Mutirão de cirurgias eletivas, fortalecimento da regionalização e da atenção primária. Esses devem ser os focos da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), nos próximos anos – e para atingi-los, algumas unidades de saúde de Fortaleza e do interior passarão por mudanças.
As informações são da nova titular da secretaria, a médica infectologista Tânia Mara Coelho, que concedeu entrevista ao Diário do Nordeste nessa segunda-feira (9).
Além de ter como prioridade diminuir a fila para cirurgias eletivas, que já acumula cerca de 60 mil pessoas, Tânia destaca a necessidade de ampliar a oferta de profissionais e de especialidades nos municípios mais distantes da Capital.
“Temos de levar à população do interior serviços de alta complexidade, principalmente nos nossos hospitais regionais, evitando que o paciente tenha que se deslocar uma grande distância pra ser atendido”, pondera.
Mudanças em hospitais
Nesse processo de interiorização, uma das marcas da gestão anterior, os Hospitais Regional do Vale do Jaguaribe (HRVJ) e do Sertão Central (HRSC) terão prioridade inicial.
O primeiro serviço que queremos abrir dentro do HRVJ é o de oncologia. Vamos contemplar um grande vazio assistencial. Além disso, o serviço de traumato-ortopedia: aquela região tem uma grande necessidade de atendimento a traumas.
Já no Sertão Central, a secretária afirma que será aberta uma emergência de neurologia. “Já temos o serviço de neurocirurgia, e queremos tornar a região uma referência em neurologia, diminuindo a vazão de pacientes para Fortaleza”, projeta.
Na Capital, a principal meta é finalizar e inaugurar o Hospital da Uece, no bairro Itaperi. A unidade de saúde vai ter mais de 600 leitos e incorporar os serviços do Hospital Geral César Cals (HGCC). “Vai ser referência em oncologia e transplantes pediátricos, e terá todo o serviço materno-infantil, já que o HGCC vai migrar para lá”, cita Tânia.
Outra unidade importante que terá atenção da gestão é o Hospital Geral de Fortaleza (HGF), no bairro Papicu, um dos equipamentos públicos mais procurados pela população.
“Não queremos paciente nenhum no corredor. Estamos trabalhando pra oferecer serviços no HGF e termos mais rotatividade de pacientes. É um hospital de alta complexidade, mas muitos acabam passando pela emergência para ser uma porta de entrada do serviço.”
A secretária observa que é importante fortalecer a atenção primária das cidades, sobretudo os postos de saúde, para que “a população saiba como e onde procurar atendimento”.
Recuperar coberturas vacinais
No sistema público de saúde, as prefeituras são responsáveis pela atenção primária, cujo foco é a prevenção de agravos; enquanto o tratamento deles, de maior complexidade, cabe ao Estado. O problema é que se a rede preventiva estiver fraca, sobrecarrega as demais.
“O fortalecimento da atenção primária, com a promoção de saúde e prevenção de doenças, é prioridade. Ela é básica, é a organizadora de todo o sistema de saúde”, avalia Tânia, mencionando uma atribuição fundamental dos municípios: a vacinação.
Tânia lista ainda de que forma, na prática, o Governo do Estado deve apoiar os municípios:
- Capacitação e formação de profissionais, por meio da Escola de Saúde Pública (ESP/CE);
- Ampliar a inovação, por meio do Saúde Digital, para coleta de “dados fidedignos”;
- Garantir estrutura para que municípios realizem vacinação de forma eficiente.
Sobre a imunização contra a Covid, a secretária afirma que terá reuniões “para discutir a questão da vacina bivalente”, ainda não disponível. O Ceará também aguarda a chegada de novas doses da Pfizer pediátrica para aplicação do reforço em crianças de 5 a 11 anos.
Quem é a secretária
Nome fortemente técnico, Tânia Mara Silva Coelho é médica formada pela Universidade Federal do Ceará (UFC), com residência em Infectologia e especializações em Medicina do Viajante (Royal College of Glasgow, na Escócia) e em Gestão das Clínicas (Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo).
A médica infectologista é mestranda em Saúde Pública pela UFC e acumula experiências em diferentes níveis de gestão na Sesa, sendo membra veterana da rede estadual de saúde.
Tânia foi, em momentos distintos, diretora clínica, geral e técnica do Hospital São José (HSJ), em Fortaleza. Alargando o campo de ação, foi chamada para assumir “a superintendência que coordenava todas as unidades hospitalares e ambulatoriais do Estado”, como ela relembra.
Durante a gestão Camilo/Izolda, a médica chegou a ser secretária executiva da Saúde, mas só em 2023 se tornou a segunda melhor a assumir a titularidade da Pasta.
No momento mais crítico da saúde cearense, a pandemia de Covid, Tânia coordenou o plano de contingência da crise, enquanto diretora técnica do HSJ.
Já em setembro de 2021, assumiu a Secretaria Executiva de Atenção à Saúde e Desenvolvimento Regional, “responsável por toda a assistência, desde a atenção primária à especializada”, conforme explica.
“Entro na Sesa já com o conhecimento que adquiri nesse tempo e da Pasta que eu já exercia, de atenção ao atendimento e regionalização”, conclui.