Veja quais cidades cearenses mais receberam chuva em 2022 e saiba os impactos locais

Ao todo, 23 municípios já registram mais de 400 milímetros de chuva média acumulada no primeiro bimestre do ano

Quatros cidades cearenses já receberam, em apenas dois meses de 2022, metade de todo o volume de chuva esperado para o ano inteiro. Várzea Alegre e Cariús, na região do Cariri; Uruburetama, no Litoral de Pecém; e Palmácia, no Maciço do Baturité, são os municípios que estão com o percentual pluviométrico mais avançado no comparativo com suas respectivas médias históricas. 

Várzea Alegre é a cidade que está com o maior acumulado percentual. Já recebeu 506.7 milímetros de chuva de uma média histórica de 961.6 mm, ou seja, já choveu 52,7% do esperado para todo o ano.

Quando observado o volume absoluto de chuva acumulado entre janeiro e fevereiro deste ano, a cidade com maior índice é Palmácia. Foram registrados 621.8 mm, de uma média anual de 1242.2 mm, o que representa que, até o fim de fevereiro, já havia chovido 50,1% do esperado para o ano. 

Esses números, na prática, apontam para um impacto positivo na economia local, uma vez que grande parte das cidades interioranas de pequeno e médio porte têm, na agricultura, grande representatividade para geração de renda.

É através da chuva que o agricultor consegue fazer brotar riqueza. Riqueza esta, que nem sempre está diretamente ligada às grandes cifras. "Ver a roça garantir o sustento da família é muito gratificante. E, com chuva, a gente consegue colher um pouco mais e vender", descreve João Agostinho. O relato do agricultor varzealegrense não ecoa solitário.

A importância dessa colheita pode ser mensurada em números. O titular da secretaria da Agricultura de Várzea Alegre, Matias Alves Bezerra Neto, aponta que cerca de 45% do PIB do Município advém da agricultura e agropecuária. "É um setor importantíssimo. E em períodos de boa chuva, como neste ano, a economia fica bastante aquecida", pontua.

As culturas predominantes no Município são do milho, feijão e arroz. Quase toda a produção excedente é escoada em feiras livres da cidade. "Isso é bom, pois significa mais dinheiro injetado e circulando em nossa economia", avalia Matias.

Para aproveitar os bons volumes, a Secretaria da Agricultura tem investido na capacitação dos agricultores, orientando-os a diversificar as culturas.

"A gente oferece capacitação especializada para que esses agricultores não fiquem em apenas uma só cultura. Orientamos e incentivamos que eles apostem na agropecuária e apicultura, por exemplo. Esse mix é benéfico para eles, para o solo e impulsiona ainda mais a economia local", finaliza Matias Alves. 

"Mais dinheiro circulando na cidade"

Neste ano, com os bons índices registrados, a agricultura está tendo resultados positivos em várias cidades, como também acontece em Cariús, município cujo volume registrado até agora já representa 52% de todo o esperado para o ano.  

O secretário da agricultura do Município, Antônio Augusto Filho, lembra que "a economia da cidade é basicamente pautada na agricultura, devido a inexistência de fábricas ou outro setor gerador de renda". Desta forma, completa o titular da Pasta, a chuva atua como um balizador econômico.

"Quando o 'inverno' é bom, todos ganham e não apenas o agricultor. Com a boa colheita, mais dinheiro circula no Município", diz Augusto Filho. Neste início de ano, as culturas que estão em alta no Sul do Estado são "o milho, feijão e depois a fava, nesta ordem", pontua o secretário da Agricultura.

"Diante da alta demanda de alguns alimentos, o preço sobe. Essa lei de mercado acaba beneficiando o agricultor. Aqui, por exemplo, a caixa de tomate que tem preço médio de R$ 25 reais, chegou a ser vendida por 120 reais, é mais dinheiro para as famílias do campo e mais recursos girando na cidade", detalhou Augusto.

O técnico em agropecuária e também agricultor Francisco Celso Monteiro, 47, plantou 2 hectares de milho neste ano. Em apenas dois meses, ele já vislumbra o ano com colheita recorde em seu Município.

"Tivemos muitos anos de seca e dificuldade [entre 2012 e 2017], ai começou a dar uma melhorada e o ano passado já foi bom, Mas, se continuar assim, esse ano de 2022 será ainda melhor", diz.

A manutenção desse cenário a que se refere Celso não é exclusivamente a continuidade dos bons índices pluviométricos - embora seja a mais importante.

"Tem de continuar chovendo, mas além disso, outros fatores estão ajudando. No Sul, houve estiagem e, na Bahia, seca. Isso fez crescer a demanda aqui no Ceará. A China também está exportando bastante. Então, tudo isso junto faz elevar o preço dos alimentos", explica.

Neste ano, a saca de milho está sendo vendida por R$ 95,00, confidencia o agricultor. Isso, na prática, eleva os lucros dos produtores.

"Por hectare, o agricultor familiar consegue tirar umas 40 sacas de milho, o que representa lucro de R$ 3.600". Questionado sobre qual era o valor apurado em anos de seca, Celso afirma que "era quase pagar para trabalhar".

Quando não chove, para você tirar 10 sacas é um sacrifício. É um apurado muito baixo, dá praticamente para pagar apenas os custos de produção e manter a alimentação básica da família.
Francisco Celso
Agricultor

Com 56 anos de idade e mais de quatro décadas dedicados à roça, a agricultora Ana de Oliveira Frutuosa também comemora "os bons ventos". Ao lado de seu esposo, o também agricultor Severino Sousa, 63, todos os dias ela vai à roça cuidar do plantio.

Esse cuidado, no entanto, está intimamente ligado à chuva. "Quando chove, tudo fica mais fácil e próspero", diz Ana. Na propriedade do casal, em Cariús, o milho foi plantado em 5 tarefas. Apesar de não ser uma área muito grande, é suficiente para garantir o sustento da familia.

"A gente vive com mais segurança quando chove. Dá pra separar uma parte [do milho] para o gado e o restante a gente vende. O apurado é bom. Tomara que continue chovendo assim", anseia.

Chuva acumulada no Ceará 

De modo geral, o Estado tem 23 cidades cujo volume de chuva acumulado nos dois primeiros meses do ano já superam a marca dos 400 milímetros. 

  • Abaiara, Caririaçu, Granjeiro, Lavras da Mangabeira, Baixio, Várzea Alegre, Cariús, Jucás, Iguatu, Redenção, Acarape, Pacoti, Palmácia, Maranguape, Maracanaú, Aquiraz, Pindoretama, Eusébio, Fortaleza, São Gonçalo do Amarante, Umirim, Tururu e Ubajara

O mês de janeiro fechou com 64% de chuva acima da média histórica. A normal climatológica para o período é de 98,7 mm e, naquele mês, choveu 162,5 milímetros.

Em fevereiro, no entanto, o Estado teve acumulado abaixo da média histórica: choveu 64,7 mm de um total de 118,6 mm esperados.

Para os meses de março, abril e maio, a Funceme aponta a probabilidade de chuva acima da média de 20%. Há, ainda, 45% de chance de ficar em torno da média e 35% de ficar abaixo da normal climatológica.