Uma área maior do que quatro campos de futebol foi consumida pelo incêndio no Parque Estadual do Cocó, em Fortaleza. Na tarde desta sexta-feira (19), a vegetação continua sendo queimada por uma espécie de fogo subterrâneo, dificultando o combate na área que de difícil acesso.
Conhecido também como "fogo de turfa", este tipo de chama tem uma queima mais lenta e atinge uma camada abaixo do nível da superfície, e nem sempre é visível, como detalhou o coronel do Corpo de Bombeiros, Cláudio Barreto.
"O processo [de combate] é lento. [...] Esse fogo não está na superfície, é um 'fogo de turfa', ou seja, ele está debaixo da terra. Isso dificulta cada vez mais o nosso trabalho", disse à TV Verdes Mares.
Turfa é um solo característico de áreas alagadas, como as observadas em zonas de pantanal ou de mangue — caso do Parque Estadual do Cocó. Formado pelo acúmulo de galhos, folhas e raízes, por exemplo, o terreno subterrâneo é rico em matéria orgânica, como explica o professor Gabriel Nuto Nóbrega, membro do departamento de Ciências do Solo, da Universidade Federal do Ceará (UFC).
"Em ambientes alagados, como são as várzeas, algumas regiões de manguezais, por exemplo, a material orgânica se decompõe de uma maneira mais lenta. Então, possibilita o acúmulo de grande quantidade de material orgânico, sob essa condição. Então, essa turfa é justamente esse material orgânico produzido pelas plantas que estão ali no ambiente alagado, e que, por causa do alagamento, não conseguem se decompor", detalha.
Durante o período de seca, quando o nível da água reduz e a região deixa de ser alagada, a turfa fica menos úmida e, devido à quantidade de material orgânico, se torna um solo inflamável, facilitando a propagação de incêndios.
Quando você tem um momento de seca, como a gente está tendo agora, onde o lençol freático baixa e o nível do rio baixa, esse material fica exposto. Não tendo a presença de água, ele fica mais suscetível a pegar fogo. [...] São resíduos vegetais, assim como galhos, folhas. Como é um resíduo geralmente de raiz, de raiz fina, ele pega fogo muito fácil."
Além do terreno subterrâneo inflamável, outro fator que influenciou a dificuldade no combate ao incêndio no Parque Estadual do Cocó foi a localização: as chamas atingiram uma área de difícil acesso. Sem passagem para as viaturas, os agentes do Corpo de Bombeiros atuam a pé. Helicóptero e retroescavadeiras também atuam na operação para debelar o fogo.
Umidade baixa, velocidade do vento e aumento da temperatura, característica do turno vespertino, também são fatores que podem atrapalhar o trabalho da corporação, que continuava atuando no local, até o início da tarde desta sexta-feira, para extinguir as chamas.
"A expectativa é que durante o dia, a umidade tende a diminuir, a temperatura tende a aumentar, e a gente pode ter também o aumento da velocidade dos ventos. Então, todos esses fatores tendem a piorar a questão do incêndio", detalhou o capitão Fábio Plutarco à TV Verdes Mares.
Causa do incêndio no Cocó
A motivação do incêndio ainda não foi descoberta pelas autoridades. Equipes da Polícia Civil e da Perícia Forense do Estado do Ceará (Pefoce) estiveram no local, na noite dessa quinta-feira (18), para auxiliar nas investigações do caso.
O governador do Estado, Elmano de Freitas (PT), informou, por meio de publicação nas redes sociais ainda nessa quinta, que está acompanhando as operações do Corpo de Bombeiros e determinou a "apuração rigorosa sobre as causas do incêndio".