente para adquirir o eletrônico, a única saída do estudante foi apelar pela ajuda de terceiros. "Resolvi acreditar na bondade das pessoas. Minha mãe disse que íamos comprar um carneiro por R$ 200 e vender as cartelas do sorteio entre amigos e familiares, inicialmente, para juntar o dinheiro do notebook", explica Ricardo.
No entanto, a promoção teve uma repercussão ainda maior depois que o estudante a publicou nas redes sociais. Conterrâneos e até pessoas de outras estados do país o procuraram para oferecer ajuda financeira, o que fez ele arrecadar o valor do notebook rapidamente.
Ainda assim, Ricardo decidiu manter o sorteio do carneiro para o dia 6 de junho. Além dos próprios estudos, a quantia excedente será empregada nas despesas com moradia e alimentação dele em Fortaleza, uma vez que o mestrado teve as bolsas de pesquisa cortadas pelo governo federal.
"Achei por bem usar todo esse dinheiro no meu mestrado, para manter aluguel e feira, porque, infelizmente, a pesquisa perdeu esse estímulo. A minha coordenadora já disse que a expectativa realmente é que não tenhamos bolsas, o que dificulta a vida do estudante de baixa renda", lamenta.
Apesar dos dilemas pessoais e no âmbito acadêmico, Ricardo diz viver um "grande sonho" e está disposto a encarar o novo ciclo. "As dificuldades são muitas, mas é preciso coragem, não podemos deixar que silenciem os nossos sonhos. Hoje eu vivo um desses, porque sempre sonhei em ajudar a sociedade através da pesquisa", reflete.