Na tela da incubadora da pequena Ruth Emanuelle, o recado da família é de aconchego e fé: “Mamãe e papai estão aqui orando por você”. Assim como Ruth, bebês internados na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Infantil Albert Sabin (Hias) estão recebendo recados dos familiares através do projeto “Correio do bebê”, criado para amenizar a distância entre os parentes. A iniciativa é do serviço social da unidade, juntamente com a equipe de psicologia.
Mensagens como “Meu neto da vovó, eu creio que Deus já deu sua saúde e do seus amiguinhos que se encontram com você” são exemplos enviados por mães, pais, tias e avós e cantados aos pequenos pela equipe, que posteriormente anexa o recado à incubadora da Terapia Intensiva Neonatal (CTIN).
A ideia do correio também chega em um momento de redução de visitas por causa da pandemia causada pelo novo coronavírus. Com alas já restritas, os acompanhantes, então, só voltam a ter acesso quando as crianças vão para as enfermarias.
Mãe da recém-nascida Ruth, Regina Santiago recebeu uma ligação do hospital para ver a filha, após receber alta do CTI. “No dia da chamada, eu senti uma sensação muito feliz e minha família também. Nós ficamos muito felizes e nos emocionamos bastante. Foi um alívio no meu coração porque, desde o dia que saiu de perto de mim, passavam mil e uma coisas pela minha cabeça”, define.
Segundo a assistente social Suziane Fabricio, idealizadora do projeto, o “Correio do Bebê” foi criado para aproximar as famílias, mesmo à distância. “Criamos um grupo com as mães e observei a troca de conversas entre elas. Na hora, pensei ser interessante imprimi-las e colocá-las nos bercinhos dos bebês. A mãe fica feliz, a família também e a gente se sente realizada, tendo em vista que o contexto social dessas famílias é de morar longe, famílias simples e do interior, com mãe internada também”, conta.
Efeitos positivos
A ação ocorre em conjunto com o Projeto Acalentar, que realiza videochamadas com os familiares dos pequenos internados. Para a psicóloga do Hias, Clara Arruda, a ação é simples, mas consegue se mostrar “potente” no impacto emocional. “A ação começa antes que a mensagem seja colocada no berço do bebê. É desde o momento em que as famílias são convidadas a enviar a mensagem. É um momento em que os familiares já estão fortalecendo a relação deles com o bebê. É um momento que eles pararam e refletiram sobre aquele vínculo, que está em construção”, afirma.
A profissional também cita que a equipe do hospital, com a ação, passa a perceber e saber mais sobre o histórico familiar do pequeno paciente. “Saber e reconhecer que, além de ser um paciente, é um bebê que tem uma rede de apoio inteira que gostaria de estar presente, que no momento está duplamente impedida: tanto pela ala fechada quanto pela Covid-19. É uma forma de fortalecer a relação de equipe, família e bebê”, diz.
“No momento das videochamadas, é uma oportunidade das famílias verem que as mensagens estão ali e a presença delas, de toda forma, está sendo validada e valorizada”.