Quatros cidades cearenses já receberam, em apenas dois meses de 2022, metade de todo o volume de chuva esperado para o ano inteiro. Várzea Alegre e Cariús, na região do Cariri; Uruburetama, no Litoral de Pecém; e Palmácia, no Maciço do Baturité, são os municípios que estão com o percentual pluviométrico mais avançado no comparativo com suas respectivas médias históricas.
Várzea Alegre é a cidade que está com o maior acumulado percentual. Já recebeu 506.7 milímetros de chuva de uma média histórica de 961.6 mm, ou seja, já choveu 52,7% do esperado para todo o ano.
Quando observado o volume absoluto de chuva acumulado entre janeiro e fevereiro deste ano, a cidade com maior índice é Palmácia. Foram registrados 621.8 mm, de uma média anual de 1242.2 mm, o que representa que, até o fim de fevereiro, já havia chovido 50,1% do esperado para o ano.
Esses números, na prática, apontam para um impacto positivo na economia local, uma vez que grande parte das cidades interioranas de pequeno e médio porte têm, na agricultura, grande representatividade para geração de renda.
É através da chuva que o agricultor consegue fazer brotar riqueza. Riqueza esta, que nem sempre está diretamente ligada às grandes cifras. "Ver a roça garantir o sustento da família é muito gratificante. E, com chuva, a gente consegue colher um pouco mais e vender", descreve João Agostinho. O relato do agricultor varzealegrense não ecoa solitário.
A importância dessa colheita pode ser mensurada em números. O titular da secretaria da Agricultura de Várzea Alegre, Matias Alves Bezerra Neto, aponta que cerca de 45% do PIB do Município advém da agricultura e agropecuária. "É um setor importantíssimo. E em períodos de boa chuva, como neste ano, a economia fica bastante aquecida", pontua.
As culturas predominantes no Município são do milho, feijão e arroz. Quase toda a produção excedente é escoada em feiras livres da cidade. "Isso é bom, pois significa mais dinheiro injetado e circulando em nossa economia", avalia Matias.
Para aproveitar os bons volumes, a Secretaria da Agricultura tem investido na capacitação dos agricultores, orientando-os a diversificar as culturas.
"A gente oferece capacitação especializada para que esses agricultores não fiquem em apenas uma só cultura. Orientamos e incentivamos que eles apostem na agropecuária e apicultura, por exemplo. Esse mix é benéfico para eles, para o solo e impulsiona ainda mais a economia local", finaliza Matias Alves.
"Mais dinheiro circulando na cidade"
Neste ano, com os bons índices registrados, a agricultura está tendo resultados positivos em várias cidades, como também acontece em Cariús, município cujo volume registrado até agora já representa 52% de todo o esperado para o ano.
O secretário da agricultura do Município, Antônio Augusto Filho, lembra que "a economia da cidade é basicamente pautada na agricultura, devido a inexistência de fábricas ou outro setor gerador de renda". Desta forma, completa o titular da Pasta, a chuva atua como um balizador econômico.
"Quando o 'inverno' é bom, todos ganham e não apenas o agricultor. Com a boa colheita, mais dinheiro circula no Município", diz Augusto Filho. Neste início de ano, as culturas que estão em alta no Sul do Estado são "o milho, feijão e depois a fava, nesta ordem", pontua o secretário da Agricultura.
"Diante da alta demanda de alguns alimentos, o preço sobe. Essa lei de mercado acaba beneficiando o agricultor. Aqui, por exemplo, a caixa de tomate que tem preço médio de R$ 25 reais, chegou a ser vendida por 120 reais, é mais dinheiro para as famílias do campo e mais recursos girando na cidade", detalhou Augusto.
O técnico em agropecuária e também agricultor Francisco Celso Monteiro, 47, plantou 2 hectares de milho neste ano. Em apenas dois meses, ele já vislumbra o ano com colheita recorde em seu Município.
"Tivemos muitos anos de seca e dificuldade [entre 2012 e 2017], ai começou a dar uma melhorada e o ano passado já foi bom, Mas, se continuar assim, esse ano de 2022 será ainda melhor", diz.
A manutenção desse cenário a que se refere Celso não é exclusivamente a continuidade dos bons índices pluviométricos - embora seja a mais importante.
"Tem de continuar chovendo, mas além disso, outros fatores estão ajudando. No Sul, houve estiagem e, na Bahia, seca. Isso fez crescer a demanda aqui no Ceará. A China também está exportando bastante. Então, tudo isso junto faz elevar o preço dos alimentos", explica.
Neste ano, a saca de milho está sendo vendida por R$ 95,00, confidencia o agricultor. Isso, na prática, eleva os lucros dos produtores.
"Por hectare, o agricultor familiar consegue tirar umas 40 sacas de milho, o que representa lucro de R$ 3.600". Questionado sobre qual era o valor apurado em anos de seca, Celso afirma que "era quase pagar para trabalhar".
Quando não chove, para você tirar 10 sacas é um sacrifício. É um apurado muito baixo, dá praticamente para pagar apenas os custos de produção e manter a alimentação básica da família.
Com 56 anos de idade e mais de quatro décadas dedicados à roça, a agricultora Ana de Oliveira Frutuosa também comemora "os bons ventos". Ao lado de seu esposo, o também agricultor Severino Sousa, 63, todos os dias ela vai à roça cuidar do plantio.
Esse cuidado, no entanto, está intimamente ligado à chuva. "Quando chove, tudo fica mais fácil e próspero", diz Ana. Na propriedade do casal, em Cariús, o milho foi plantado em 5 tarefas. Apesar de não ser uma área muito grande, é suficiente para garantir o sustento da familia.
"A gente vive com mais segurança quando chove. Dá pra separar uma parte [do milho] para o gado e o restante a gente vende. O apurado é bom. Tomara que continue chovendo assim", anseia.
Chuva acumulada no Ceará
De modo geral, o Estado tem 23 cidades cujo volume de chuva acumulado nos dois primeiros meses do ano já superam a marca dos 400 milímetros.
- Abaiara, Caririaçu, Granjeiro, Lavras da Mangabeira, Baixio, Várzea Alegre, Cariús, Jucás, Iguatu, Redenção, Acarape, Pacoti, Palmácia, Maranguape, Maracanaú, Aquiraz, Pindoretama, Eusébio, Fortaleza, São Gonçalo do Amarante, Umirim, Tururu e Ubajara
O mês de janeiro fechou com 64% de chuva acima da média histórica. A normal climatológica para o período é de 98,7 mm e, naquele mês, choveu 162,5 milímetros.
Em fevereiro, no entanto, o Estado teve acumulado abaixo da média histórica: choveu 64,7 mm de um total de 118,6 mm esperados.
Para os meses de março, abril e maio, a Funceme aponta a probabilidade de chuva acima da média de 20%. Há, ainda, 45% de chance de ficar em torno da média e 35% de ficar abaixo da normal climatológica.