Professora de arte denuncia racismo na loja Americanas em shopping de Fortaleza

A Americanas informou que atua para o fortalecimento de uma cultura antirracista; a jovem realizou boletim de ocorrência

Uma professora de artes e atriz de 32 anos diz ter sido vítima de racismo com a filha, em uma loja Americanas, no Shopping RioMar Kennedy, em Fortaleza. Conforme Yasmin Elica, ela foi abordada pela gerente da loja que a proibiu de mexer em brinquedos do local. A Americanas alegou que investigações internas estão sendo tomadas. O shopping lamentou o ocorrido. A Polícia investiga o caso.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Yasmin contou que a abordagem aconteceu na seção de brinquedos para bebês. Segundo a professora, a gerente da loja a impediu de tocar nos objetos, no último sábado (5). 

Quando entrei, vi várias pessoas mexendo. Cheguei nesse ponto da prateleira, saí tirando [os brinquedos] e falei: 'olha filha, você tinha um igual a esse'. Então, a minha filha falou: 'mãe, é verdade, só que era de outra cor'. Nesse momento, eu virei e já tava perto de mim. Então, ela disse: 'você não pode mexer, você não pode mexer'. Imediatamente larguei, eu fiquei sem entender, porque ela não tava com crachá, ela não tava com farda. Fiquei sem entender"
Yasmin Elica
professora de arte

Yasmin ainda conta que demorou para entender que estava passando por uma situação constrangedora e discriminatória. "Olhei para o outro [lado] e vi que tinha umas adolescentes mexendo nos brinquedos. Olhei para o outro lado e tinha um pessoal mexendo nos brinquedos do outro lado. Eu fiquei sem entender: 'por que eu não posso mexer?', questionou. 

Como resposta, a professora obteve que eles estariam organizando as mercadorias. Então, a gerente repetiu que ela não poderia mexer. "Perguntei por que eu não poderia mexer novamente. Ela disse estar apenas me avisando. Então, eu fui mais direta e perguntei: 'você é racista?'. Ela virou as costas e saiu andando", contou. 

Busca por ajuda

Atordoada com a situação, ela tentou buscar ajuda com outros funcionários da loja que fizeram "pouco caso" sobre o assunto. 

"Eu fiquei nervosa, entendi o que estava acontecendo, olhei para um lado, olhei para o outro, não sei se quem estava próximo, ouviu. Eu peguei minha filha e fui andando até a recepção do caixa. Eu cheguei na recepção e perguntei quem era o gerente. O rapaz apontou para a moça [que havia a constrangido]", disse. 

Uma senhora que estava também na loja ajudou Yasmin e a direcionou para uma advogada que a orientou a prestar um boletim de ocorrência e sair do local. 

Yasmin foi ao Serviço de Atendimento ao Consumidor do Shopping que a orientou a prestar uma reclamação por e-mail. No local, segundo a professora, todos foram atenciosos com ela, contudo, ela ainda não obteve resposta sobre o ocorrido. 

"Eles pediram desculpa, fiz uma reclamação formal por e-mail. Eles se mostraram o tempo todo muito solícitos, inclusive pediram desculpas, apesar de não ter sido eles e disseram que ia averiguar. Mandei o e-mail no mesmo dia de reclamação, me disseram que tinham 48 horas para me responder de volta. Hoje é sexta-feira (11), amanhã (10) faz uma semana que isso aconteceu e eu ainda não recebi resposta do shopping", contou. 

O que diz a Americanas

Questionada sobre o ocorrido, a Americanas informou que tomou ciência do caso por redes sociais e que contatou de imediato a cliente em questão para entender o ocorrido. 

"A companhia já acionou seus protocolos de investigação e está comprometida com a correta apuração dos fatos, o que norteará as providências sobre o caso. Reforça ainda que trabalha para o fortalecimento de uma cultura antirracista dentro e fora de seus ambientes", concluiu a nota.

O que diz o shopping RioMar

O RioMar, em nota, informou lamentar os fatos relatados pela cliente na loja mencionada. 

A administração também informou acompanha o caso desde o registro no nosso Serviço de Atendimento ao Cliente, fazendo a intermediação do assunto entre a cliente e o lojista responsável.

"Nós, como empresa, não aceitamos atos de racismo e sabemos da necessidade de combater tais situações", concluiu a nota.

O que diz as investigações

A Polícia Civil informou, por nota, que segue apurando uma denúncia registrada como preconceito de raça ou cor, que aconteceu no último dia 5 de agosto, em um estabelecimento comercial no bairro Presidente Kennedy.

"O caso será transferido para a Delegacia de Repressão aos Crimes por Discriminação Racial, Religiosa ou Orientação Sexual (Decrin). A PC-CE reforça a importância da vítima comparecer presencialmente na delegacia para repassar mais informações sobre o caso", concluiu a nota.