Com o objetivo de aproximar os familiares de crianças e adolescentes internados na UTI do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias), o Projeto Acalentar já realizou mais de 100 encontros virtuais desde março de 2020. A iniciativa começou por conta da pandemia do novo coronavírus, que impossibilitou a presença de acompanhantes e cancelou o horário de visitas.
A ação surgiu de um apelo dos familiares por notícias dos pacientes, informa a psicóloga residente do Albert Sanbin, Vanilla Oliveira. “Foi até uma colocação dos próprios familiares que antes estavam lá e precisaram sair para se resguardar. Nós, enquanto equipe, ficamos muito angustiados, nos inquietamos com esse sofrimento e encontramos minimamente uma solução”.
As crianças que participam precisam atingir o perfil necessário: estar acordadas, não entubadas e concordar com a chamada de vídeo. Depois do primeiro contato com o paciente, é checada a disponibilidade dos familiares e o horário é marcado. “Muitas vezes a maioria acontece no turno da tarde. Pedimos para que seja respeitada a questão da guarda da imagem da criança, para não bater print, não fotografar. Quando a gente liga, apresentamos os profissionais, colocamos o tablet no suporte e começamos a mediar”, detalha a psicóloga. Não há limite de idade para os pacientes participantes.
Emoção
O momento é descrito como “emocionante” para todas as partes envolvidas. “Toda a equipe participa, nós estimulamos essa interação com a família. É um momento de muito afeto, que acaba sendo um acalento para os profissionais também”, complementa Vanilla.
Dessa forma, os benefícios são inúmeros, desde fazer a criança ou o adolescente se sentirem mais seguros no novo ambiente, até diminuir um pouco da saudade. É o que conta Samyra Soares, 18. “Eu me senti muito feliz com a videochamada, eu estava me sentindo muito sozinha antes. Eu sempre chorava, sentia muita saudade”.
A mãe, Eurisledenia Soares, 39, relata que a filha foi infectada pelo coronavírus e ficou internada do início de junho ao fim de julho de 2020, ficando na UTI 3 por 12 dias. “No quinto dia doente, o quadro foi só piorando, ela estava com a saturação muito baixa, e no Albert Sabin ela foi direto para a UTI. Passei 12 dias sem contato com ela. A psicóloga me tranquilizou dizendo que quando ela saísse da intubação eu poderia fazer uma chamada de vídeo com ela. Naquele dia tive o maior presente do mundo, a gente ver ela viva, falando e se recuperando de uma doença. A ligação me fez levantar. É uma felicidade que eu não tenho como explicar”, relembra.
Vanilla explica que, quando internada, normalmente a criança sente uma ruptura com a sua rotina no geral, e por isso a presença da família é importante. “Existe uma quebra no cotidiano da criança. Quando existe a ruptura da figura familiar, ela também vai sentir, vai sentir medo. Quando a figura de referência para a criança não está mais e ela se vê em um ambiente estranho com pessoas diferentes, isso pode causar medo, ansiedade, isso repercute em como ela vai se sentir no hospital. Para as famílias, é amenizar essa ansiedade, essa angústia de separação que eles encontram diante da impossibilidade”.
Ampliado
A princípio, a ação atendia apenas a UTI 3 da unidade, sendo a maioria internação em decorrência da Covid-19. O Projeto Acalentar conseguiu expandir e hoje acontece também nas UTIs 1 e 2, na Unidade de Pacientes Especiais (UPE) e pelo serviço de Cuidados Paliativos do hospital. A equipe conta com psicólogos, assistente social e médica pediatra.