Muito além das belezas naturais, o Parque Nacional de Jericoacoara, na região Norte do Estado, guarda um potencial turístico e ambiental. Para conhecer com profundidade esse espaço, a Universidade Federal do Ceará (UFC) deve criar uma estação científica com investimento em torno de R$ 5 milhões para construção no primeiro semestre de 2024.
A ideia é produzir conhecimento científico de alta qualidade nacional e internacional com 3 focos: pesquisa na área de conservação do meio ambiente, em mudanças climáticas e no turismo sustentável. Além de estudantes da UFC, a comunidade também deve ser beneficiada com formações. O conhecimento gerado na estação pode contribuir com políticas públicas.
A estrutura será construída em um terreno cedido pelo Governo do Estado, mas ainda não há uma definição exata do lugar. Além da estação científica, o espaço deve ter um centro de visitantes e uma escola de turismo sustentável.
Marcelo Soares, professor no Instituto de Ciência do Mar (Labomar) da UFC e coordenador do projeto, explica que a estação científica será dedicada a analisar os problemas ambientais da região.
A erosão da Duna do Pôr do Sol, estrutura natural conhecida no País inteiro, e a chegada da espécie invasora chamada de peixe-leão, que se alimenta de animais nativos, estão entre os prejuízos ambientais do espaço.
"Vamos fazer pesquisas aplicadas aos problemas de Jericoacoara, como o impacto nas dunas, os resíduos sólidos, as espécies invasoras e como o turismo pode ser melhor conduzido, porque hoje acontece do ponto de vista predatório”
Em Jericoacoara é feito o turismo de Instagram: bate foto e vai embora. Não é um turismo qualificado no conhecimento, ecológico, científico e cultural
Custódio Almeida, reitor da UFC, contextualiza que já há uma parceria científica estabelecida com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), além de articulações com o Governo do Estado e o Ministério da Educação (MEC).
“Do MEC temos a indicação de um recurso para fazer a estação científica, que estamos estimando em duas etapas e tudo vai girar em torno de R$ 5 a R$ 6 milhões, incluindo laboratórios”, detalha.
O projeto arquitetônico está em fase de elaboração, conforme a Superintendência de Infraestrutura e Gestão Ambiental da UFC (UFCInfra), mas ainda é necessário o planejamento executivo para abrir a licitação da obra. Custódio busca celeridade para a construção e aponta que a ideia é começar a construção no primeiro semestre de 2024.
“A ideia é que a UFC estando lá possa fazer pesquisas sobre o mapeamento do Parque Nacional de Jericoacoara, ajudar na prevenção de danos, na preservação natural e ser um observatório permanente de como o parque está sendo utilizado”, frisa.
O reitor define a estação como uma “guardiã do Parque Nacional de Jericoacoara”, inclusive, no sentido de contribuir com informações relevantes para políticas públicas voltadas à preservação da região.
“A estação terá o papel de fazer a formação em turismo ecológico para os nossos alunos e para os turistas de forma que possamos acessá-los com informações importantes sobre um turismo que se preocupa com a sustentabilidade”, completa.
Formação ambiental
Com a estrutura, os professores universitários esperam o fortalecimento de um fluxo internacional com outros cientistas. “Toda vez que a universidade chega em um local, ela transforma a realidade socioambiental”, reflete Marcelo.
"A gente pode criar um grande centro internacional gerando eventos e um turismo muito importante por ser qualificado. A estação científica também vai ter um centro de visitantes, o que ainda não tem", projeta.
Quando estiver em funcionamento, os primeiros beneficiados devem ser os próprios estudantes de diversos cursos da UFC que poderão realizar atividades no ambiente de Jericoacoara.
“Hoje em dia existem vários cursos com aulas práticas, fora da sala de aula, e muitos estudantes da geologia, geografia, ciências biológicas e ambientais, oceanografia e arquitetura já visitam a região”, detalha o professor.
Além disso, os moradores e empreendedores da região também terão a oportunidade de obter conhecimento ambiental.
"Essa escola vai ter foco na formação profissional porque, infelizmente, lá tem muitas pessoas da região que precisam de educação profissional para línguas estrangeiras – como inglês e espanhol –, segurança alimentar para os restaurantes e do ecoturismo”, conclui Marcelo.
Contexto de Jericoacoara
O Parque Nacional de Jericoacoara está em primeiro lugar entre os parques naturais mais visitados do Norte, Nordeste e Centro-Oeste, com cerca de 1,6 milhão de visitantes anuais, conforme o monitoramento dos pesquisadores da UFC. No País, é o segundo mais procurado, perdendo apenas para o Rio de Janeiro.
Jeri fica atrás apenas do Parque Nacional da Tijuca, no Rio de Janeiro, Parque Nacional do Iguaçu, no Paraná, e do Parque Nacional da Serra da Bocaina, em São Paulo. Em todos esses lugares, há uma estrutura universitária para realização de pesquisas e um turismo ambiental.
Uma pesquisa citada pelo coordenador cearense, realizada em 2017, aponta que 84% dos visitantes de Jericoacoara não conhecem o entorno do local e as proteções ambientais estabelecidas para a região.
Conhecimento sobre a Pedra Furada, por exemplo, em relação a formação e relevância ambiental, ficam de fora dos passeios comumente realizados.
Além disso, não existe programa de educação ambiental, sendo comum os desrespeitos de turistas e moradores que jogam lixo e fazem intervenções em dunas e manguezais.
"Talvez o principal papel dessa estação seja subsidiar políticas públicas, porque os municípios de Jijoca, Cruz e Camocim não tem nenhuma universidade com esse foco", completa Marcelo Soares.