Pouco a pouco, nos próximos 3 meses, o Edifício São Pedro, em Fortaleza, será “desconstruído”. É assim que especialistas resumem o método adotado pela gestão municipal para demolir a estrutura – mais lento, mas com redução dos riscos às construções do entorno.
O Diário do Nordeste ouviu profissionais da engenharia civil para entender como deve funcionar a demolição, as vantagens e desvantagens da técnica e que medidas devem ser adotadas para minimizar os transtornos à população da Praia de Iracema.
Na manhã de terça (5), o titular da Secretaria Municipal de Infraestrutura (Seinf), Samuel Dias, detalhou que "será feito um escoramento dos primeiros pavimentos do prédio, para aumentar a segurança. Depois, ele começa a ser demolido de cima para baixo". O processo, ele estima, vai durar até 90 dias. "Como se trata de uma demolição de um prédio muito frágil, muito antigo, damos um prazo maior, mas pretendemos até encurtar esse prazo."
Eduardo Cabral, professor do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil da Universidade Federal do Ceará (UFC), avalia que “a grande vantagem deste método é que é mais econômico do que o tradicional, por implosão”.
“Usualmente, são colocadas máquinas de pequeno porte no prédio, utilizadas para demolir as lajes e depois os pilares. É como uma desconstrução. Essa técnica tem sido bastante usada em Fortaleza. A vantagem é que gera pouca interdição no entorno”, ilustra.
O professor coordena o Grupo de Pesquisa em Materiais de Construção e Estruturas (GPMATE) da UFC, que foi contratado pelos proprietários do Edifício São Pedro para avaliar as condições estruturais. Em 2018, eles condenaram o local.
A segurança da técnica de demolição a ser empregada no São Pedro é a principal vantagem da escolha, embora exija mais tempo, como analisa Fernando Galiza, presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Ceará (Crea/CE).
“Considero como o mais seguro, porque faz a demolição tirando os revestimentos, lajes e pilares, não tem risco de os detritos irem pra um local mais distante. A implosão não é insegura, mas certamente houve estudos na área para escolher a técnica”, pondera.
O engenheiro Alexandre Bertini, também professor do Departamento de Engenharia Estrutural e Construção Civil da UFC, endossa que “a implosão poderia comprometer os prédios vizinhos, e o processo deve ser feito de forma muito mais criteriosa. O serviço seria muito mais rápido, mas o custo pode ser mais elevado”.
Como reduzir os transtornos
O “quebra-quebra” mais demorado vai gerar problemas como barulho, poeira e queda de fragmentos das estruturas, sendo estes os principais ônus da técnica de demolição mais lenta.
Eduardo Cabral pontua, contudo, que são transtornos “contornáveis”, diferentemente de uma implosão, “que precisa isolar quarteirões e danifica muito o entorno”.
Na técnica adotada para demolir o São Pedro, o coordenador do GPMate e o presidente do Crea/CE indicam medidas para reduzir os impactos a quem vive ou trabalha próximo ao local:
- Utilizar telas para segurar os detritos menores, e bandejas para deter os maiores;
- Instalar umidificadores, para que a ‘poeira fina’ se una à água, aglomere e caia, não poluindo nem entrando nas casas;
- Respeitar os horários de trabalho para minimizar o incômodo causado pelos ruídos da demolição.
Eduardo destaca também que o entulho precisa ser destinado corretamente, de preferência “colocado para reciclagem e uso em pavimentação”, para que não haja danos ambientais. Ele reforça, ainda, a necessidade de seguir o plano de demolição, com o passo a passo do processo, aprovado junto ao Crea/CE.
O engenheiro Alexandre Bertini alerta para a necessidade de profissionalizar o processo de demolição e “ter sempre o acompanhamento técnico do engenheiro e de técnicos de segurança”.
De acordo com o Fernando Galiza, presidente do Crea/CE, o conselho “fiscaliza se nesses serviços haverá responsáveis técnicos com ART (Anotação de Responsabilidade Técnica) e placa no local para proteger a sociedade”.