Disparando tiros de bala de borracha, agentes da Guarda Municipal de Fortaleza (GMF) dispersaram, no último sábado (4), foliões que aproveitavam festa de Pré-Carnaval na Praça General Tibúrcio, conhecida como Praça dos Leões, no Centro de Fortaleza. Em vídeos captados por parte do público, é possível observar que a ação provocou gritos e correria dos presentes.
A praça é conhecida por reunir diversas pessoas aos fins semanas, que frequentam, principalmente, o Bar Cultural Lions. Em nota, o estabelecimento detalhou que na data foi registrada uma "quantidade nunca vista de pessoas" no entorno e disse não estar de acordo com a conduta adotada pela GMF.
"Entendemos que a situação precisava ser controlada, mas não concordamos com os meios utilizados para isso. São inúmeros os vídeos que mostram a cooperação por parte dos foliões em esvaziar a praça, esses mostram também a violência descabida que foi acionada como resposta. Um olhar mais atencioso das autoridades seria o suficiente para contornar as questões que se apresentaram nas últimas semanas", diz o texto do bar.
A lotação foi confirmada pelo administrador comercial Vitor Paiva, presente no momento do episódio.
Estava muito lotado. Eu ainda estava em um local que era mais tranquilo em relação à movimentação de pessoas, mas estava muito lotado e era só chegando mais pessoas", relembra.
O número acima do comum de foliões teria provocado a operação da GMF, que afirmou ter sido acionada pela Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança (Ciops) após "ser registrada uma grande concentração de pessoas", "que ocupava as vias de maneira desordenada e impedia o deslocamento na área".
Em nota, a instituição detalhou que, devido à resistência de alguns presentes e visando desobstruir as ruas do entorno da Praça dos Leões, facilitando o tráfego na região, os agentes usaram equipamentos de baixa letalidade para dispersar o público. Ainda na nota, a organização detalha que não houve feridos.
"Primeiro, houve uns barulhos, e o rapaz que estava ao meu lado gritou: 'É bala!'. [Mas] a galera achava que era bomba e ninguém deu a mínima. [Então,] do nada, o pessoal começou a tossir e, quando olhei ao redor, começou o barulho de tiros, o pessoal correndo, tossindo e gritando 'é spray de pimenta'", conta o frequentador da praça.
O método adotado pela GMF foi criticado pelo Bar Cultural Lions, que o classificou como "violência descabida". Devido ao episódio, o bar não funcionou nesse domingo (5).
"Não somos um polo oficial do Pré-Carnaval de Fortaleza e, consequentemente, não recebemos o aparato para lidar com a quantidade nunca vista de pessoas que estão ocupando a praça. Os entornos, com vias bloqueadas por terceiros com paredões de som, fogem completamente do nosso controle e não há muito que possamos fazer nesse sentido", lamentou o bar.
Em vídeo enviado para a TV Verdes Mares, o secretário da Segurança Cidadã, Eduardo Holanda, reforçou que os guardas foram acionados e "tentaram fazer a desobstrução das vias". "Infelizmente as pessoas não cooperaram pra isso e, como é do treinamento da Guarda Municipal, nós usamos sempre equipamentos não letais. Fizemos uso desse tipo de equipamento pra garantir o retorno das pessoas e da circulação naquela área".
Nas redes sociais, a atuação da Guarda Municipal foi criticada.
'Fiquei um pouco desesperado'
O evento, que era para ter sido uma noite divertida para Vitor Paiva, acabou se tornando em experiência marcante.
Não vi ninguém que tenha se machucado, apenas o pessoal com dificuldade de respirar. Fiquei um pouco desesperado, com meus olhos ardendo. Nunca estive em um evento assim, de ter que sair por conta de spray de pimenta e balas de borrachas".
"Estamos em constante luta para que o poder público da cidade nos dê a atenção que merecemos e precisamos para continuar sendo um ponto de diversão acessível para toda a população", destacou o bar.
O Diário do Nordeste contatou a Secretaria da Cultura de Fortaleza (Secultfor) para saber se há algum plano municipal de organização e estruturação do Pré-Carnaval na Praça dos Leões, mas não houve retorno até a publicação desta matéria. O local não é um polo oficial do Ciclo Carnavalesco de Fortaleza.
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