Quem se desloca em Fortaleza por qualquer meio de transporte ou mesmo a pé - além de enfrentar os picos de trânsito com prejuízos para o tempo de deslocamento e risco acentuado de acidentes - tem sentido de forma mais intensa os transtornos causados pelas inúmeras e recorrentes falhas que deixam semáforos apagados ou piscando na Capital.
Em alguns cruzamentos, os problemas até são amenizados com a presença de agentes para controlar o tráfego, mas em diversos outros locais, carros que trafegam entre vias principais e secundárias da cidade disputam a vez de ir e vir, gerando incovenientes que envolvem veículos, assim como ciclistas e pedestres.
Nessa época de chuva, o cenário se agrava e a população, além de transpor os transtornos, se divide entre dúvidas como: por que há tantos semáforos apagados ou piscando nas ruas da cidade? Por que isso tem sido tão recorrente e o por que a Prefeitura não consegue resolver?
Diante desse cenário, o Diário do Nordeste entrevistou especialistas e ouviu o poder público para discutir as principais questões que envolvem as falhas de semáforos em Fortaleza.
Os problemas acontecem, principalmente, por falta de energia, pico de tensão e furto do cabeamento. O sistema de semáforos da cidade conta com 1.064 equipamentos distribuídos em ruas e avenidas. Entre os problemas comuns, o desligamento completo ou lâmpadas piscando.
As reclamações dos motoristas percorrem as avenidas José Bastos, Dom Luis, Pontes Vieira, Desembargador Moreira, 13 de Maio, Domingos Olímpio e Eduardo Girão. Você percebe sinais desligados em Fortaleza? Vote abaixo:
O semáforo fica com a lâmpada amarela piscando, no modo chamado intermitente, quando alguma pane prejudica a segurança no trânsito.
"Quando alguém rouba os cabos de uma fase vermelha, o controlador não consegue acender e falar para determinados veículos que eles não conseguem passar", explica Flávio Tapajós, engenheiro de fabricante de controladores semafóricos.
O mestrando em engenharia de transportes na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) explica sobre o cenário, mais arriscado, do fluxo verde.
A situação se estabelece quando um semáforo funciona normalmente e outro, com a lâmpada vermelha defeituosa, dá a impressão de que o fluxo de carros também pode continuar.
“Acontece mais no período das chuvas até porque, dependendo das condições elétricas, quando a emenda dos cabos fica envelhecida ou quando tem infiltração dentro da caixa de passagem, a ocorrência de curtos circuitos aumenta nesses períodos”, detalha.
Além das causas citadas, as lâmpadas podem queimar e fatores externos, como quando um veículo alto colide na fiação, podem interferir no funcionamento disso.
Em caso de falta de energia, como informou a Autarquia Municipal de Trânsito e Cidadania (AMC), o sistema de proteção acionado automaticamente evita danos no equipamento.
“Quando a operação não é normalizada de imediato, é necessária a ida de técnicos ao cruzamento para reiniciar ou providenciar alguma correção no dispositivo”, detalhou a Autarquia.
Como solucionar o problema?
Existem algumas soluções técnicas para evitar a instabilidade nos semáforos, como explica Flávio Tapajós. Cada cenário exige uma análise especializada e material para regularizar o serviço.
"Precisa ter uma manutenção preventiva, os técnicos precisam a cada semestre passar e ver o status da fiação no cruzamento e dar algum tipo de suporte se tem deteriorização", destaca.
No caso dos roubos, mudar a logística de cabeamento pode ser a saída. "As fiações podem ser enterradas em uma caixa de passagem, que é uma solução mais cara, que tem uma efetividade limitada, mas reduz bastante o furto de cabos", completa.
Pelo menos 57 semáforos apresentaram defeitos no mês de maio devido ao furto de cabeamento, conforme a AMC. O problema de segurança pública foi registrado, principalmente, no São João do Tauape, Bairro de Fátima e Serrinha.
Cerca de 32 semáforos estavam com instabilidade no funcionamento em Fortaleza na segunda-feira (6), conforme a AMC, o que representa 3% dos equipamentos. Com base nisso, a AMC considera “que evidencia que não se trata de um problema generalizado”, como informou em nota.
A AMC atua em parceria com a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) para a identificação dos criminosos. O órgão também registra boletins de ocorrência e monitora os atos criminosos em mais de 600 câmeras de vigilância.
Engarrafamentos e risco de acidentes
“Os semáforos existem para organizar o fluxo de tráfego, ainda mais com diferentes veículos ocupando o mesmo", explica Mário de Azevedo, professor do Departamento de Engenharia de Transportes da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Os transtornos por falta de sinalização são parte do trajeto do professor universitário Ivanildo da Silva, professor universitário, de 47 anos, ao buscar o filho na escola, quando passa pelas Avenidas Padre Mororó e Domingos Olímpio.
"Todos os dias, eu tenho enfrentado esse problema, porque o semáforo está desligado. Algumas vezes o pessoal da AMC estava lá controlando, mas outras não. Inclusive já teve acidentes lá por conta disso", relata.
A dificuldade acontece em trechos do Bairro de Fátima, Parquelândia e Aldeota, por onde o professor costuma observar pela cidade. “Atrapalha na lentidão e no constante perigo. A atenção tem que ser dobrada”, frisa.
Há cerca de dois meses o servidor público Vanírton Teixeira, de 37 anos, ouve os apitos dos agentes de trânsito como parte da música urbana.
O cruzamento da Avenida Eduardo Girão com a General Silva Júnior, além do trecho com a Oswaldo Studart, precisam desse suporte.
"Eles começam cedo, 6h já dá para ouvir os apitos, com os agentes de trânsito controlando o tráfego eu não sinto impactos negativos", observa.
No entanto, em momentos sem o apoio de agentes de trânsito, a situação tende a se complicar, como aconteceu há cerca de uma semana, quando um carro se chocou com um caminhão.
"Uma batida, normalmente, já atrapalha e sem os agentes de trânsito e com os sinais apagados ficou o caos. Por sorte, a batida tinha acabado de acontecer e eu passei logo, mas olhando da varanda, o engarrafamento ficou grande, lembra.
Nos dois casos a AMC aponta o furto do cabeamento como a causa da instabilidade dos semáforos. Para regularizar a situação, a Autarquia envia técnicos aos locais que fazem a reposição do equipamento.
“Este trabalho pode ser impactado pela ocorrência de chuvas, que impede a operação devido ao risco maior de descarga elétrica - exposição a que os criminosos também se submetem. A prática criminosa também confere riscos à segurança viária”, completou.
Qual a orientação quando o semáforo apaga?
A orientação aos condutores é seguir a regra geral de circulação, prevista no artigo 29 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), conforme a AMC.
Em caso de trânsito por fluxos de veículos que se cruzem em local não sinalizado, a preferência de passagem será a do veículo que vem pela direita.
“Em quaisquer situações em que os semáforos estão inoperantes, agentes e operadores de tráfego são enviados às vias e corredores com maior fluxo de veículos ou em horários de pico para controlar o trânsito e auxiliar os condutores”, destacou.
Nesses casos, todos que fazem parte do trânsito precisam adequar o trajeto para evitar situações de risco.
“Os motoristas vão tomar mais cuidado, mas vão haver atrasos, o pedestre - que é mais vulnerável - vai perder mais tempo para chegar a vez dele. Depende da organização dos próprios motoristas ou agentes de trânsito”, explica Mário de Azevedo.